Na CMC, terapeuta pede suporte a famílias com crianças autistas

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 26/04/2023 12h05, última modificação 28/04/2023 18h04
Indicação para a Tribuna Livre partiu da vereadora Sargento Tânia Guerreiro (União) e faz alusão à campanha Abril Azul, de conscientização sobre o autismo.
Na CMC, terapeuta pede suporte a famílias com crianças autistas

Conselheira do Coffito, Patrícia Lima tirou dúvidas dos vereadores sobre o Transtorno do Espectro Autista. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)

“A gente pensa muito na criança autista, mas se vocês conhecessem o desgaste mental de quem cuida delas, dariam mais atenção às famílias. As famílias estão sem suporte”, alertou a terapeuta ocupacional Patrícia Luciane dos Santos Lima, convidada para a Tribuna Livre desta quarta-feira (26), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Convidada da vereadora Sargento Tânia Guerreiro (União), ela é conselheira do Coffito (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) e atua no Congresso Nacional, dando apoio técnico às discussões parlamentares.

O apelo feito por Patrícia Lima está alinhado a uma proposta de lei da vereadora Tânia Guerreiro, cujo chefe de gabinete é casado com a terapeuta ocupacional, e que quer criar em Curitiba um programa de capacitação e amparo psicológico às mães ou tutores legais de pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) - o projeto 005.00073.2023. “É uma briga minha em Brasília, na Comissão de Assuntos Parlamentares [do Coffito], que as famílias tenham mais suporte”, colocou Patrícia Lima.

“Muitas vezes as mães não podem trabalhar, porque a criança não deixa. O pai não consegue mais dormir à noite, porque a criança se joga, a mãe está irritada. Ou o pai foi embora e é a mãe que tem que lidar com tudo sozinha. Eu não me preocupo tanto com o transtorno, porque a gente tem gente boa fazendo o que tem que ser feito, mas as famílias estão sem suporte. Não se trata de [fazer] lei para o transtorno, para a vaga de estacionamento especial, mas para que a mãe consiga dormir em paz, tendo colocado comida na sua mesa”, contextualizou a terapeuta ocupacional. Patrícia Lima respondeu a perguntas de onze parlamentares, por cerca de uma hora de Tribuna Livre.


Abril Azul - 1%

A conselheira do Coffito agradeceu pela oportunidade de falar aos vereadores, neste mês, quando é realizada a campanha de conscientização sobre o TEA chamada de Abril Azul. “Ainda existe muita falta de informação. Fala-se em transtorno porque ele acomoda uma série de sintomas, afeta as habilidades físicas, motoras, de comunicação e de interação social. A condição é percebida na primeira infância e é mais prevalente em meninos, sendo que, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), 1% da população é autista”, informou Patrícia Lima.

A terapeuta ocupacional confirmou que existem diagnósticos de autismo em adultos, mas em geral associados a condições menos severas de TEA. “Temos autismo grau 1, que é o leve, que as crianças apresentam mais independência, fazem as tarefas do dia a dia, têm dificuldade de se expressar, mas conseguem frequentar a escola. Ele é percebido por profissionais, mas é bastante discreto. O grau 2 é o mais percebido pela população, porque a criança precisa de ajuda para se comunicar, para trocar [de roupa]. No grau 3, que é o severo, a criança não tem autonomia e precisa de ajuda o tempo todo”, explicou a convidada da Tribuna Livre.

“Pessoas dentro do espectro autista podem apresentar comportamento repetitivo, ter interesse fixo em algum tema ou hiperfoco em alguma situação. Esse interesse exagerado de uma criança de cinco anos por alguma coisa específica acende um alerta, mas, como cada indivíduo é único, precisamos de uma equipe diversificada para identificar. Quando os pais nos perguntam qual a diferença da birra e do autismo, eu digo que a criança faz birra quando deseja alguma coisa, os pais não a atendem, e ela se joga no chão. Com autismo, ela, do nada, escutou um barulho que a feriu, que a incomodou, e começa a ter um acesso de raiva”, exemplificou a terapeuta ocupacional.

 “Eu dei algumas características, mas isso é muito individualizado, por isso o símbolo do autismo é um quebra-cabeças”, continuou Patrícia Lima, confirmando que “as causas do autismo não são totalmente conhecidas, mas as pesquisas dizem que genética e agentes externos desempenham um papel-chave”. “A herança genética é responsável por 80% dos casos, mas fatores exógenos podem complicar, como infecções na gravidez, distúrbios metabólicos e até exposição a substâncias tóxicas”, acrescentou. 

Questionada sobre uma “glamurização” do autismo, Patrícia Lima concordou que há ruído na comunicação sobre o tema, que pode levar à desinformação, mas também criticou quem usa o TEA como atalho para obter vantagens pessoais, atrasando o atendimento de quem realmente necessita do acompanhamento médico. Tem gente utilizando o diagnóstico para passar filho [de ano] na escola? Ou para conseguir benefícios? Pois tem, e tem muito, não é pouco. Existem pessoas se aproveitando do diagnóstico para benefício próprio, o que atrapalha quem precisa de cuidado”, alertou.

A conselheira do Coffito respondeu a perguntas e opinou pontualmente em tópicos trazidos pelos vereadores Rodrigo Reis (União), Noemia Rocha (MDB), Pier Petruzziello (PP), Amália Tortato (Novo), Hernani (PSB), Dalton Borba (PDT), Maria Leticia (PV), Jornalista Márcio Barros (PSD), Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) e Professor Euler (MDB). 

Tribuna Livre

A Tribuna Livre é o espaço democrático de debates mantido pela CMC para ser o canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas em pauta são sugeridos pelos vereadores, que, por meio de um requerimento, indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, de apresentação de uma campanha de conscientização, de discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa, etc.

Conforme o Regimento Interno (RI) do Legislativo, as Tribunas Livres ocorrem às quartas-feiras, durante a sessão plenária – por acordo de líderes, após o espaço do pequeno expediente. Se você participa de uma entidade, representa uma causa ou uma atividade coletiva, entre em contato com um dos vereadores para sugerir a realização da Tribuna Livre. O RI veda a participação de representantes de partidos políticos, candidatos a cargos eletivos e integrantes de chapas aprovadas em convenção partidária.

As sessões plenárias começam às 9h e têm transmissão ao vivo pelos canais da Câmara de Curitiba no YouTube, no Facebook e no Twitter. Clique aqui para consultar os temas abordados nas Tribuna Livres anteriores.