Curitiba de Volta ao Centro: vereadores aprovam 11 emendas ao projeto

por José Lázaro Jr. | Revisão: Gabriel Kummer* — publicado 15/12/2025 17h20, última modificação 15/12/2025 17h29
Debate em plenário ajustou o texto do programa com regras para incentivos, moradia, transparência, cultura e controle social.
Curitiba de Volta ao Centro: vereadores aprovam 11 emendas ao projeto

Debate do projeto e das emendas durou quase três horas na Câmara de Curitiba. (Foto: Kim Tolentino/CMC)

A aprovação, em primeiro turno, do Programa Curitiba de Volta ao Centro pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC), nesta segunda-feira (15), foi acompanhada da análise e aprovação de 11 emendas que ajustaram o texto original do Executivo. As alterações reforçam critérios técnicos, ampliam mecanismos de transparência e controle legislativo, delimitam o uso de incentivos urbanísticos e fiscais, fortalecem a política habitacional, incorporam a dimensão cultural e introduzem salvaguardas para evitar processos de gentrificação. As emendas foram construídas a partir de acordos entre base e oposição e debatidas uma a uma em plenário.

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Critérios técnicos e segurança jurídica nos incentivos urbanísticos


Uma das emendas centrais aprovadas estabelece critérios objetivos para a concessão de coeficiente adicional não oneroso em empreendimentos de Habitação de Interesse Social (HIS) e hotelaria no Setor Especial da Região Central (035.00027.2025), de autoria da vereadora Indiara Barbosa (Novo). Ao defender a proposta, a parlamentar afirmou que o objetivo foi reduzir a dependência excessiva de regulamentação por decreto. “É importante que alguns critérios estejam na própria lei, garantindo segurança jurídica, isonomia e previsibilidade para quem pretende investir no Centro”, explicou.

O líder do Governo, Serginho do Posto (PSD), encaminhou voto favorável. “A inclusão desses incisos qualifica a redação e marca a participação do Legislativo na construção do projeto, sem descaracterizar a proposta original do Executivo”, afirmou.

Também foram aprovadas emendas que detalham o papel urbanístico dos Setores de Transição, de autoria da vereadora Laís Leão (PDT) e do vereador Serginho do Posto (034.00122.2025). Segundo Laís Leão, a medida reduz incertezas jurídicas. “Trouxemos para o texto legal informações que já existiam no zoneamento, evitando que tudo fique dependente de decreto”, disse. 

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Transparência e acompanhamento pela Câmara

Outro eixo do debate envolveu o reforço da transparência e do controle legislativo. A Câmara aprovou a criação de um relatório anual obrigatório ao Legislativo, detalhando renúncias fiscais, subvenções concedidas e empreendimentos beneficiados pelo programa (032.00097.2025), de autoria conjunta de Indiara Barbosa (Novo), Serginho do Posto (PSD), Olimpio Araujo Junior (PL), Giorgia Prates (PT), João Bettega (União), João da 5 Irmãos (MDB), Leonidas Dias (Pode), Hernani (Republicanos) e Zezinho Sabará (PSD).

Ao defender a emenda, Indiara Barbosa afirmou que o objetivo é permitir acompanhamento contínuo. “Dessa forma, a Comissão de Economia pode avaliar o impacto fiscal e a correspondência entre incentivos e intervenções realizadas”, disse. A vereadora Camila Gonda (PSB) destacou que a proposta supre uma lacuna do texto original. “Não havia um mecanismo específico de acompanhamento legislativo. A emenda fortalece a fiscalização do gasto público”, afirmou. Serginho do Posto concordou e lembrou que o Município já presta contas periódicas. “Esse relatório se soma a outros instrumentos de controle que a Prefeitura já envia à Câmara”, declarou.

Também foi aprovada a exigência de publicação dos diagnósticos técnicos do Ippuc que embasam a definição de atividades e incentivos nos eixos e setores do programa (034.00119.2025), de autoria da vereadora Laís Leão (PDT). Para ela, trata-se de uma emenda de transparência. “Garantimos que esses estudos estejam disponíveis em plataforma acessível, permitindo o acompanhamento pela população”, afirmou. 

Habitação, locação social e limites aos incentivos

O plenário aprovou emendas voltadas à proteção da moradia permanente no Centro. Uma delas define que aluguel por temporada e hospedagem de curta duração em condomínios residenciais não se caracterizam como uso hoteleiro para fins da lei, impedindo o acesso desse tipo de atividade aos incentivos do programa (032.00091.2025), de autoria da vereadora Laís Leão (PDT). “A intenção é evitar que subvenções públicas sejam usadas para aluguel por temporada”, explicou a parlamentar.

Na mesma linha, os vereadores aprovaram a substituição do termo “aluguel social” por “locação social”, em emenda de autoria de Giorgia Prates (PT), Camila Gonda (PSB), Professora Angela (PSOL), Vanda de Assis (PT) e Angelo Vanhoni (PT). Para Giorgia Prates, a mudança é conceitual e prática. “A locação social garante moradia subsidiada em áreas centrais e permite uma política habitacional mais sustentável”, afirmou (034.00125.2025).

Outra emenda direciona explicitamente subvenções econômicas a empreendimentos de Habitação de Interesse Social, inclusive os realizados em parceria com a Cohab (034.00102.2025), de autoria de Giorgia Prates (PT), Angelo Vanhoni (PT), Camila Gonda (PSB), Professora Angela (PSOL) e Vanda de Assis (PT). “A proposta não amplia gastos, apenas orienta a destinação dos recursos já previstos, reforçando o caráter social do programa”, disse Camila Gonda. 

Finalidade social, cultura e prevenção da gentrificação

As emendas aprovadas também condicionam a concessão de subvenções econômicas à demonstração de finalidade social e interesse público (034.00116.2025), de autoria de Vanda de Assis (PT), Angelo Vanhoni (PT), Camila Gonda (PSB), Giorgia Prates (PT) e Professora Angela (PSOL). Para Vanda de Assis, o objetivo é evitar desvios. “As subvenções precisam estar claramente vinculadas a benefícios mensuráveis para a sociedade”, afirmou. Serginho do Posto concordou que o acréscimo “torna o inciso mais completo e seguro”.

No campo cultural, foi aprovada a inclusão explícita da produção e difusão de expressões culturais e artísticas e do fortalecimento da identidade cultural no conceito de Centro Criativo (034.00123.2025), de autoria da vereadora Camila Gonda (PSB). Segundo ela, a emenda corrige uma lacuna do texto original. “A cultura não pode aparecer apenas como atividade econômica; ela é elemento estruturante de uma cidade viva”, disse.

Por fim, os vereadores aprovaram uma emenda que incorpora, nas diretrizes gerais do programa, a preocupação com a permanência de moradores atuais e a prevenção de processos de gentrificação (034.00128.2025), de autoria conjunta de Camila Gonda (PSB) e Laís Leão (PDT). “Queremos assegurar que quem já mora no Centro não seja expulso pelas dinâmicas urbanas”, afirmou Camila Gonda. Laís Leão acrescentou que a inclusão do tema nas diretrizes fortalece o compromisso social do projeto.

Com a aprovação das emendas, o projeto do Curitiba de Volta ao Centro segue para votação em segundo turno no plenário da CMC, já incorporando os ajustes negociados entre base e oposição ao longo do debate.

Emendas aprovadas ao Programa Curitiba de Volta ao Centro

EmendaAutoriaTipoO que muda na proposta original
035.00027.2025 Indiara Barbosa (Novo) Substitutiva Substitui integralmente o art. 14 para fixar critérios objetivos em lei para concessão de coeficiente adicional não oneroso (até 2,0) para HIS e hotelaria, reduzindo dependência de regulamentação por decreto.
032.00091.2025 Laís Leão (PDT) Aditiva Define que aluguel por temporada e hospedagem de curta duração em condomínios residenciais não configuram uso hoteleiro, impedindo acesso a incentivos voltados à moradia permanente.
032.00097.2025 Indiara Barbosa (Novo), Serginho do Posto (PSD), Olimpio Araujo Junior (PL), Giorgia Prates (PT), João Bettega (União), João da 5 Irmãos (MDB), Leonidas Dias (Pode), Hernani (Republicanos), Zezinho Sabará (PSD) Aditiva Obriga o Executivo a enviar relatório anual à Comissão de Economia, detalhando renúncias fiscais, subvenções e empreendimentos beneficiados, criando mecanismo permanente de controle legislativo.
032.00099.2025 Guilherme Kilter (Novo) Aditiva Estende a isenção de taxas de licenciamento também a obras já concluídas ou em fase final que ainda não possuam CVCO, esclarecendo lacuna do texto original.
034.00102.2025 Giorgia Prates (PT), Angelo Vanhoni (PT), Camila Gonda (PSB), Professora Angela (PSOL), Vanda de Assis (PT) Modificativa Direciona subvenções econômicas para empreendimentos de Habitação de Interesse Social, inclusive os realizados em parceria com a Cohab, sem ampliação de gastos.
034.00116.2025 Vanda de Assis (PT), Angelo Vanhoni (PT), Camila Gonda (PSB), Giorgia Prates (PT), Professora Angela (PSOL) Modificativa Condiciona a concessão de subvenções econômicas à comprovação de finalidade social e interesse público, restringindo o uso de recursos públicos.
034.00119.2025 Laís Leão (PDT) Modificativa Determina a publicação dos diagnósticos técnicos do IPPUC que fundamentam eixos, setores e incentivos do programa, ampliando transparência e controle social.
034.00122.2025 Laís Leão (PDT) e Serginho do Posto (PSD) Modificativa Detalha em lei a função urbanística dos Setores de Transição (ST-01 a ST-04), explicitando seu papel de integração e mitigação de impactos entre o núcleo central e os bairros.
034.00123.2025 Camila Gonda (PSB) Modificativa Reforça o conceito de Centro Criativo, incluindo explicitamente a produção e difusão cultural e artística e o fortalecimento da identidade cultural.
034.00125.2025 Giorgia Prates (PT), Camila Gonda (PSB), Professora Angela (PSOL), Vanda de Assis (PT), Angelo Vanhoni (PT) Modificativa Substitui o termo “aluguel social” por “locação social”, alinhando o programa a uma política habitacional estruturante, com gestão pública e caráter permanente.
034.00128.2025 Camila Gonda (PSB) e Laís Leão (PDT) Modificativa

Inclui, nas diretrizes do programa, a preocupação com a permanência dos moradores atuais e a prevenção de processos de gentrificação.