Transporte coletivo perdeu atratividade, apontam entidades

por Assessoria Comunicação publicado 20/03/2013 21h20, última modificação 13/09/2021 14h45
O número de passageiros diminuiu, mas os ônibus continuam lotados, a quilometragem rodada está cada vez maior e a tarifa, mais cara. Estas foram algumas questões levantadas na primeira audiência pública para discutir a mobilidade urbana em Curitiba, promovida pelo vereador Jorge Bernardi (PDT) e pelo Fórum Social de Mobilidade Urbana.
 
A audiência contou com a participação do presidente da Urbanização de Curitiba, Roberto Gregório, que anunciou que estão adiantados os contatos para realização de uma auditoria independente na Urbs, no Fundo de Urbanização de Curitiba - que concentra os recursos do transporte coletivo - e nos contratos com os consórcios operadores, contratados em 2010.

“Foram apresentados diversos pontos de vista sobre o mesmo tema. Ter  opiniões qualificadas neste momento é importante para que todos saiam daqui e possam avaliar melhores alternativas. Desta forma vão se formando conceitos. O resultado será uma tarifa mais acessível e um transporte coletivo mais atrativo”, disse Bernardi.

O supervisor técnico do Dieese, Sandro Silva, mostrou uma queda no número de usuários do transporte coletivo. Segundo ele, em 1996, a média mensal do número de passageiros era de 27,9 milhões e hoje são 25 milhões, com um aumento da frota de 53%. “Houve a ampliação do transporte, a cidade cresceu, e o número de passageiros pagantes caiu. Isto é uma questão que deve ser discutida”, pontuou.
 
Ao mesmo tempo, segundo ele, a quilometragem rodada pelos ônibus aumentou mais de 50% em relação àquele período. Ele lembrou também a necessidade de se reestudar as isenções. “Hoje quem paga pelas isenções é o usuário comum e elas representam 14% dos custos do transporte coletivo”, informou.

Ele questionou também o aumento da tarifa acima da inflação. Segundo dados do Dieese, desde julho de 1994 até 2013, a taxa da inflação acumulada foi de 338,68% e a majoração das passagens foi de 612,5%, um aumento de 62,42% acima da inflação do período.

Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus de Curitiba (Sindimoc), relatou que os coletivos estão cada vez mais lotados. “Tivemos o aumento do tamanho dos ônibus e quanto maior, mais lotado ele anda”.
 
Ele questionou o valor pago pelos veículos. “Temos um carro híbrido, que custa R$ 625 mil e transporta o mesmo número do que custa R$ 331 mil. Ou seja, tem a mesma capacidade, custa o dobro e é o passageiro quem paga esta conta”.

Teixeira questionou também as condições de trabalho dos cobradores que atuam nas estações tubo. “Temos uma estação tubo que com chuva eles se molham, com vento eles passam frio. É um local desumano de trabalho. Espero que neste novo debate possamos resolver este problema”, disse.
 
O vereador Rogério Campos também defendeu a situação dos cobradores. Ele disse que as estações tubo trazem dificuldades tanto para os trabalhadores quanto para os usuários. “As estações são inadequadas. Precisa ser feito um grande investimento, assim como foi feito quando elas foram instaladas”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Paraná (Sindiurbano), Valdir Aparecido Mestriner, questionou a colocação dos híbridos, movidos a eletricidade e a biodiesel, em áreas nobres da cidade. “O Hibridus está sendo financiado pelos miseráveis, para benefício da classe média”.

Integração

Para Gregório, a meta de melhorar a mobilidade urbana em Curitiba é também da região metropolitana. Ele defendeu a necessidade de manter a tarifa única na Rede Integrada de Transporte Urbano (RIT). “Entendemos que este desafio ultrapassa as fronteiras do município de Curitiba, nosso desafio é metropolitano.
 
As soluções devem ser conjuntas e socialmente construídas. São desafios porque vão implicar em mais trabalho, dedicação e debate. O prefeito Gustavo Fruet determinou o diálogo, a maior transparência possível e rigor no gasto público”.

Rui Hara, diretor da Coordenação da Região Metropolitana, ressaltou a necessidade de entendimento entre governo e prefeituras.
 
Segundo ele, a ampliação vai acontecer naturalmente nas cidades da RMC. “Isto é um fenômeno natural que vai acontecendo principalmente pelo crescimento imobiliário. Os imóveis vão ficando mais caros e a população vai sendo obrigada a ir para as cidades metropolitanas”, explicou.

O assessor jurídico do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana, Guilherme Gonçalves, disse que, a partir de 1996, Curitiba integrou o transporte com Almirante Tamandaré, Pinhais, Araucária, Contenda e Colombo. “Estes pólos foram integrados em um ano, e onde se tinha duas tarifas, passou a se ter uma só”.
 
Segundo ele, a integração não deve onerar somente o passageiro, sendo necessário encontrar formas de dividir este custo com toda a comunidade. “Compreende-se que mobilidade urbana não é um problema só de quem usa o ônibus, mas da sociedade”, resumiu.

Luizão Goulart, prefeito de Pinhais e presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba, também questionou as isenções, que oneram o valor para os pagantes. “O Correio deve bancar a gratuidade aos carteiros. Para os policiais, o governo tem que pagar a gratuidade. Começamos ver que não é possível que todos os usuários arquem com estas situações”.

Urbs

A respeito da auditoria que será feita na Urbs, Gregório disse que o processo vai contar com a participação das universidades Federal do Paraná (UFPR) e Católica (PUCPR) e que buscará também o apoio de especialistas da Universidade Positivo.

O vereador Jonny Stica (PT), presidente da Comissão de Urbanismo da Casa, informou que, no decreto da auditoria, o prefeito considera a participação dos usuários. “Tivemos um avanço para que houvesse um representante dos usuários
.Será decidido entre os movimentos sociais quem fará parte. Também discutimos a necessidade da participação popular no Conselho Municipal de Transporte e o prefeito disse que apoia a Câmara, para que faça a alteração na legislação”, anunciou o parlamentar.

Também estiveram presentes o presidente da Câmara, Paulo Salamuni (PV), os vereadores Pedro Paulo e Professora Josete do PT, Bruno Pessuti e Tiago Gevert, do PSC, Tico Kuzma e Mauro Ignacio do PSB, Valdemir Soares (PRB), Helio Wirbiski (PPS), Dirceu Moreira (PSL) e Chico do Uberaba (PMN).

A próxima audiência pública sobre mobilidade urbana deverá acontecer no dia 3 de abril, às 14 horas, novamente na Câmara Municipal.