Vereadoras pedem maior participação feminina na política

por Assessoria Comunicação publicado 06/03/2015 18h10, última modificação 29/09/2021 08h47
A bancada feminina ocupa apenas 13% das cadeiras da Câmara Municipal. São cinco, entre 38 vereadores de Curitiba. Nas eleições municipais de 2012, 198 mulheres concorreram a uma dessas vagas, contra 510 homens. As cinco eleitas somaram 38.396 votos, contra 242.695 dos homens. Em votos válidos – no total, foram 975.182 (excluídos os nulos e em branco) – a diferença é ainda maior: as vereadoras tiveram apenas 4,22% dos votos, enquanto os eles representaram 26,53%.

Para Professora Josete (PT), esta desproporcionalidade na disputa e na ocupação de cargos eletivos é um reflexo da cultura machista, que a mulher ainda não conseguiu romper por completo. “Apesar das mulheres estarem conquistando cargos importantes na política, a dificuldade da participação delas é grande. E há, ainda, o próprio preconceito da mulher. Historicamente, o papel do homem é do poder e o espaço da mulher é o doméstico”.

A disparidade entre os sexos também é verificada em outras casas legislativas. No pleito do ano passado, apenas 4 mulheres garantiram uma das 54 cadeiras da Assembleia Legislativa do Paraná. No Congresso Nacional, são apenas 63 parlamentares mulheres – 51 deputadas federais e 12 senadoras que buscam seu espaço entre 462 deputados e 69 senadores.

Noemia Rocha acredita que, apesar de serem ampla maioria nas urnas, as mulheres não se posicionam em relação à sua própria participação na política. “As próprias eleitoras precisam mudar seu conceito. Pode ser segmentado, mas temos de fazer a campanha "mulher vota em mulher". As mulheres precisam acreditar nas próprias mulheres. Não é possível que as mulheres pensem assim: "acredito mais no político, do que na mulher política".”

A opinião da peemedebista, no entanto, é rebatida por Julieta Reis. “O fato de [o candidato] ser mulher não significa que a eleitora vai votar na mulher. Ela tem de ter uma afinidade, uma admiração, uma simpatia e, no caso do cargo de vereador, uma aproximação”, defende.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2014, dos 142,8 milhões de eleitores aptos a escolher seus representantes, 52,13% eram mulheres. Poder de voto que, na opinião das vereadoras de Curitiba, não garante um número significativo de candidatas e muito menos, o voto das mulheres nas próprias mulheres. Apenas 28,9% dos candidatos a uma das 1.709 cadeiras em disputa eram do sexo feminino.

“Nossa sociedade ainda está impregnada com certos preconceitos com referência a participação das mulheres em cargos, que anteriormente eram ocupados somente por homens. As mulheres precisam aprender a confiar e delegar poderes ao mesmo gênero. Mas isso é questão de tempo”, posiciona-se Dona Lourdes (PSB).

Mas para Carla Pimentel (PSC), a eleição de poucas mulheres não está condicionada à falta de participação feminina na política, mas à falta de tradição. “A envergadura das campanhas masculinas é muito maior. Na urna, infelizmente aparece a proporção de uma campanha muito maior e de uma campanha muito modesta. As mulheres encontram candidatos homens com uma projeção, uma estrutura, muito maiores”.

Disputa desequilibrada
As parlamentares também se posicionaram sobre a falta de equilíbrio entre homens e mulheres na disputa por cargos eletivos. Josete, por exemplo, condena a maneira como a cota mínima para a candidatura de mulheres (30% de candidatas em cada partido) é vista pelas siglas partidárias. “Dentro dos partidos não há incentivo para as candidaturas femininas. A nossa participação é figurativa. O financiamento é priorizado para o homens”.

Na opinião de Noemia, o espaço da mulher nos pleitos eleitorais é artificial. A busca por mulheres para composição de chapa não significa que o partido quer investir nelas. “Os partidos precisam atingir a cota de 30%. Se não atingirem a cota, não podem cadastrar os candidatos. Portanto, a busca não significa que o partido quer dar oportunidade, acredita na mulher. Ao contrário, o partido convida as mulheres para viabilizar as candidaturas dos homens”, completa.  

A afirmativa também é corroborada por Dona Lourdes: “os partidos, de modo geral, abrem espaços para as mulheres porque a lei demanda as proporcionalidades de gênero. Mas o preconceito ainda é uma barreira a se desmistificar entre as mulheres”.  “Mulheres são colocadas como legendeiras em geral. Estão ali para cumprir a cota, cumprir a lei”, sintetiza Carla.

Na contramão das colegas de plenário, a democrata diz que a dificuldade das mulheres em se candidatar a cargos eletivos só é sentida quando se trata das eleições majoritárias – para prefeito, governador e presidente da República. “Nas proporcionais, temos vagas sobrando. Não existe possibilidade de uma mulher dizer que quer se candidatar a um cargo de vereadora ou de deputada, e não conseguir. Porque sobra vaga dentro dos partidos”, ressalta Julieta.

Ainda segundo Julieta, os homens têm mais vontade de exercer o poder e são a maioria dentro dos diretórios partidários. “Os comandantes partidários são homens, então existe uma tendência natural. Sendo maioria, eles têm um entendimento melhor entre eles”, justifica.

Cotas e engajamento político
A criação de uma cota feminina de 50% nas vagas eletivas e o maior engajamento das mulheres na política são soluções apontadas pelas vereadoras para ampliar o número de candidatas e de eleitas em todas as esferas de poder. “A única maneira de mudarmos o quadro a curto prazo, de aceleramos o processo, é com uma cota de cadeiras femininas. Se for naturalmente, vai demorar muito”, prevê Noemia Rocha.

Defensora da ideia, Professora Josete pondera que a medida só teria resultado com preparação política. “Conquistar a cota não significa participação efetiva, porque por mais que você crie cotas, se não der condição da mulher participar, ela não vai. É preciso garantir a ocupação destas vagas com formação”.

Mas para Julieta Reis, a cota feminina não resolveria porque as vagas são de direito. “As mulheres não querem, não tem vontade de participar da vida pública. Os partidos têm dificuldade de preencher a cota dos 30%. Os espaços nas campanhas não faltam, mas é preciso coragem para enfrentar a disputa”. Ainda segundo a democrata, falta conscientização e disponibilidade para a mulher se organizar e gastar energia na função.

Em contrapartida, Carla Pimentel e Dona Lourdes, defendem, respectivamente, mais investimentos e engajamento político. “Se uma mulher tem estrutura partidária, financeira ou de preparação política, ela consegue encontrar grandes lugares na política”, disse a vereadora do PSC. “A política não é uma ação restrita aos poderes, mas sim da vida. As mulheres precisam entender, desde cedo, que temos os mesmos direitos e deveres que o gênero masculino”, finaliza a do PSB.

O debate não termina
Opiniões fortes e precisas sobre a ausência das mulheres na disputa por cargos políticos no Brasil serão detalhadas no site da Câmara Municipal de Curitiba, na próxima semana. De segunda-feira (9) a sexta-feira (13), será publicada uma série de entrevistas com as cinco vereadoras curitibanas: Carla Pimentel (PSC), Dona Lourdes (PSB), Julieta Reis (DEM), Noemia Rocha (PMDB) e Professora Josete (PT). A ordem alfabética foi o critério escolhido.

Por Pedritta Marihá Garcia – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

Referências Bibliográficas:
Dados estatísticos sobre as eleições 2014 / Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Disponível em: (http://migre.me/oT40o)

Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR).
(http://www.tre-pr.jus.br/eleicoes/resultados/resultados-de-eleicoes-municipais-tre-pr)