Setembro Amarelo: campanha de prevenção ao suicídio foi tema da Live da CMC

por Pedritta Morais — publicado 17/09/2021 17h15, última modificação 12/10/2021 00h07
Debate reuniu a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL), o psiquiatra Glauber Kaio e a psicóloga Priscila Nascimento.
Setembro Amarelo: campanha de prevenção ao suicídio foi tema da Live da CMC

A live também contou com a participação de Vitória, uma estudante de 13 anos que relatou sua experiência com depressão e automutilação. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC).

Com o depoimento corajoso da estudante Vitória sobre bullying, depressão e automutilação, a Live da CMC no Instagram desta quinta-feira (16) abordou a Campanha Internacional de Combate ao Suicídio e Valorização da Vida, Setembro Amarelo. Mediado pela jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), Michelle Stival da Rocha, o debate contou com a participação de Glauber Kaio, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), da psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), Priscila Nascimento, e da vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL).

Vitória tem 13 anos e relatou como ter buscado o apoio da mãe a ajudou a evitar com que pudesse chegar a tentar tirar sua própria vida. Segundo a estudante, desde pequena sofria bullying na escola e no próprio condomínio onde mora e a pandemia, que a levou a se isolar em casa junto com a família, agravou o quadro depressivo e de ansiedade, que a levou a se automutilar. Quando chegou ao ponto de pensar em suicídio, a jovem procurou a família e contou o que estava vivendo.

Os momentos ruins com os colegas da escola, relatou a adolescente, se intensificaram no isolamento em casa, e revivê-los fez com que ela passasse a “sentir dor, como se tudo pesasse”. “Às vezes a gente não quer contato físico, só quer ficar quieto. Hoje tenho 10 marcas no total no braço. Mas tem pessoas que tem muito mais”, disse, ao alertar que muitas crianças, adolescentes e adultos vivenciam situações semelhantes à sua, ainda mais graves. Ela procurou ajuda médica depois de outros dois episódios de automutilação que ocorreram mesmo após relatar à família sobre suas dores físicas e emocionais. “No final deu tudo certo, eles [meus pais] me ajudaram bastante, minha família toda apoiou. E deu tudo certo.”

Segundo o psiquiatra Glauber Kaio, a história da menina é “exemplo de superação que serve para várias pessoas” que passam ou podem passar pelo mesmo problema. O especialista – que esteve na Tribuna Livre desta semana também para falar sobre suicídio – explicou que muitas pessoas que estão “ou depressivas ou muito ansiosas” têm, na mente, que conseguem superar esse transtorno mental sozinhas e não procuram ajuda. Falar sobre o problema é necessário e fundamental para que o quadro psíquico não se agrave e não leve a pessoa a tentar tirar a própria vida, obtendo êxito ou não.

Quando a pessoa procurar alguém para falar sobre o que está vivenciando ou a dor que está sentindo, essa escuta, alertou a psicóloga Priscila Nascimento, deve ser sem preconceitos e sem respostas “tóxico positivas”. “Como ajudar pessoas com tendências suicidas? Como ajudar uma pessoa que está em sofrimento? É dando espaço e legitimidade para aquilo que ela diz: ‘eu tô mal’, ‘eu tô triste’. Quando há fala do tipo ‘você está sendo pessimista’, isso é tirar a legitimidade disso. É como se fizesse a pessoa minimizar, recuar, se retrair”, orientou.

Não dar legitimidade àquilo que a pessoa sente ou sofre pode levar ao isolamento e à problemas ainda mais graves, atestou a especialista. “Mais de 95% dos casos de suicídio são de pessoas que já tentaram suicídio e que apresentam um transtorno mental. [Isso ocorre] porque há a dificuldade da pessoa em reconhecer que tem transtorno mental e, por isso, ela demorar a procurar ajuda”, complementou o vice-presidente da APPSIQ.

Outros fatores de risco
O psiquiatra ainda atentou para a gravidade de frases como “me sinto um fardo”, “não tenho mais razão para viver”, “quero sumir”, “quero dormir e não quero acordar mais”, “minha dor nunca vai passar”, “vou me matar”, que não devem ser desconsideradas por quem as ouvi-las. Também são sinais de um potencial suicida comportamentos como isolamento social, abandono de atividades, ações imprudentes, sono desregulado, situações de despedida e aumento do uso de álcool ou drogas.

Já Priscila Nascimento completou que aspectos individuais de uma pessoa podem favorecer à tentativa de suicídio, como a história de sua vida ou como se deu a construção de suas relações sociais. O atual momento pandêmico que o mundo vivencia também é um fator que deve ser considerado. “Estudos científicos apontam que há uma variável que crises econômicas influenciam em quadros psíquicos, que podem evoluir para suicídio. Desemprego, por exemplo, faz com que pessoas têm comportamentos impulsivos, como abuso de álcool, que traz transtornos psiquiátricos e podem evoluir a isso”, explicou.

Abuso sexual
Com experiência de 35 anos na Polícia Militar e no atendimento de ocorrências relacionadas à abuso e exploração sexual infantil e de suicídios, a vereadora Sargento Tânia Guerreiro contou que, ao longo de sua carreira, atendeu casos em que vítimas – tanto menores de idade quanto adultos – que tentaram tirar a própria vida, conseguindo ou não, sofreram abusos como esses. Traumas deste tipo levam as pessoas a pensar em se matar como única saída, analisou. Como exemplo, ela citou uma ocorrência em que a criança que se suicidou deixou uma carta explicando que não aguentava mais ser abusada pelo próprio pai.

"Problema do abuso sexual da criança e do adolescente é a raiz de muitos problemas, porque internaliza, atinge a alma da pessoa, que procura de outras formas se livrar daquilo e não consegue”, emendou a parlamentar, que há 30 anos é palestrante no combate à pedofilia e é autora de quatro manuais sobre como prevenir o abuso sexual, dirigidos aos pais, aos professores, aos policiais e às crianças e adolescentes, para que não se tornem vítimas.

Na sua opinião, a prevenção ao suicídio deve passar por campanhas de conscientização que mostrem a essas vítimas que apesar dos traumas vivenciados ou dos abusos que vêm sofrendo no momento, isso “não é o fim”. Essa campanha, emendou Glauber Kaio, tem que ser feita de uma forma que dê segurança para que a pessoa que foi vítima de abuso sexual na infância ou ainda o é possa se abrir, seja com um profissional da saúde, uma autoridade policial ou um familiar.

Para assistir a live, com duração de pouco mais de 1h20, acesse o Instagram da CMC.

Palácio Iluminado e Tribuna Livre
A CMC deu início às ações do Setembro Amarelo no começo do mês, quando o Palácio Rio Branco, que é sede do Poder Legislativo da capital, foi iluminado com a cor da campanha e permanecerá assim até o dia 30. O objetivo é chamar a atenção da população que passa pelo entorno do Legislativo sobre a necessidade de cuidar da sua saúde mental, para que gestos extremos de socorro, como o suicídio, possam ser prevenidos.

Além da iluminação cênica do palácio, a Câmara de Curitiba recebeu, na Tribuna Livre desta semana, a presença do psiquiatra Glauber Kaio. Na sessão da quarta-feira, o vice-presidente da ASPPSIQ explicou aos vereadores, servidores do Legislativo e população que acompanhou o debate pelas redes sociais os principais fatores de risco que levam uma pessoa a tirar sua própria ou pensar nisso.

Setembro Amarelo
A campanha de conscientização do Setembro Amarelo visa a prevenção ao suicídio, de forma a incentivar a busca por ajuda, o olhar atento aos sinais de pessoas à sua volta e a valorização da vida. Segundo os organizadores, a ideia é utilizar a cor amarela para pintar, iluminar e estampar mais visibilidade à causa. Se você está passando por um momento difícil ou conhece alguém que está, peça ajuda, encontre mais informações a respeito aqui. Entre em contato também por meio do número de telefone 188, que faz atendimento 24 horas, para todo o território nacional.

Série de livestreams
A série de livestreams (transmissões ao vivo) no perfil do Instagram da Câmara sobre o trabalho legislativo estreou no dia 29 de julho, com a participação da Frente Parlamentar do Retorno Seguro às Aulas. Na próxima quinta-feira (12), o debate será sobre a campanha Agosto Lilás, de conscientização sobre a violência doméstica. Estão confirmadas as participações das vereadoras Maria Leticia (PV) e Carol Dartora (PT), respectivamente procuradora da Mulher e procuradora-adjunta da Mulher no Legislativo. Osias Moraes (Republicanos), vereador que tem forte atuação na área, também estará na live.

O formato de live do Instagram permite que os espectadores interajam, em tempo real, com comentários e perguntas. A série deverá fluir de acordo com os temas em pauta no Legislativo, além da disponibilidade de vereadores e outros participantes. Por isso, para não perder nenhuma, siga o perfil da CMC no Instagram e fique por dentro de tudo que está acontecendo.