Câmara sedia abertura da 4ª Semana da Sustentabilidade

por João Cândido Martins de Oliveira Santos | Revisão: Ricardo Marques — publicado 02/06/2023 14h45, última modificação 02/06/2023 14h51
Semana Sam, evento criado pela agência de sustentabilidade Mãozinha Verde é realizado desde 2019, com a participação de diversas entidades.
Câmara sedia abertura da 4ª Semana da Sustentabilidade

A Câmara Municipal de Curitiba promoveu uma audiência pública para realizar a abertura da 4ª Semana da Sustentabilidade, Acessibilidade e Mobilidade Urbana. Iniciativa foi de Dalton Borba. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Nesta quinta-feira (1), a Câmara Municipal de Curitiba promoveu uma solenidade para inaugurar a 4ª Semana da Sustentabilidade, Acessibilidade e Mobilidade Urbana (Semana Sam), que nesta edição tem o tema “Inovação Inclusiva e Sustentável”. A audiência pública, que teve momentos de homenagens, foi proposta pelo vereador Dalton Borba (PDT). O parlamentar lembrou que a Semana foi instituída pela lei municipal 15.549/19, por iniciativa da vereadora Maria Letícia (PV), tendo sido idealizada como evento anual alusivo aos Objetivos da Sustentabilidade (ODS Agenda 2030), com ações de divulgação de conhecimentos a respeito dos temas ambientais.

Compuseram a mesa: vereador Dalton Borba, propositor da audiência; Ibson Gabriel Martins de Campos, superintendente de controle ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba; Sérgio Luiz Cordoni, promotor de justiça do Ministério Público do Estado do Paraná; Luiz Celso Castegnaro, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado do Paraná; Milton Carlos Zanelatto Gonçalves, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná; Gilmar de Lima, arquiteto e urbanista, coordenador da agência de sustentabilidade Mãozinha Verde; Ricardo Voltolini, CEO e fundador da Consultoria Ideal Sustentável; Rosane Fontoura, coordenadora do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP); Mário Mantovani, presidente da Fundação Florestal de São Paulo; Daniel Poletto Tesser, assessor de sustentabilidade institucional da UTFPR, representando o reitor Marcos Schiefler.

Também estavam presentes: Laércio Nicoletti, diretor de sustentabilidade do Grupo Petrópolis e Universidade Mackenzie; José Álvaro Carneiro, CEO do Hospital Pequeno Príncipe; Mariana Parizzi, diretora da Associação Paranaense dos Engenheiros Ambientais (APEAM); Mariana Druszcz, vice-presidente da Associação Paranaense dos Engenheiros Ambientais; Paulo Salamuni, suplente de senador e ex-presidente da Câmara Municipal de Curitiba; e integrantes da diretoria do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI-PR). 

Assista à solenidade no canal da Câmara no Youtube

Confira as fotos do evento no perfil da Câmara no Flickr.

Educação

Para Dalton Borba, vereador propositor do evento, o meio ambiente é um tema que extrapola fronteiras e diz respeito a todas as pessoas. “Quero destacar a pluralidade dos participantes deste evento: pesquisadores, integrantes do terceiro setor, Ministério Público, universidade, administração municipal, entidades representativas de diversas categorias. Essa variedade é positiva, pois o meio ambiente é um tema multidisciplinar”, disse o parlamentar. Ele esclareceu que o objetivo da reunião era o de homenagear alguns nomes de relevância no campo da sustentabilidade e dar início a um debate que possibilite a elaboração de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável (ODS Agenda 2030) e às práticas sociais, ambientais e governamentais para a construção de uma sociedade inclusiva e ambientalmente sustentável.

Dalton esclareceu que também é oriundo do meio acadêmico, sendo professor de direito constitucional há 25 anos. No entendimento do vereador, a solução para as questões ambientais está na educação. “Educar o povo, educar as pessoas. E é na esfera da política que devemos esperar as melhores e as maiores mudanças. A aplicação de políticas públicas é o caminho para a solução dos problemas, mas nem todos os políticos têm consciência da importância da sustentabilidade. Se o povo escolhe mal os políticos, é porque não foi educado para escolher bem”, afirmou o vereador.

Ele lembrou que durante a maior crise hídrica atravessada por Curitiba, apresentou um projeto de lei na Câmara, proibindo o uso de água potável para a lavagem de calçadas externas. “O projeto teve parecer positivo por parte da Secretaria do Meio Ambiente e dos demais órgãos consultados, mas foi rejeitado por uma esmagadora maioria na votação em plenário”, comentou Borba.

Mãozinha Verde

Gilmar de Lima, arquiteto e urbanista, coordenador da agência de sustentabilidade Mãozinha Verde e idealizador da Semana Sam, disse que a entidade surgiu em 2015, quando ele esteve no evento Expo Milão e percebeu que era necessário fazer alguma coisa em relação ao imenso desperdício de comida e ao descarte irregular que, já naquele momento, alcançavam proporções incontroláveis. “Aquela constatação foi determinante para que criássemos o Mãozinha Verde e, já de início, desenvolvemos o conceito do AEIOU da Sustentabilidade: água energia inovação orgânicos e urbanismo”, disse o arquiteto. Ele lembrou que a criação da lei municipal 11.642/2005 oportunizou a criação do Projeto Regenera, que, de acordo com Gilmar, já produziu impacto em mais de meio milhão de pessoas em Curitiba. O site da agência informa que o acervo soma mais de 100 mil metros quadrados de parques, jardins e praças revitalizadas, o 'case' também foi levado a outras cidades e estados.

Gilmar de Lima explicou que a agência de sustentabilidade Mãozinha Verde propõe 5 programas: o já citado Regenera; o programa Salve o Ribeira; a Jornada Sustentável; o One Day Sustainability; e a Semana Sam, que teve início em 2019, por meio de esforços mútuos de várias entidades. “O que o Mãozinha Verde propõe é a reconexão do cidadão com a natureza”, disse Gilmar. Ele agradeceu ao vereador Dalton Borba, à vereadora Maria Leticia, autora do projeto 15.549/2019, que instituiu a Semana Sam, ao vereador Herivelto Oliveira (Cidadania) e a todos os representantes das entidades presentes ao evento. No decorrer da audiência, foram entregues prêmios Mãozinha Verde, cujo design foi produzido pelos artistas plásticos Desirée Sossegolo e Luiz de Souza.

Processo civilizatório

Em seguida, falou Mario Mantovani, fundador e diretor de relações institucionais da Associação Nacional Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA) e integrante da Fundação Mata Atlântica, da qual participou por 30 anos, tendo sido o coordenador da maior campanha de mobilização em prol da despoluição do rio Tietê. “Vivemos um momento muito difícil para as questões ambientais no Brasil. Houve muitos retrocessos e nós estamos enfrentando dificuldades para lidar com essas questões. Mantovani lembrou do seu início nas questões ambientais. “Em 1973, o Brasil negava a questão ambiental, dizendo que preferia a poluição à pobreza. Naquele ano, a União dos Escoteiros foi convidada para falar na Conferência de Meio Ambiente de Estocolmo. O tema do evento era ‘pensar global e agir local’. A frase tem pertinência, pois se a gente não consegue cuidar da árvore em frente à própria casa, não conseguirá também salvar o mundo”, disse Mantovani. Ele observou que mudanças climáticas são negadas até hoje.

Mantovani lembrou alguns momentos em que o Brasil esteve na vanguarda das ações ambientais, como em 1985, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) realizou o mapeamento via satélite das áreas remanescentes da Mata Atlântica e, no ano seguinte, quando Magda Lombardo desenvolveu seu estudo sobre as ilhas de calor nas regiões metropolitanas. Também em 1986, houve a criação da ANAMMA. Posteriormente, o Brasil protagonizou a realização da ECO 92 e, conforme Mantovani, o mundo reconheceu a importância de legislações e documentos aprovados no Brasil como a Carta da Terra e a Convenção da Biodiversidade. “Tudo isso nasceu no Brasil e a gente negou. A Lei da Mata Atlântica, a Lei do Direito Difuso; a Lei das Águas […]. O Brasil passou a ser a grande referência do mundo na questão ambiental e, mesmo assim, nós não conseguimos a cidadania plena, nessa área. Falta entender que, quando você trabalha pela qualidade do rio, do ar, da biodiversidade, do clima, a ideia é beneficiar o coletivo. Não estamos falando de grupos. Estamos falando de um processo civilizatório”, afirmou o ambientalista, que recebeu o prêmio Mãozinha Verde.

Ricardo Voltolini, CEO e fundador da Consultoria Ideal Sustentável, comentou que sua carreira teve início na área da responsabilidade social e empresarial. “No Brasil, esse terreno era pó e areia, não existia sequer a carreira de consultor. Às vezes é difícil explicar o que faz um consultor de sustentabilidade, mas posso dizer que comecei a trabalhar com empresas para mudar o sistema por dentro. Tentei subverter a ordem mostrando ao universo empresarial que não há outro caminho para as empresas do que agirem em benefício do mundo. Fui chamado de sujeito ‘biodesagradável’, que ficava com o dedo em riste propondo restrições para as empresas”, disse o consultor de sustentabilidade. 

Ele comentou sobre a existência de um movimento anti-ESG (Environmental, Social and Governance), liderado por políticos do partido Republicano dos Estados Unidos, alinhados, segundo ele, aos interesses de empresas petrolíferas. De acordo com a revista Exame, “o ESG surgiu no mercado financeiro como uma forma de medir o impacto que as ações de sustentabilidade geram nos resultados das empresas. A sigla surgiu, pela primeira vez, em 2004, dentro de um grupo de trabalho do Principles for Responsible Investment (PRI), rede ligada à ONU que tem objetivo de convencer investidores sobre investimentos sustentáveis”. Voltolini lembrou que o movimento anti-ESG “surge num momento em que estamos no limiar de superar a temperatura média do planeta fixada em 1,5º C, limite considerado seguro pelos cientistas. As chuvas torrenciais que vemos no Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros locais do Brasil são consequências das mudanças climáticas”. O consultor destacou a mudança de visão, assinalando que a geração do milênio já vê o mundo com outros olhos. “Eles já trazem implantado o chip da responsabilidade e da empatia. Vemos diariamente jovens que deixam de consumir produtos de uma empresa quando ela não se conduz de maneira correta em termos ambientais”, disse Voltolini, também agraciado com o prêmio Mãozinha Verde.

Hecatombe ambiental

Sérgio Luiz Cordoni, promotor de justiça do Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR), há 25 anos atuando na área do meio ambiente, entende que não adianta o Brasil ser vanguarda em legislações ambientais no mundo e, ao mesmo tempo, não valorizar uma ministra como Marina Silva, atual chefe da pasta do Meio Ambiente. “Hoje é um dia de tristeza, não por esse evento, mas pela situação ambiental do país. O que aconteceu em Brasília hoje foi uma hecatombe para o meio ambiente brasileiro”, disse o promotor, referindo-se à medida provisória da reestruturação ministerial que remanejou órgãos de atuação do Ministério do Meio Ambiente para a competência de outros ministérios e, também, ao marco temporal das terras indígenas, aprovado nesta semana na Câmara dos Deputados.

Ibson Gabriel Martins de Campos, superintendente de controle ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba (SMMA), enalteceu o Mãozinha Verde pela realização da 4a Semana Sam, que tem ênfase na sustentabilidade e na mobilidade urbana. “Eu diria que as mudanças climáticas estão aí e vieram para ficar. Vivemos extremos climáticos e vamos ter que enfrentar desafios. As áreas urbanas deverão ser resilientes a calor e a chuvas intensas, mas as cidades não estão preparadas para uma drenagem adequada”, disse ele. Para Ibson, é importante que essas mudanças climáticas também provoquem uma mudança de consciência quanto ao tema. “Temos que trabalhar para conseguirmos a neutralidade da emissão de carbono até 2050”, afirmou o superintendente de controle ambiental da SMMA.

Luiz Celso Castegnaro, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado do Paraná, declarou que os corretores imobiliários, pela natureza de suas atividades, têm contato direto com as questões urbanas. “Nós, corretores, temos essa preocupação. Vivemos as cidades e abraçamos essa causa. Gilmar, do Mãozinha Verde, é um idealista e estamos juntos fazendo a nossa parte e o que está ao nosso alcance”, disse Castegnaro. Para ele, uma medida urgente seria a despoluição do rio Belém. “Precisamos ter um olhar para o que está ao nosso redor”, finalizou.

Milton Carlos Zanelato Gonçalves, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná, comentou que em sua juventude presenciou o sucesso da Família Folha, mas hoje ele percebe que aqueles conceitos ainda eram embrionários. “Hoje falamos em ensinar sobre emissão de carbono, lixo zero, reuso de materiais. Da Família Folha para cá, avançamos na divulgação desse conhecimento, mas a ciência foi renegada em momentos cruciais. Trata-se de uma luta que a gente tem que travar e a Semana Sam cumpre esse papel, propondo a discussão desses temas”, afirmou.

Pacto Global

Rosane Fontoura, coordenadora do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), esclareceu que. Desde 2003, a FIEP fez a adesão ao Pacto Global que era baseado inicialmente em 10 princípios: 2 relacionados a direitos humanos, 4 a relações trabalhistas, 3 sobre a questão ambiental e 1 contra corrupção. De acordo com o site pactoglobal.org.br, o Pacto foi lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, sendo uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações aos Dez Princípios Universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção, além de desenvolverem ações contributivas para o enfrentamento dos desafios da sociedade. Ainda de acordo com o site, trata-se da maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160 países.

“A iniciativa da FIEP de aderir ao Pacto foi um bom começo no processo de convencimento para que mais organizações aderissem aos princípios do Pacto Global”, disse ela. Rosane frisou a relevância da FIEP e do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial na divulgação dos ODS (Objetivos de Sustentabilidade). Ela entende que o ecossistema de um ambiente sustentável deve ter todos os players envolvidos: poder público, empresas, terceiro setor e organizações. Rosane mencionou o Selo Sesi ODS que já teve mais de 200 organizações certificadas. Ela também citou o HUB ODS, projeto da FIEP que reúne, no momento, 205 organizações, tendo por fundamento os princípios do Pacto Global.

Daniel Poletto Tesser, assessor de sustentabilidade institucional da UTFPR, representando o reitor Marcos Schifler, informou que a sustentabilidade é um dos valores institucionais da UTFPR há bastante tempo. “A política de sustentabilidade da universidade foi aprovada em 2009, tendo sido uma das primeiras do gênero no país e deixando claras as intenções da instituição frente a esse tema tão complexo”, disse Tesser. Entre as iniciativas tomadas pela UTFPR em relação à sustentabilidade, Tesser mencionou o uso de energia fotovoltaica para autogeração de energia, prédios com princípios ecológicos e atividades relacionadas à integração e acessibilidade dos alunos. “Mas o enfoque é especialmente na pesquisa e no ensino. O objetivo é conseguir que os nossos egressos saiam da universidade conscientes de suas responsabilidades face à sustentabilidade e às questões que eles vão enfrentar envolvendo o tema em suas vidas profissionais”, declarou o assessor. 

Outros homenageados

Jacob Cachinga, angolano, chegou ao Brasil em 2001 quando um convênio entre Brasil e Angola possibilitou o acolhimento de refugiados da Guerra Civil de Angola. Jacob teve sarampo e perdeu a visão aos dois anos de idade, sendo que não chegou a frequentar a escola em seu país. Não conheceu o pai e chegou a morar nas ruas, superando a dependência em drogas. Já em Curitiba, aos 11 anos de idade, começou a estudar e, alguns anos depois, graduou-se em educação física e, recentemente, defendeu tese de mestrado em que discute políticas de educação inclusiva. É integrante do coral Vozes de Angola e criou um projeto social gratuito com aulas de danças para cegos.

Clóvis Borges também foi homenageado com o prêmio Mãozinha Verde. Ele é diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Formado em medicina veterinária e com mestrado em zoologia, Borges é “fellow” da Ashoka, afiliado à fundação Avina, membro do Conselho Consultivo da Funbio e vice-presidente do Conselho deliberativo do Instituto Life. Clóvis Borges também integra o quadro consultivo da Fundação Ecotrópica, Instituto Homem Pantaneiro, Observatório de Justiça e Conservação e Instituto Rã-Bugio e ainda é membro da rede de especialistas em conservação da natureza promovida pelo grupo Boticário. Desde 2017, Borges lidera a Grande Reserva Mata Atlântica, iniciativa que conserva o maior bioma, sob a metodologia de produção da natureza.

Outro agraciado com o prêmio Mãozinha Verde foi Henrique Schmidlim (conhecido como “Vitamina”). O homenageado é um dos mais completos escaladores do Paraná. Criou e incentivou várias modalidades esportivas serranas, destacando-se em provas de corrida de caiaque e botes no rio Nhundiaquara, na Corrida Marumbi-Morretes, entre outras. Nasceu em 7 de outubro de 1930, é advogado e, por mais de uma década, foi curador do patrimônio natural do Paraná e recebeu o título de Cidadão Benemérito do Paraná.