Aprovada inclusão do símbolo do autismo nas vagas especiais

por Fernanda Foggiato — publicado 17/02/2021 13h05, última modificação 31/03/2021 18h55
O plenário também concluiu votação de projeto da educação como serviço essencial e, em 1º turno, acatou alienação de lote público.
Aprovada inclusão do símbolo do autismo nas vagas especiais

Além de concluir votação de projeto referente à educação, CMC discutiu inclusão e venda de terreno. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou, na sessão desta quarta-feira (17), projeto de lei que pretende explicitar a garantia de acesso dos portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) às vagas de estacionamento, embarque e desembarque reservadas à pessoa com deficiência (PcD). A proposta é do vereador Mauro Bobato (Pode) e foi acatada em primeiro turno unânime, com 35 votos favoráveis (005.00143.2018, com o substitutivo 031.00005.2021).

A ideia é alterar a ementa e três dos cinco artigos da lei municipal 10.592/2002, que dispõe sobre as vagas de estacionamento, embarque e desembarque destinadas à PcD. A norma contempla os órgãos públicos municipais e estabelecimentos privados, além das vagas do Estacionamento Regulamentado (EstaR). Nesses locais, segundo a legislação vigente, as vagas especiais devem ser sinalizadas com o símbolo internacional de acesso (cadeira de rodas azul).

Conforme a proposta em pauta, a fita colorida, símbolo internacional do TEA, seria incluída na sinalização das vagas especiais. Para Mauro Bobato, a alteração na lei justifica-se pelo desconhecimento que muitas pessoas têm sobre os direitos da pessoa com TEA, considerada PcD pela lei federal 12.764/12.

O texto retorna à pauta, para a votação em segundo turno, na próxima segunda-feira (22). Se o projeto for confirmado pelos vereadores e sancionado pelo prefeito, a alteração na lei entrará em vigor 180 dias após a publicação no Diário Oficial do Município (DOM).

Bobato exibiu a reportagem que motivou, em 2018, o protocolo do projeto, que mostra a mãe de uma criança autista hostilizada por estacionar em uma vaga reservada à pessoa com deficiência. “Talvez a lei seja redundante, mas vai colocar mais em evidência uma pauta que eu acredito que tenha que ser debatida”, avalia o autor. Ele lembrou que as pessoas com TEA não têm traços físicos, e sim características comportamentais, como dificuldade na interação social.

Como o autismo é uma deficiência não visível, inúmeros pais sentem a dificuldade”, completou o presidente da Comissão de Acessibilidade e Direitos da Pessoa com Deficiência da CMC, Pier Petruzziello (PTB). A ignorância e a falta de educação, avaliou, “fazem com que o preconceito fique mais evidenciado”.

O autista visivelmente não tem uma deficiência, não é física. É na hora da crise, da frustração. Então existe sim essa necessidade”, declarou Flávia Francischini (PSL), mãe de um menino autista e vice-presidente da Comissão de Acessibilidade. “Que a gente consiga lutar por campanhas que nos ajudem a mostrar à sociedade que essa inclusão precisa ser feita. A criança autista é uma criança como qualquer outra."

Esse projeto agrega bastante, mas a gente precisa comunicar de forma inteligente. Não só na comunicação visual, mas para que as pessoas entendam essa necessidade”, disse o Jornalista Márcio Barros (PSD). Ele é autor de proposta em tramitação na CMC para a inclusão da fita colorida, símbolo do TEA, na entrada dos “banheiros família” dos shoppings (005.00031.2021). A ideia, defendeu o vereador, é que não haja constrangimento no uso desses espaços, independentemente da idade do autista.

Marcelo Fachinello (PSC) apontou que a lei estadual 20.043/2019 determina a inclusão do símbolo do TEA nas vagas de estacionamento preferenciais, destinadas à pessoa com deficiência, de estabelecimentos públicos e privados O prazo de 18 meses para a adequação à norma, segundo ele, termina na metade deste ano. “Acredito que a gente precise se comunicar melhor e colocar esta lei em prática, fiscalizando”, avaliou.

Também participaram do debate, em apoio à proposição, os vereadores Herivelto Oliveira (Cidadania), João da 5 Irmãos (PSL), Marcos Vieira (PDT), Osias Moraes (Republicanos), Pastor Marciano Alves (Republicanos) e Professora Josete (PT).

 Operação imobiliária

Com 34 votos favoráveis e 2 contrários, de Maria Leticia (PV) e de Renato Freitas (PT), a CMC avalizou, em primeiro turno, operação imobiliária solicitada pelo Executivo. A mensagem dispõe sobre a alienação, por meio de concorrência pública (licitação), de terreno de propriedade da Prefeitura de Curitiba, de 576 m², no bairro Uberaba (005.00140.2020). O lance mínimo será de R$ 440 mil.

Localizado no trecho final da rua Aracacu, o imóvel será licitado após manifestação de interesse feita por Júlio Roberto Barbosa. Consultados, os órgãos do Executivo disseram não ter interesse na área. Segundo a Coordenação de Projetos Arquitetônicos, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o lote tem dimensões reduzidas para receber equipamentos sociais.

Temos observado [projetos semelhantes] alguns terrenos com metragem considerável, mas não o suficiente para um equipamento público, uma creche, uma unidade de saúde. Todas as secretarias se manifestam favoráveis à venda, dizendo que não há interesse”, disse Professora Josete. “Mas fica uma observação. Numa cidade como a nossa, onde temos mais de 400 ocupações irregulares, uma fila enorme de pessoas inscritas na Cohab, eu acredito que esse tipo de terreno poderia ser destinado à habitação de interesse social. Numa metragem como essa poderiam ser construídas duas ou três casas para a população de baixa renda, que tem dificuldade de acesso à casa própria.”

 Ainda no debate da proposição, Maria Leticia questionou a validade do laudo de avaliação do imóvel, que teria vencido em dezembro passado. Já conforme Josete, o laudo atualizado é emitido no momento da venda. Segundo Renato Freitas, o voto contrário deve-se à ausência de manifestação da Procuradoria-Geral do Município e pela justificativa apresentada, de que com a alienação o terreno passará a gerar arrecadação de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) aos cofres públicos.

Projetos adiados

A pedido do líder do prefeito na Casa, Pier Petruzziello (PTB), outra mensagem do prefeito para a alienação de imóvel do Executivo, também por meio de concorrência pública, foi adiada por 10 sessões. Segundo o vereador, o projeto não tramitou pela Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização da CMC. Com 505 m², o terreno fica na rua São João, no Santa Cândida, e deve ter o lance mínimo de R$ 818 mil (005.00144.2020).

A venda foi solicitada por Vinícius Gulin, em 2018. “O imóvel não possui características para implantação de área de lazer, é desnecessário ao sistema viário e apresenta dimensões que impossibilitam a implantação de equipamentos públicos sociais”, justifica a Prefeitura de Curitiba.

A pedido do autor, Zezinho Sabará (DEM), foi adiada por uma sessão, para a próxima segunda-feira (22), a primeira votação do projeto de lei para instituir, em 25 de novembro, o Dia Municipal de Combate ao Feminicídio (005.00082.2020, com a emenda 035.00013.2020). A data, segundo o vereador, coincide com o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com a proposição, a Prefeitura de Curitiba poderá, em consonância com a Política Nacional de Combate à Violência contra a Mulher, ampliar a divulgação de informações voltadas à prevenção do crime, além de promover eventos e campanhas de conscientização. À sociedade civil organizada, o texto também sugere a realização de atividades para alertar a população e combater o feminicídio.

Em redação final, a CMC aprovou o projeto de lei que inclui a educação, por meio das aulas presenciais nas redes pública e privada, no rol dos serviços essenciais em Curitiba durante a pandemia da Covid-19. Também foi realizada, na sessão desta quarta, a segunda Tribuna Livre deste ano. A convite da Comissão Executiva, o espaço democrático de debates da Câmara Municipal de Curitiba apresentou o Fevereiro Laranja, que pretende alertar à leucemia e incentivar a doação de medula óssea.

As sessões plenárias têm transmissão ao vivo pelos canais da CMC no YouTube, no Facebook e no Twitter.