Vereadores confirmam mudança na Lei dos Artistas de Rua

por Marcio Silva publicado 10/12/2025 11h50, última modificação 10/12/2025 11h50
Projeto de lei para evitar manifestações com nudez ou com conotação sexual explícita em Curitiba segue para sanção do Poder Executivo.
Vereadores confirmam mudança na Lei dos Artistas de Rua

Para João Bettega, a proposta legislativa protege direitos das crianças e adolescentes, especialmente em espaços públicos. (Foto: Júlia Schneider/CMC)

Os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovaram, nesta terça-feira (9) - em votação definitiva - projeto de lei de João Bettega (União) que modifica a lei municipal 14.701/2015, que rege as apresentações de artistas de rua em Curitiba. O objetivo da proposta é evitar a realização de manifestações com nudez ou com conotação sexual explícita, tanto em espaços públicos da cidade quanto em ambientes abertos à circulação de pessoas. O texto foi aprovado com ampla maioria (22 votos sim e 5 votos não) e agora segue para sanção ou veto do prefeito Eduardo Pimentel.

A redação para a votação em segundo turno estabelece que eventuais infratores da norma estarão sujeitos às “sanções cabíveis, inclusive, se necessária, à cassação da permissão, conforme regulamentação do Poder Executivo” (005.00042.2025). Conforme João Bettega, a proposta de lei é uma resposta à performance realizada na Rua XV de Novembro, em setembro do ano passado, durante a Bienal Internacional do Cabaret (BIC).

Na votação em primeiro turno, na segunda (8), quando o texto passou com 25 votos favoráveis e 4 contrários, houve longo debate em plenário sobre o assunto. Além do autor, outros vereadores que apoiaram a iniciativa rebateram críticas de que a norma poderia ser considerada censura, pois apenas limitaria o uso do espaço público para proteger crianças e o público em geral; que apresentações consideradas inadequadas deveriam ocorrer em locais fechados e com classificação etária, para preservar “valores familiares e o senso comum”.

Já parlamentares contrários argumentaram, entre outros pontos, que as medidas vão sim configurar censura prévia, além de violarem a liberdade de expressão artística; que já existem leis para coibir eventuais excessos, o que tornaria a regra desnecessária; que a normativa utiliza conceitos subjetivos e pode gerar perseguição aos artistas e “patrulhamento cultural”, além de impactos negativos em manifestações populares como o Carnaval.

Manifestações durante a segunda votação

Nesta terça (9), João Bettega voltou a utilizar a tribuna para pedir a aprovação de sua proposta e exibiu novamente vídeo da performance realizada na Rua XV de Novembro, sobre a qual teceu uma série de críticas, entre elas a de ter gerado “constrangimento à população” e por, segundo ele, ter sido financiada com recursos públicos. Além disso, o parlamentar reforçou a necessidade de proteger crianças e adolescentes de "conteúdos inadequados" em ambientes de livre circulação.

Bettega afirmou que seu projeto busca equilibrar o incentivo à cultura com a responsabilidade no uso do dinheiro do contribuinte e o respeito às famílias curitibanas. O vereador ressaltou que reconhece a importância da arte para a cidade, mas defendeu a necessidade de critérios claros para apresentações em vias públicas. Segundo ele, uma das apresentações citadas teria custado cerca de R$ 150 mil em recursos públicos, valor que, na sua avaliação, deveria ser direcionado a outras ações culturais.

O parlamentar agradeceu aos vereadores que votaram favoravelmente ao projeto em primeiro turno e classificou a proposta como uma pauta conservadora relevante para a cidade. Ele também destacou que a matéria passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e por outras comissões temáticas, sendo considerada constitucional. “A Constituição protege crianças e adolescentes, e esse projeto busca garantir esse direito em espaços públicos”, afirmou. Durante o debate, os vereadores Tiago Zeglin (MDB) e Sargento Tânia Guerreiro (Pode) manifestaram concordância com a iniciativa.

“Todos os conservadores do Brasil estão olhando para Curitiba hoje, para a aprovação desse projeto. E deixo bem claro que Curitiba tem que valorizar o artista, tem que flexibilizar a boa arte. Curitiba é referência no teatro, em várias modalidades de arte, e imagino que nós precisamos continuar defendendo os artistas de bem, aqueles artistas que não desrespeitam o povo, muito menos utilizando dinheiro público para cometer esse tipo de desrespeito”, finalizou.

Utilidade Pública à Federação de Breaking é aprovada em segunda votação

Outra proposição aprovada em última votação é a que concede a Utilidade Pública para a Federação Paranaense de Breaking (014.00058.2025), por iniciativa do vereador João da 5 irmãos (MDB). O texto foi aprovado com unanimidade (23 votos favoráveis). A Utilidade Pública é um documento emitido pelo Poder Legislativo que reconhece os serviços prestados por uma entidade para a coletividade curitibana e auxilia no processo de realização de convênios, parcerias e obtenção de recursos junto ao Poder Público.

Conforme explicado pelo vereador na sessão de segunda (8), quando a matéria foi aprovada em primeira votação, a Federação Paranaense de Breaking foi fundada em 2023 com a missão de desenvolver, valorizar e promover a prática da dança, tanto como atividade física, quanto como valor cultural. “Além disso, a Federação realiza aulas gratuitas em diferentes regiões de Curitiba, dando oportunidade e acesso ao esporte e à cultura para todos os cidadãos”, explicou João da 5 irmãos.