Procuradoria da Mulher e prefeitura inauguram Jardinete da Magó

por Pedritta Marihá Garcia — publicado 06/12/2021 16h00, última modificação 06/12/2021 16h11
Logradouro que leva o nome de Maria Glória Poltronieri Borges, vítima de feminicídio no ano passado, fica na avenida Frederico Lambertucci, no Fazendinha.
Procuradoria da Mulher e prefeitura inauguram Jardinete da Magó

O jardinete foi revitalizado pela Secretaria de Meio Ambiente. Na foto, detalhe de um dos cartazes afixados no local, que lembram a luta para manter o nome de Magó vivo. (Foto: Paulo Pereira/assessoria do mandato)

Localizado no cruzamento da avenida Frederico Lambertucci com a Rua Maria Quitéria, no bairro Fazendinha, o Jardinete da Magó foi inaugurado no último sábado (4) pela Procuradoria da Mulher (ProMulher) da Câmara Municipal de Curitiba e pela prefeitura. O nome de Maria Glória Poltronieri Borges, vítima de feminicídio em 2020, foi aprovado pelo Legislativo em março do mesmo ano. 

Bailarina, produtora de dança e de teatro, Magó, como era conhecida, foi estrangulada e estuprada em uma cachoeira, no dia 25 de janeiro do ano passado, em Mandaguari, na região metropolitana de Maringá, norte do Paraná. Sua morte mobilizou manifestações em todo o estado, no Brasil e no mundo, e sua história virou símbolo da luta contra o feminicídio, motivando o protocolo do projeto de lei que deu nome ao logradouro público, agora inaugurado pela ProMulher e pela Prefeitura de Curitiba. 

A lei municipal 15.609/2020, que deu o nome de Magó ao jardinete no Fazendinha, é de iniciativa da atual procuradora da Mulher na CMC, Maria Leticia. Quando da sua aprovação, em regime de urgência, o pai de Maria Glória, Maurício Borges, contou que no dia de sua morte, 25 de janeiro, era Dia de São Sebastião, sincretizado, nas religiões de matriz africana, ao orixá Oxóssi, “o protetor das matas”. “Ela tinha ido lá na cachoeira se conectar com a natureza, se conectar com a vida, rezar. Infelizmente, no final daquela linda tarde, se deparou com seu maior demônio”, relatou, na época. 

Desde que perdeu Maria Glória, a família dedica-se a combater o feminicídio, mobilizando inclusive a criação do projeto de lei 354/2021, conhecido como “Lei Magó” e que tramita na Câmara dos Deputados. De iniciativa do deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR), a iniciativa visa a coibir a propagação de anúncios que fomentem o sexismo, a misoginia e outras formas de violência contra a mulher e institui política de incentivo em favor dos fornecedores de produtos e serviços que adotem ações afirmativas direcionadas à promoção da equidade entre os gêneros e ao fortalecimento da representatividade feminina no mercado de consumo. 

O Jardinete da Magó
Localizado na avenida Frederico Lambertucci com a Rua Maria Quitéria, no bairro Fazendinha, o espaço foi revitalizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) para homenagear Maria Glória Poltronieri Borges. No local, foram implantados bancos e calçamento, e plantadas árvores frutíferas; e no dia da inauguração, a família de Magó e a procuradora da Mulher plantaram três mudas de Ipê. Quem esteve presente também pode deixar sua mensagem, afixando pequenas plaquinhas nas árvores do logradouro. Também foram distribuídas cópias de uma carta de princípios sobre combate ao feminicídio.

“A gente vive num país em que o feminícidio e a cultura do estupro infelizmente ainda são muito recorrentes. A gente ainda perde mulheres pelo ódio que os homens sentem por nós”, disse Ana Poltronieri, irmã de Maria Glória, que esteve junto com seus pais, Maurício Borges e Daísa Poltronieri Borges, na inauguração do jardinete. “A palavra que inaugura o mundo é mulher. Relembrando a todos e todas, a terra é uma mulher, os alimentos são fruto de uma mulher e quando a gente perde numa mulher que perde sua vida, num crime de ódio, a gente fala de pessoas traumatizadas. Eu tenho saudade do futuro que eu teria com a Maria Glória, da vida que seria minha vida ao lado dela”, emocionou-se.

Para Maria Leticia, homenagear a bailarina significa manter sua memória viva. “Como médica-legista do IML, atendi muitas mulheres vítimas de violência ao longo da minha carreira e sempre testemunhei as marcas da agressão. Não podemos mais perder jovens como a Magó. Mais do que um jardinete, o que queremos é abrir espaços para que a cultura do estupro não prevaleça no país”, disse a procuradora da Mulher da Câmara de Curitiba.

“Conheci a história da Magó, sua sensibilidade. É uma história de vida que se tornou missão. Magó vivia numa família amorosa, diferente de milhares de mulheres que sofrem violência todos os dias. Para além de inaugura este espaço, Magó está presente, Magó vive”, enfatizou a vereadora. “Que este jardinete, em homenagem à memória da Magó, seja também um marco na história de nossa cidade. Um símbolo, de que dizemos não à violência contra a mulher, ao feminicídio, uma luta que deve ser permanente e de todas as pessoas”, complementou o presidente da CMC, Tico Kuzma (Pros), presente na inauguração.

Além dos dois vereadores, também participaram do evento Professora Josete (PT), 2ª secretária da Mesa Diretora da CMC; Marilza do Carmo, secretária municipal do Meio Ambiente; familiares de Magó; Akemi Nishimori, representantando o deputado federal Luiz Nishimori; Gerson Gunha, administrador da Regional Portão; e Marilena Winter, presidente da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná).