Incidentes na UFPR repercutem no plenário da Câmara
Vereadores e UFPR se manifestaram sobre a não realização de palestra após tumulto que teve intervenção policial. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)
Durante a sessão desta quarta-feira (10) da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), os vereadores Vanda de Assis (PT) e Guilherme Kilter (Novo) comentaram sobre os incidentes ocorridos na noite anterior (9) no prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Conforme divulgado pela instituição de ensino, estava programada a realização da palestra “O STF e a interpretação constitucional”, mas “o evento gerou questionamentos e manifestações contrárias, segundo as quais sua ocorrência iria contra a defesa da soberania nacional e do estado democrático de direito. A partir disso, a situação se intensificou”, informa o site da UFPR.
No debate estava prevista a participação dos vereadores Guilherme Kilter e Rodrigo Marcial (Novo) e do advogado Jeffrey Chiquini, que no momento é responsável pela defesa de Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). A atividade não chegou a ser iniciada e resultou em tumulto, com direito a embate entre os favoráveis e contrários à sua realização, e intervenção da Polícia Militar e da Guarda Municipal de Curitiba.
A vereadora Vanda de Assis foi a primeira a se manifestar e afirmou que todos puderam acompanhar a situação pelas redes sociais. Ela classificou o fato como “gravíssimo” e declarou “veemente repúdio” ao uso da força policial no episódio. “Quero ser muito clara: a entrada da Polícia Militar na Universidade Federal do Paraná é ilegal”.
“A universidade não é um quartel. É um espaço de diálogo, de crítica, de ciência e de arte. A presença ostensiva das forças policiais em um ambiente que deveria ser o templo do saber nos remete a tempos sombrios da nossa história. Tempos que lutamos muito para superar. Não podemos e não vamos aceitar esse retrocesso”, completou a vereadora.
No entendimento de Vanda de Assis, a autonomia das universidades é garantida pela Constituição Federal e representa uma condição essencial para a democracia, para a liberdade de pensamento e “para a produção de conhecimento livre de amarras e intimidações”. "Os estudantes não são bandidos”, concluiu.
Guilherme Kilter discordou de Vanda de Assis e disse que ele e Chiquini não foram recebidos por alunos, mas por “bandidos e vagabundos, com agressões e violência”. “Não tinha aluno nenhum. Eram homens de 30, 40 anos, mascarados, com porretes, com “MR8” estampado nas costas. Sabe o que é o MR8? É um movimento terrorista. Eles sequestraram um diplomata americano nos anos 60 — e estavam lá para nos receber. Como a Universidade Federal deixou esses vagabundos entrarem lá? Como permitiram que isso acontecesse?”, questionou.
Segundo o parlamentar, os palestrantes e os professores tiveram que ficar trancados na sala dos professores por mais de meia hora, antes de poder deixar o local. “Eles agrediram idosos que foram assistir à palestra, agrediram amigos, assessores. Um saiu com a testa aberta, outro quebrou o pé, e um teve o celular roubado. Quem rouba celular é o quê? Para mim, é bandido. E qualquer vereadorzinho que defenda bandido também está compactuando com isso”.
A nota emitida pela UFPR também foi criticada por Guilherme Kilter. Ele rebateu a informação de que o evento teria sido “cancelado pela docente organizadora minutos antes de sua realização.” “Mentira! Não avisaram ninguém [sobre o cancelamento]”, disse. Outro trecho da nota contestado foi o seguinte: “um grupo com os palestrantes forçou a entrada, empurrando o vice-diretor do setor, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestava”. “Não havia comunidade nenhuma. Isso é mentira. Os alunos estavam esperando para assistir à palestra. Bandidos, vagabundos, marginais e delinquentes eram os que estavam lá esperando por nós”, frisou.
“Universidade Federal do Paraná, vocês têm 24 horas para se retratar dessa mentira, ou eu vou processar vocês. Sim, vocês vão ter que se explicar na Justiça. Nós temos todas as fotos, temos todos os vídeos. Todos vão ser responsabilizados. Gravamos tudo. Tenho o rosto de cada um. Vamos pegar um por um e abrir processo. Se a Universidade não expulsar, também será acionada na Justiça”, prometeu Guilherme Kilter.
“Acabou a sacanagem. A gente não vai recuar para bandido, para comunista safado: eu vou processar todos. Não vamos recuar um milímetro. Ano que vem o Brasil é nosso. Vamos recuperar este país, vamos recuperar as universidades. Essa é a nossa missão. A educação já era a minha principal pauta. Agora é minha missão de vida”, concluiu o parlamentar.
Ainda segundo a nota da UFPR, o evento foi organizado por uma professora do curso de Direito, “que tem autonomia para a promoção da atividade”, sendo que a “autorização para uso dos espaços da universidade, quando atendidos os requisitos formais, é concedida de forma isonômica aos solicitantes”.
O texto prossegue dizendo que, diante da repercussão prévia do evento nas redes sociais, “a Direção do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR alertou a professora responsável quanto aos riscos à integridade física da comunidade acadêmica e participantes”. O texto finaliza com a informação de que a UFPR, “enquanto instituição pública e plural, tem compromisso com a defesa do Estado Democrático de Direito, liberdade de expressão e condena toda forma de violência”.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba