Mudança na Lei dos Artistas de Rua passa em 1º turno

por Fernanda Foggiato | Revisão: Gabriel Kummer* — publicado 08/12/2025 16h35, última modificação 08/12/2025 17h00
Projeto de lei pretende evitar manifestações com nudez ou com conotação sexual explícita em Curitiba.
Mudança na Lei dos Artistas de Rua passa em 1º turno

Iniciativa foi defendida pelo autor, João Bettega: “O objetivo, acima de tudo, é preservar a inocência das crianças”. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Nesta segunda-feira (8), em primeiro turno, o Plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou projeto de lei com o objetivo de evitar manifestações com nudez ou com conotação sexual explícita, tanto em espaços públicos da cidade quanto em ambientes abertos à circulação de pessoas. O autor, João Bettega (União), disse que a proposta foi motivada por performance na Rua XV de Novembro, em setembro do ano passado, durante a Bienal Internacional do Cabaret (BIC).

O projeto, na prática, pretende acrescentar dispositivos à lei municipal 14.701/2025, que rege as apresentações de artistas de rua em Curitiba, e evitar as manifestações públicas de nudez ou com conotação sexual explícita, “em observância às normas de convivência social, ao respeito à coletividade e às disposições da legislação vigente”. Com 25 votos favoráveis e 4 contrários, a matéria retorna à Ordem do Dia, na sessão desta terça (9), para a confirmação em Plenário.

O texto submetido à deliberação foi o substitutivo geral protocolado por Bettega no fim de novembro. A nova redação aponta que o infrator ficará sujeito às “sanções cabíveis, inclusive, se necessária, à cassação da permissão, conforme regulamentação do Poder Executivo” (031.00328.2025)Já o projeto original, protocolado em janeiro deste ano, previa a suspensão imediata da permissão, em caso de descumprimento da norma (005.00042.2025).

A iniciativa também recebeu uma subemenda, aprovada por 24 votos a 4. A proposição diz que a mudança na Lei dos Artistas de Rua começará a valer a partir de sua publicação no Diário Oficial (036.00058.2025). 

“Não se trata de censura”, diz autor

Durante o debate da iniciativa, Bettega argumentou que “não se trata de censura”. Citando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outras normativas, o vereador disse que “todos os artistas têm liberdade para realizar os espetáculos que bem entendem”, mas não em espaços públicos, por onde circulam crianças, jovens menores de idade e idosos, em horário escolar. Ele definiu o caso de setembro passado como um “show de promiscuidade no meio da rua, um show de safadeza”

“Se é para fazer este tipo de espetáculo, que seja realizado em ambiente fechado, para maiores de idade, [para] pessoas que vão porque têm o livre arbítrio de assistir. No meio da rua, para criança assistir, não pode”, defendeu João Bettega. “O objetivo, acima de tudo, é preservar a inocência das crianças.”

“Se o Oil Man podia andar só de sunga na rua, qual é a grande diferença para uma intervenção artística? A nudez já é expressamente proibida”, questionou a vereadora Professora Angela (PSOL). Ela avaliou que a proposta seria “censura travestida de moralismo” e ainda alertou para eventual “patrulhamento cultural” durante o Carnaval de Curitiba e outras manifestações. Para a parlamentar, as crianças precisam ser defendidas “da violência, do racismo, da fome, da desigualdade”. “Defendemos, sim, a proteção das crianças. Mas proteger não significa apagar o corpo humano da arte, muito menos transformar artistas em alvo de perseguição”, declarou. 

Na sequência, a vereadora Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) concordou que a alteração da lei poderá impactar o Carnaval. Ela argumentou que a prática de ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público é crime previsto no artigo 233 do Código Penal. “Já existem leis para assegurar a liberdade de expressão e aquilo que extrapola", afirmou. “Eu quero só me ater ao que é constitucional e inconstitucional. Aqui, no caso, é um projeto que a Projuris [Procuradoria Jurídica], em síntese, já colocou que é censura prévia, usurpa competência penal da União, viola a liberdade de expressão artística, [que] é vago, subjetivo e inaplicável, é desproporcional e configura excesso de poder legislativo”, complementou Prates em relação à instrução jurídica.  

Fernando Klinger (PL), por sua vez,  ponderou que “a pessoa que vai no Carnaval já tem a ideia de como é uma apresentação”. O grande debate, pontuou, foi quanto ao local da apresentação, conflitando com o senso comum, “uma das diretrizes da nossa sociedade”. “Não é tolher a arte, de forma alguma, mas a gente tem espaços que o cidadão quer se apresentar, ele vai lá.”

“Se você quer ver baixaria, você pode ver baixaria. Aqui nós não estamos tratando de puritanismo”, alegou Eder Borges (PL). “No meio da Rua XV, para todo mundo ver, as pessoas não têm escolha, e ninguém é obrigado”, prosseguiu. O projeto de lei também ganhou o apoio de Guilherme Kilter (Novo): “Nós temos, sim, que proteger a inocência das nossas crianças”. “Não foram só as crianças. Trabalhadores, idosos, todos ficaram horripilados com aquela cena bizarra. Curitiba não pode normalizar esse tipo de comportamento. Para que isso não aconteça nunca mais, meu voto é favorável”, observou Renan Ceschin (Pode).

“Eu gostaria de dizer que eu não sou contrário à cultura, mas apresentações como essa não têm nada a ver com cultura, tem a ver com depravação, com libertinagem”, opinou Olimpio Araujo Junior (PL). “Hoje é um marco para nossa bancada de direita da Câmara, vamos pautar projetos conservadores”, comemorou Bettega. “Se isso é arte, então eu sou muito ignorante. Isso, pra mim, é uma aberração”, continuou a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (Pode).

“Pela família, pelo bem, pelo que é certo, votamos favorável, [...] acho que essa apresentação caberia num teatro”, avaliou Sidnei Toaldo (PRD). A vereadora Delegada Tathiana Guzella (União) concordou que “há lugares apropriados para tudo”, com a devida classificação indicativa. Camilla Gonda (PSB), na sequência, justificou o voto contrário, reforçando seu posicionamento na CCJ. “Nós temos uma Constituição Federal que nos rege”, citou.

“Eu quero dizer que nós somos a favor da liberdade, mas, de jeito nenhum, da libertinagem”, continuou Bruno Secco (Republicanos). “Nós temos que ser a cidade reconhecida por acabar com isso”, declarou Da Costa (União), também em apoio ao projeto de lei em pauta. “Não sou contra a cultura”, disse João da 5 Irmãos (MDB), para quem “tem lugar pra tudo”.

*Notícia revisada pelo estudante de Letras Gabriel Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques