Movimento Lixo Zero propõe certificação ambiental à CMC

por José Lázaro Jr. | Revisão: Celso Kummer* — publicado 22/10/2025 13h55, última modificação 22/10/2025 22h50
Representante do Paraná Lixo Zero defendeu metas para compostagem, valorização de catadores e certificação da CMC como exemplo de sustentabilidade pública.
Movimento Lixo Zero propõe certificação ambiental à CMC

Tribuna Livre recebeu a coordenadora do Movimento Lixo Zero, Flávia Sotto Maior. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

“O conceito Lixo Zero é mais do que ambiental; é social, econômico e de saúde pública. O que chamamos de lixo é, na verdade, um conjunto de resíduos mal encaminhados, que poderiam voltar ao ciclo produtivo”, explicou a representante do Movimento Paraná Lixo Zero, Flávia Sotto Maior, nesta quarta-feira (22), na Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC).

Durante sua fala, Flávia Sotto Maior defendeu que Curitiba adote metas para reduzir o envio de resíduos a aterros sanitários, inspirando-se em modelos aplicados em cidades como Florianópolis, São Francisco e Paris. Ela veio à CMC, convidada pela vereadora Laís Leão (PDT), para uma fala sobre políticas de redução de resíduos e compostagem, no contexto da Semana Paraná Lixo Zero 2025.

A representante do Movimento Paraná Lixo Zero propôs que a CMC se torne o primeiro órgão público do Paraná certificado como Lixo Zero, a exemplo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, já reconhecida nacionalmente pelo selo de sustentabilidade.

Compostagem e descentralização da gestão de resíduos

Flávia Sotto Maior apresentou os avanços do movimento no estado, que hoje conta com mais de 150 ações cadastradas em 46 municípios. Ela ressaltou que a descentralização da gestão dos resíduos é o caminho para reduzir custos e emissões de gases. “Curitiba e mais 25 cidades enviam diariamente toneladas de resíduos para Fazenda Rio Grande. Estamos transportando o problema, e não resolvendo”, observou.

Segundo a especialista, o custo público com transporte de resíduos é elevado e pode ser reduzido com estações regionais de compostagem e cooperativas estruturadas. Ela citou o caso de Marialva (PR), onde a cooperativa local faz a triagem de recicláveis e orgânicos e é remunerada pelo serviço. “Se o Município paga para aterrar, também deve pagar para compostar e reciclar. Isso é gestão pública inteligente e econômica”, acrescentou.

A vereadora Laís Leão reforçou o argumento, destacando a urgência de se repensar o modelo de envio quase integral dos resíduos a aterros. “Curitiba tem tradição em políticas ambientais, mas precisamos avançar nas práticas de compostagem e no incentivo à educação ambiental”, afirmou. Ela anunciou ainda o início da tramitação de um projeto de lei sobre compostagem doméstica e institucional e propôs uma emenda coletiva ao Instituto Lixo Zero para apoiar ações de conscientização na cidade.

Valorização dos catadores e cultura ambiental

Durante os questionamentos, vereadores de diferentes bancadas abordaram o papel das cooperativas de reciclagem, a inclusão social e as soluções locais para o reaproveitamento dos resíduos. Sidnei Toaldo (PRD) e Indiara Barbosa (Novo) enfatizaram o exemplo que o poder público deve dar na separação correta dos materiais e na ampliação da coleta seletiva. Marcos Vieira (PDT) propôs que as dez regionais de Curitiba tenham pontos de compostagem em Curitiba, reduzindo custos com transporte e fortalecendo a economia local.

As vereadoras Professora Angela (PSOL) e Vanda de Assis (PT) defenderam a valorização das catadoras e dos catadores e o reconhecimento do serviço que prestam à cidade. Para Angela, o conceito de Lixo Zero “também passa por justiça social”, e Vanda complementou que é preciso “criar formas de remuneração e fiscalização para quem produz, descarta e reaproveita resíduos”. Flávia concordou, afirmando que a remuneração justa deve ser tratada como política pública.

Andressa Bianchessi (União) relatou experiências de compostagem comunitária em condomínios, e defendeu campanhas de educação ambiental que envolvam também os agricultores na reutilização dos resíduos orgânicos. Serginho do Posto (PSD) destacou que a transformação cultural é o principal desafio para uma cidade Lixo Zero, enquanto Camilla Gonda (PSB) lembrou que as grandes empresas devem ser responsabilizadas pelo ciclo de vida das embalagens.

Ao ser questionada por Meri Martins (Republicanos) sobre as ações voltadas às novas gerações, Flávia explicou que o programa Composta Paraná já capacitou mais de 100 escolas, e que as crianças têm papel fundamental na transformação cultural. “Quando trabalhamos nas escolas, percebemos que as novas gerações já entendem o que é compostagem e o impacto do descarte incorreto. São elas que ensinam os adultos”, afirmou.

Compromisso da Câmara e novas metas ambientais

Encerrando a sessão, o presidente Tico Kuzma (PSD) elogiou a iniciativa e anunciou o compromisso de tornar a Câmara de Curitiba a primeira instituição pública do Paraná a obter certificação Lixo Zero. “Queremos que o Legislativo curitibano seja exemplo de sustentabilidade, começando pela nossa própria casa. Vamos consolidar essa meta também no projeto do novo complexo da Câmara”, declarou.

O presidente informou que já estão em andamento ações internas, como o uso de copos biodegradáveis e a ampliação da coleta seletiva, e que as futuras instalações da Câmara deverão adotar padrões construtivos sustentáveis, com gestão eficiente de energia, resíduos e água.

Ao final, Flávia Sotto Maior agradeceu o apoio e reiterou a importância de transformar a pauta ambiental em política pública permanente. “A compostagem é uma solução prática, eficiente e urgente. Cada resíduo que deixamos de enterrar é um passo para o futuro sustentável que queremos para Curitiba”, concluiu, sendo aplaudida pelos presentes.

*Notícia revisada pelo estudante de Letras Celso Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques