Hemobanco pede apoio da Câmara de Curitiba no incentivo à doação de sangue

por José Lázaro Jr. | Revisão: Gabriel Kummer* — publicado 10/12/2025 11h45, última modificação 10/12/2025 14h21
Na Tribuna Livre, o diretor do Hemobanco, Paulo de Almeida, apresentou dados, tratamentos e desafios da hemoterapia em Curitiba.
Hemobanco pede apoio da Câmara de Curitiba no incentivo à doação de sangue

Diretor do Hemobanco, o médico Paulo Tadeu Rodrigues de Almeida falou na Tribuna Livre da CMC. (Fotos: Carlos Costa/CMC)

A Tribuna Livre desta quarta-feira (10), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), discutiu a importância da doação de sangue, doação de medula óssea e as pesquisas desenvolvidas pelo Hemobanco. O vereador Jasson Goulart (Republicanos), propositor da sessão, enfatizou a urgência do tema no fim do ano, período associado ao aumento de acidentes. Ele afirmou que “hoje nós vamos falar de transfusão, doação de medula óssea, doação de sangue”, destacando que a presença do diretor do Hemobanco na CMC simboliza uma homenagem a quem “ajudou a salvar vidas e fez um trabalho científico importante na época da pandemia” (076.00040.2025).

Jasson Goulart ressaltou o impacto social do trabalho do médico Paulo Tadeu Rodrigues de Almeida, à frente do Hemobanco do Grupo Vita, afirmando que “cada bolsa de sangue coletada com segurança, cada protocolo implantado é resultado de liderança, estudo constante e muita responsabilidade”. Ele também registrou que o profissional “honra Curitiba e o Paraná”, reforçando o compromisso do Legislativo em apoiar debates de saúde pública. O vereador relembrou ainda que a atuação do convidado não se limita ao ambiente clínico, mas influencia diretamente políticas de humanização e segurança transfusional.

Trabalho do Hemobanco e cultura de doação em Curitiba

Em sua participação na Tribuna Livre, o médico Paulo de Almeida apresentou dados sobre a evolução dos bancos de sangue e da hemoterapia no Paraná. Ele destacou a transformação estrutural e profissional das equipes desde os anos 1980, quando menos de 2% dos funcionários possuíam curso superior, até a realidade atual, com metade do quadro qualificado. Segundo ele, “você investe nas pessoas para que elas prestem um serviço melhor à sociedade”, indicando que a melhoria da formação técnica impactou diretamente a segurança de transfusões e transplantes.

O médico também mostrou que Curitiba desenvolveu uma cultura sólida de doação espontânea. “No Brasil, 30% das pessoas que doam voltam a doar; Curitiba tem um recorde há muitos anos: 75%”, afirmou. Ele explicou que programas de fidelização, comunicação direta com doadores e melhoria no atendimento contribuíram para esse resultado. “Você só volta num local se for bem tratado”, disse, elogiando a equipe que mantém o acolhimento e a qualidade do serviço no Hemobanco. Desde a década de 1970, mais de 1,4 milhão de doações permitiram quase 4 milhões de transfusões no estado.

Plasma convalescente e Covid-19: experiência do Hemobanco

Ao relatar as experiências durante a pandemia, o médico explicou como o Hemobanco adaptou protocolos internacionais ao contexto brasileiro. A equipe utilizou, inicialmente, o plasma de pessoas curadas, seguindo referência de procedimentos empregados em África durante o surto de Ebola. Ele afirmou que “quando você pegava o indivíduo com Covid e ele entrava na UTI e não fazia isso, 95% das pessoas morriam; quando fazia isso, este 95% baixou pra 40%”, demonstrando o impacto da técnica na sobrevida de pacientes graves.

O convidado relatou também o desenvolvimento da plasmaférese aplicada a pacientes que recebiam anticorpos saudáveis enquanto retirava o plasma comprometido pela infecção. Segundo ele, a combinação das duas estratégias ajudou a mudar o prognóstico de muitos pacientes, inclusive de autoridades locais, como o atual secretário municipal de Segurança Alimentar, Leverci Silveira Filho. Além disso, destacou a colaboração entre equipes públicas e privadas durante a pandemia, afirmando que “quem é beneficiado é o paciente” e que, especialmente em crises sanitárias, “a iniciativa privada e a pública precisam trabalhar em conjunto”.

Vereadores reforçam apoio à doação de sangue em Curitiba

A primeira manifestação foi da vereadora Laís Leão (PDT), que sublinhou a relevância científica da Tribuna Livre. Ela criticou a desinformação sobre vacinas e reforçou a importância de debates baseados em evidências. Em suas palavras: “É muito importante ter o senhor aqui trazendo esses pontos, trazendo a importância da doação e dos tratamentos, especialmente quando ainda enfrentamos debates sobre a eficácia das vacinas e a ciência”. Laís pediu ainda esclarecimentos didáticos sobre diferenças entre doação de sangue, plaquetas e plasma.

A segunda manifestação foi da vereadora Rafaela Lupion (PSD), que ressaltou o papel do Hemobanco como referência estadual. Ela afirmou: “Cumprimento o doutor Paulo Tadeu pela explanação, pelo trabalho realizado junto ao Hemobanco, uma referência na nossa capital, orgulho do Paraná”. A parlamentar também destacou a atuação do Legislativo em campanhas de saúde: “colocamo-nos à disposição para somar nessa causa tão importante e ampliar a conscientização da população”.

A vereadora Carlise Kwiatkowski (PL) relatou sua experiência acompanhando familiares que necessitam de transfusões. Em sua fala, destacou a angústia de quem depende da solidariedade de desconhecidos. “Quem já teve alguém hospitalizado sabe a importância do Hemobanco”, afirmou. Ela perguntou quando os doadores são dispensados e como a população pode acompanhar quais tipos sanguíneos estão em falta.

A vereadora Sargento Tânia Guerreiro (Pode) apresentou questionamentos sobre a validade dos hemocomponentes e a possibilidade de direcionar uma doação para uma pessoa específica. Ela indagou: “o sangue pode ficar armazenado por quanto tempo? É possível doar exclusivamente para alguém, mesmo havendo outra pessoa que precise mais?”. Também sugeriu políticas municipais de incentivo à doação, afirmando que benefícios públicos poderiam estimular novos doadores.

A vereadora Meri Martins (Republicanos) abordou restrições para doação impostas a pessoas que moraram no exterior. “Por que pessoas que viveram em outros países ficam impossibilitadas de doar sangue?”, questionou, relatando caso pessoal: “Eu recebi plasma quando tive queimaduras [...] e agradeço porque alguém doou e pôde salvar minha vida”.

O vereador Marcos Vieira (PDT) lembrou antigas ações de coleta externa e perguntou se ainda ocorrem mutirões nos bairros. “Lembro que havia mutirões e coletas descentralizadas; isso ainda existe ou está tudo centralizado?”, indagou. Ele reforçou a necessidade de ampliar o acesso à doação em diversas regiões da cidade.

Respondendo aos parlamentares, o diretor do Hemobanco explicou que hemácias têm validade de 45 dias e plaquetas duram apenas cinco, o que exige frequência constante de doações. Ele descreveu a aférese como técnica capaz de permitir doações semanais de plaquetas e destacou o programa de sangue fenotipado, que identifica doadores compatíveis com casos raros. Sobre doação dirigida, afirmou: “em algumas situações, especialmente familiares, ela é possível e recomendada”.

Quanto a impedimentos internacionais, esclareceu que regras sobre países com risco de malária ou doença da vaca louca já foram atualizadas: “Muitas coisas mudaram; hoje, quem viajou para a Inglaterra pode doar sem problema algum”. Em relação à coleta externa, afirmou que a prática ainda existe, mas que a logística tornou-se mais eficiente com o transporte de grupos de doadores até as unidades de coleta.

Paulo de Almeida  destacou que a chance de dois irmãos serem compatíveis, na necessidade de uma doação de medula óssea, é de apenas 25% e que muitos cadastros tornam-se inutilizáveis por falta de atualização de endereço ou contato. Segundo ele, “hoje, a forma mais fácil é por aférese: duas a três horas, está feito, doou a medula que está no sangue e vai embora”. O médico destacou ainda que cerca de 60% dos transplantes têm sucesso, reforçando que ampliar o número de doadores aumenta significativamente as chances de salvar vidas.


*Notícia revisada pelo estudante de Letras Gabriel Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques