CMC rejeita projeto para vedar higienização da calçada com água potável

por Fernanda Foggiato — publicado 08/06/2021 16h37, última modificação 08/06/2021 16h37
De iniciativa do vereador Dalton Borba, a proposta de lei foi votada em 1º turno. A pauta desta semana tem temática alusiva ao meio ambiente.
CMC rejeita projeto para vedar higienização da calçada com água potável

Dalton Borba lamentou o resultado: “Perdemos uma grande oportunidade”. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Após um debate com quase três horas de duração e a participação de 20 dos 38 vereadores, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) rejeitou, nesta terça-feira (8), projeto de lei para vedar o uso de água potável na higienização de calçadas. Proposta por Dalton Borba (PDT), a matéria teve 21 votos contrários, 8 favoráveis e 7 abstenções (005.00010.2020). O autor havia acatado sugestão para suprimir, em segundo turno, a multa de R$ 250. 

O projeto chegou a entrar na pauta do plenário, em maio, mas foi adiado a pedido de Dalton Borba, por nove sessões. O texto define água potável como “aquela apropriada para o consumo humano”. A proibição seria incluída na lei municipal 10.785/2003, que dispõe sobre o Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações (PURAE). 

O autor argumentou que a proposta não tratava da “indústria da multa” ou uma “guerra de classes”. “Acho que quem perdeu foi a população de Curitiba. Perdemos uma grande oportunidade de criarmos uma cultura do uso responsável de um bem finito e de uso universal”, lamentou. “Á água é o grande desafio dos nossos tempos atuais. Não é do futuro, é de hoje. [Temos] a crise elétrica se aproximando, a segunda onda da crise da água potável. O assunto é muito sério.” 

Para Dalton Borba, a higienização das calçadas poderia ser feita com o reaproveitamento da água da chuva e da máquina de lavar roupa, por exemplo. A fiscalização da lei, em sua avaliação, não traria impacto financeiro ao Município, podendo ser executada por meio do convênio com a Polícia Militar do Paraná (PM-PR), durante o policiamento ostensivo. 

A crise hídrica atual, com revezamento no abastecimento de água da capital há mais um ano, é reflexo da estiagem que se arrasta desde julho de 2019. No debate da proposição, os vereadores destacaram a agenda ambiental e o mérito do projeto. No entanto, discordaram sobre a multa, a fiscalização e a aplicabilidade da lei. Para Amália Tortato (Novo), por exemplo, seria mais eficiente promover campanhas educativas. 

Não é a lei que vai mudar a cultura”, completou Indiara Barbosa (Novo). Líder do prefeito, Pier Petruzziello (PTB) declarou o contrário, mas apoiou o debate sobre o consumo consciente da água. Para ele, a lei não teria efetividade “na ponta”. Na avaliação de Renato Freitas (PT), as famílias pobres são a parte mais vulnerável” à fiscalização, o que reforçaria a desigualdade social. 

No meu modo de ver, o que precisamos é de educação. Para que o projeto seja aprovado, basta retirar a multa”, defendeu Denian Couto (Pode), favorável à fiscalização “instrutiva”, sem a punição. Marcelo Fachinello (PSC) propôs emenda para substituir o termo “água potável” por “água fornecida pela rede pública”. Segundo ele, essa é a terminologia adotada por cidades onde a lei já foi aprovada. 

Cada gota conta”, apoiou Professor Euler (MDB), outro defensor da supressão da multa em segundo turno. Professora Josete (PT) disse que a retirada da multa, “desproporcional” ao poder aquisitivo da maior parte da população, era importante. Para ela, no entanto, o debate sobre a crise hídrica seria muito mais amplo. 

Borba concordou com a supressão da multa, mediante um “cadastro de controle deste tipo de conduta, para que a gente possa ter pelo menos um parâmetro de acompanhamento, para sabermos se estamos evoluindo”. Também havia acatado a proposta de Fachinello. 

A presidente da Comissão de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Assuntos Metropolitanos da CMC, Maria Leticia (PV), avaliou que “tirar a multa torna o projeto mais palatável. Mas acho que a multa não é o problema para a prefeitura, o problema é como fiscalizar”. “A crise hídrica há muito deixou de ser um papo de quem se diz sustentável”, complementou. 

A grande mudança passa pela educação. Também acredito em políticas que tenham continuidade. Não acredito ser esse o caminho [multa], mas precisamos ter alternativas, ações que possam realmente trazer soluções a esse problema da questão da água”, ponderou Marcos Vieira (PDT). Na opinião de Noemia Rocha (MDB), “então precisamos revogar as outras leis que têm multa também”. 

O presidente da Câmara, Tico Kuzma (Pros), lembrou que a sugestão para que a pauta desta semana fosse alusiva ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, partiu de Dalton Borba. Em segundo turno, os vereadores aprovaram, nesta terça, a nova política ambiental de Curitiba. Outros dois projetos tiveram a votação adiada para esta quarta-feira (9). 

Também participaram do debate os vereadores Alexandre Leprevost (Solidariedade), Eder Borges (PSD), Ezequias Barros (PMB), Herivelto Oliveira (Cidadania), João da 5 Irmãos (PSL), Oscalino do Povo (PP) e Salles do Fazendinha (DC).

 

As sessões plenárias têm transmissão ao vivo pelos canais da CMC no YouTube, no Facebook e no Twitter.