Câmara aprova, em 1º turno, texto-base do Programa Curitiba de Volta ao Centro

por José Lázaro Jr. | Revisão: Gabriel Kummer* — publicado 15/12/2025 15h35, última modificação 15/12/2025 18h32
Foram protocoladas 34 emendas ao projeto da Prefeitura de Curitiba, das quais 12 foram mantidas após diálogo dos vereadores com técnicos do Executivo.
Câmara aprova, em 1º turno, texto-base do Programa Curitiba de Volta ao Centro

Líder do Governo, Serginho do Posto defendeu o voto favorável no programa Curitiba de Volta ao Centro. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Com 28 votos favoráveis e 1 abstenção, nesta segunda-feira (15), os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovaram, em primeiro turno, a criação do programa do Executivo que incentiva retrofit, restauro e novas construções na Região Central da capital do Paraná. Com a criação do Programa Curitiba de Volta ao Centro, a gestão Eduardo Pimentel prevê até R$ 163 milhões em benefícios para estimular habitação e usos mistos nesses imóveis, que serão em parte viabilizados pela Prefeitura de Curitiba via estímulos fiscais com validade até 2032.

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Bastante extenso, o Programa Curitiba de Volta ao Centro delimita o Setor Especial da Região Central (SERC) e organiza o território em setores temáticos, eixos de requalificação e áreas estratégicas, do Setor de Baixa Emissão ao entorno da Rodoferroviária, para orientar o uso dos incentivos e a aplicação dos instrumentos urbanísticos. O projeto ressalta que esses recortes permitem calibrar políticas públicas conforme o perfil de cada área, viabilizando ações de retrofit, preservação do patrimônio e estímulo econômico (002.00024.2025).

Na Câmara de Curitiba, diversos vereadores debateram o projeto de lei no início da tarde desta segunda-feira. Durante a manhã, em reuniões com técnicos do Executivo, com a presença do líder do Governo, Serginho do Posto (PSD), foram retiradas 22 das 34 emendas inicialmente protocoladas à iniciativa, sobrando 12 para votação em plenário. Participaram do debate, além do parlamentar, Rafaela Lupion (PSD), Indiara Barbosa (Novo), Camilla Gonda (PSB), Eder Borges (PL), Giorgia Prates - Mandata Preta (PT), Vanda de Assis (PT) e Professora Angela (PSOL).

>> Incentivos urbanos e proteção social pautam debate sobre o Centro de Curitiba

Programa Curitiba de Volta ao Centro tem 15 objetivos programáticos

O projeto aprovado hoje, em primeiro turno, estabelece um conjunto de 15 objetivos que funcionam como o eixo estruturante da política para o Centro. Entre eles estão propostas voltadas a ampliar a presença de moradores na região, diversificar usos e modernizar edificações, reunidas no eixo Morar no Centro; e iniciativas para reforçar a sensação de segurança, como o Centro Seguro e o Centro Iluminado, que tratam de policiamento, prevenção e modernização da iluminação pública com tecnologia embarcada. Também compõem essa base ações voltadas à proteção social, reunidas em Centro Acolhedor, e medidas para ampliar oportunidades de estudo, qualificação e renda, previstas no Centro Inclusivo.

Outro conjunto de objetivos dedica-se à mobilidade e à experiência urbana, reunindo diretrizes como Centro Acessível, que estimula a intermodalidade e o transporte público, e Centro a Pé, que reforça a conectividade por meio de melhorias em calçadas, acessibilidade e mobilidade ativa. A modernização e a manutenção do ambiente construído aparecem em Centro Bem Cuidado, enquanto Centro Sustentável estimula reciclagem, energia renovável e educação ambiental. Já Centro Verde e Azul foca a ampliação de áreas verdes, drenagem urbana e recuperação de recursos hídricos, criando condições para um Centro mais agradável, permeável e resiliente.

O programa também contempla objetivos voltados à cultura, ao patrimônio e à economia. Memória do Centro trata da preservação e do uso qualificado dos imóveis históricos, enquanto Centro Criativo incentiva turismo inteligente, economia criativa e fortalecimento da identidade cultural. A digitalização de serviços e soluções tecnológicas está reunida em Centro Inteligente, e iniciativas ligadas ao bem-estar aparecem em Centro Saudável, com foco em esporte e lazer. Por fim, Vem Pro Centro busca impulsionar a atividade econômica, facilitar a abertura de novos negócios e gerar emprego, conectando a revitalização urbana à dinamização econômica.

Delimitação do Setor Especial da Região Central e seus eixos

O projeto de lei complementar define o Setor Especial da Região Central (SERC) como área prioritária da política de requalificação e o subdivide em setores específicos: Setor de Baixa Emissão, Setor Histórico de Baixa Emissão, Setor Rodoferroviária e quatro setores de transição. Acrescenta ainda os eixos XV de Novembro, Barão–Riachuelo, Teatro Guaíra–São Francisco–Jaime Reis e Saldanha Marinho, cada um com vocações culturais, turísticas ou comerciais distintas. A delimitação orienta onde poderão ocorrer retrofit, restauro e incentivos, trazendo previsibilidade para investidores e permitindo que moradores e comerciantes entendam o que pode ser transformado no seu entorno. O projeto ainda autoriza a criação de novos setores e eixos por decreto, desde que amparados em estudos técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). 

Instrumentos urbanísticos: retrofit, restauro e novos parâmetros

Dos instrumentos urbanísticos previstos no Programa Curitiba de Volta ao Centro, o principal é o retrofit de edificações, entendido não apenas como reforma, mas como uma estratégia de recuperar, atualizar e dar nova função a prédios antigos que hoje estão vazios ou subutilizados. Ao permitir a modernização das instalações, a reorganização dos espaços internos e a reconversão de usos, especialmente para moradia, o projeto busca transformar edifícios ociosos em lugares ativos, iluminados e habitados, aumentando a circulação de pessoas e fortalecendo o comércio de rua.

A proposta também prevê mecanismos específicos para imóveis de valor ambiental e cultural, oferecendo incentivos que tornem viável sua preservação e, ao mesmo tempo, sua reinserção no cotidiano da cidade. Isso evita que prédios históricos permaneçam abandonados ou apenas parcialmente utilizados, permitindo que se tornem centros culturais, espaços comerciais, empreendimentos hoteleiros ou residenciais compatíveis com sua ambiência. De forma complementar, o texto regula a transferência do direito de construir, vinculando-a a imóveis protegidos dentro do Centro.

Outro conjunto de ferramentas diz respeito aos parâmetros de construção, que podem ser flexibilizados ou ampliados em situações específicas. Ao autorizar ajustes em vagas de estacionamento, áreas de recreação, afastamentos laterais e potencial construtivo, o projeto reduz entraves que historicamente inviabilizam a requalificação de prédios antigos. Isso facilita que empreendimentos residenciais ou de uso misto sejam entregues com mais rapidez, menor custo e melhor adaptação ao tecido urbano existente. 

Incentivos fiscais e subvenções: efeitos para moradores, proprietários e comércio

O pacote de incentivos previsto no projeto, com validade até 2032, combina medidas fiscais, construtivas e econômicas voltadas a estimular obras de requalificação. Propriedades em retrofit ou restauro poderão contar com isenção total de IPTU durante obras, reduções permanentes após a conclusão e remissão de dívidas anteriores para quem assumir compromissos de restauração. Essas medidas podem destravar empreendimentos parados e reduzir o custo final das obras, refletindo em mais moradias ofertadas e maior vitalidade econômica.

A proposta também inclui subvenções diretas, que podem cobrir até 25% das despesas de demolição e reconstrução de edifícios de relevante interesse urbanístico, e até 50% para revitalização de áreas comerciais térreas, com impacto direto para comerciantes e consumidores. A redução de ISS para obras e a isenção para autônomos instalados no Centro reforçam o pacote de estímulo econômico. Segundo a justificativa, os incentivos foram concebidos para “promover a recuperação da vitalidade do Centro”, articulando preservação, dinamização econômica e responsabilidade fiscal. Isto totaliza a estimativa de R$ 163 milhões até 2032, com R$ 133 milhões em renúncias fiscais e R$ 30 milhões destinados a subvenções diretas.

Confira as oportunidades elencadas pelo Programa Curitiba de Volta ao Centro:

CategoriaBenefícioQuem pode acessarPercentual / Redução / TipoPrazo de vigênciaCondições principais
Subvenções Econômicas Apoio financeiro para retrofit, demolição, requalificação ou novas construções Proprietários ou locatários autorizados Até 25% do custo da obra 5 anos após a publicação da lei Imóvel no SERC; relevância urbanística; plano urbanístico; contrapartidas; fiscalização
Subvenções Econômicas — Comércio térreo Apoio financeiro para revitalização de áreas comerciais Proprietários ou locatários autorizados Até 50% do custo da obra 5 anos após a publicação da lei Setor comercial definido como prioritário; externalidades positivas para a região
IPTU — Obras em andamento Isenção durante execução de retrofit ou restauro Proprietários de imóveis no SERC 100% de isenção Até 31/12/2028 Obra enquadrada como retrofit/restauro; requerimento ao Município
IPTU — Patrimônio restaurado Isenção após restauro concluído Imóveis do Patrimônio Ambiental Cultural 100% de isenção Até 31/12/2032 Obra concluída e aceita pelo Município
IPTU — Retrofit concluído (uso não residencial) Redução após conclusão de retrofit Prédios retrofitados com uso não habitacional 50% de redução Até 31/12/2028 Retrofit concluído e regularizado
IPTU — Retrofit concluído (uso habitacional, misto ou hoteleiro) Redução após conclusão de retrofit Prédios retrofitados com uso habitacional, misto ou hoteleiro 50% de redução Até 31/12/2032 Retrofit concluído e regularizado
IPTU — Habitação de Interesse Social Isenção total Órgãos públicos ou entidades de HIS 100% de isenção Até 31/12/2032 Empreendimento em parceria com a COHAB-CT ou órgão equivalente
ITBI — Moradia pós-retrofit (fila COHAB) Isenção do imposto para primeiro adquirente Adquirentes cadastrados na fila da COHAB-CT Isento Até 31/12/2032 Unidade em prédio retrofitado; primeiro registro de transmissão
ITBI — Faixa até 3 salários mínimos Alíquota reduzida Famílias com renda de até 3 salários mínimos 1% Até 31/12/2032 Unidade em prédio retrofitado; primeiro adquirente
ITBI — Faixa entre 3 e 6 salários mínimos Alíquota reduzida Famílias com renda entre 3 e 6 salários mínimos 2% Até 31/12/2032 Unidade em prédio retrofitado; primeiro adquirente
Remissão de IPTU antigo Perdão da dívida acumulada até 2020 Proprietários de imóveis no SERC Remissão limitada ao valor da obra Sem data específica na lei Compromisso de obra de recuperação; aceitação da obra pelo Município
Suspensão da cobrança durante a obra Suspensão temporária da exigibilidade da dívida Proprietários com remissão vinculada a obra Suspensão total da cobrança Durante a execução da obra Válida para créditos que serão objeto de remissão
ISS Fixo — Autônomos Isenção do ISS Fixo Profissionais autônomos estabelecidos no SERC Isento Até 31/12/2032 Requerimento e comprovação de estabelecimento na área
ISS — Construção civil Redução da alíquota de ISS Empresas e profissionais de construção civil 60% de redução Até 31/12/2032 Obra enquadrada como retrofit ou restauro, nos termos da lei
Taxas de licenciamento Isenção de taxas administrativas de licenciamento Proprietários e responsáveis técnicos Isento Enquanto durar a política Obra enquadrada na lei do programa
Condição resolutória Perda automática do benefício em caso de descumprimento Todos os beneficiários Cobrança retroativa integral dos tributos Regra permanente Descumprimento de qualquer requisito legal ou regulamentar
Vedação de restituição Proibição de reembolso de valores já pagos Todos os beneficiários Sem restituição Regra permanente Aplica-se a todos os incentivos previstos na lei

*Notícia revisada pelo estudante de Letras Gabriel Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques