Curitiba Capital Pró-Vida: entidades dão apoio ao projeto

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 28/11/2025 18h35, última modificação 01/12/2025 08h59
Casa Pró-Vida, Igrejas Cristãs e organizações comunitárias manifestaram apoio à proposta em debate na Câmara.
Curitiba Capital Pró-Vida: entidades dão apoio ao projeto

Vereadoras Delegada Tathiana e Indiara Barbosa receberam apoio ao projeto Curitiba Capital Pró-Vida. (Fotos: Julia Scheneider/CMC)

“A defesa da vida não é pauta religiosa, mas política pública”, declarou a vereadora Delegada Tathiana Guzella (União) ao abrir, nesta sexta-feira (28), a audiência pública sobre a causa Pró-Vida na Câmara Municipal de Curitiba (CMC).  Ao lado da coautora Indiara Barbosa (Novo) — que ponderou que “é preciso ampliar o suporte psicológico e material às gestantes” — ela sugeriu que Curitiba poderia se consolidar como referência nacional em políticas de acolhimento social e proteção à maternidade (407.00044.2025).

Logo após as falas iniciais, Delegada Tathiana e Indiara Barbosa mencionaram que a proposta de declarar Curitiba a “Capital Pró-Vida” do Brasil tramita na CMC por meio de projeto de lei apresentado em setembro deste ano. De autoria das parlamentares, a proposta pede o reforço de ações de prevenção, a ampliação de redes de apoio e a valorização de políticas públicas já praticadas no município. O projeto segue em análise nas comissões temáticas e ainda não tem data para ser votado em plenário (005.00364.2025).

A audiência, realizada no auditório da CMC e transmitida ao vivo pelo canal da CMC no YouTube, reuniu representantes de organizações sociais, coletivos religiosos, profissionais da área de saúde, lideranças comunitárias e cidadãos. Ao longo do encontro, participantes mobilizaram argumentos pessoais, técnicos, espirituais e sociais para apoiar a proposição legislativa, destacando temas como o acolhimento às gestantes, o papel das redes de proteção, as formas de prevenção da violência e o fortalecimento de vínculos familiares.

Testemunhos pessoais foram exibidos na audiência

Relatos de maternidade em condições extremas, violência sexual e criação de crianças com deficiência foram apresentados para ilustrar diferentes experiências associadas ao acolhimento de gestantes. Em vídeo exibido no plenário, Bruna Filais relatou ter sido vítima de abuso sexual na adolescência e descreveu sua decisão de manter a gestação após ouvir os batimentos cardíacos do bebê. Seu depoimento buscou evidenciar, segundo os organizadores, a importância da rede de proteção.

A mãe Débora Bonini Becher da Silva também compartilhou sua história sobre a criação do filho José, que nasceu sem braços e sem pernas. Ela descreveu o período de incertezas e dificuldades iniciais, ressaltando que a maternidade transformou sua vida e ampliou sua atuação no apoio a outras famílias. O testemunho recebeu manifestações de solidariedade do público presente no auditório da Câmara. Para as vereadoras, relatos como esses reforçam, para grupos pró-vida, a importância de políticas públicas que acompanhem as famílias desde o pré-natal até o desenvolvimento infantil. 

Lideranças religiosas defendem pauta pró-vida

O padre Silvio Roberto, representante da Casa Pró-Vida, mobilizou argumentos religiosos e filosóficos relacionados à defesa da vida desde a concepção. Ele citou documentos da Igreja Católica e afirmou que a atuação das entidades busca oferecer acolhimento e orientação espiritual a mulheres e famílias em situação de vulnerabilidade. Segundo ele, a pauta não deve ser tratada como disputa partidária, mas como compromisso moral e social. Estamos perante um combate gigantesco e dramático entre o bem e o mal, a morte e a vida, a cultura da morte e a cultura da vida”, disse, ao justificar seu apoio à proposta.

Pastores de diferentes denominações evangélicas também participaram da audiência. A pastora Gabriela Pinheiro, da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular, afirmou que comunidades religiosas desempenham papel ativo no aconselhamento de famílias e no apoio a mulheres que enfrentam situações complexas. O pastor Robson Ramos, da Assembleia de Deus, destacou iniciativas de acompanhamento pastoral e criticou práticas que, segundo ele, normalizariam o aborto como solução.

Essas lideranças avaliaram que a Câmara desempenha papel estratégico ao promover debate público sobre políticas de apoio à maternidade e ao desenvolvimento infantil. Para elas, o projeto Curitiba Capital Pró-Vida reforça diretrizes já presentes em diferentes instituições religiosas e comunidades locais, ao incentivar ações de acolhimento e solidariedade.

Rede Vale a Vida detalha práticas de acolhimento

A médica ginecologista Ângela Leite Mendes, da Rede Mãe Curitibana Vale a Vida, explicou o funcionamento dos serviços municipais voltados à mulher, com destaque para o pré-natal, o atendimento em 109 unidades de saúde, os programas educativos com adolescentes e as ações de prevenção e planejamento reprodutivo. Ela ressaltou que a rede oferece atendimento integral, com encaminhamento para unidades especializadas sempre que necessário.

A profissional detalhou também a distribuição de métodos contraceptivos, incluindo DIU e implantes, utilizados como estratégias de prevenção da gravidez não planejada. Segundo ela, o fortalecimento da rede é essencial para reduzir riscos, orientar famílias e garantir acompanhamento adequado no período gestacional, independentemente do contexto social ou econômico da paciente.

Jane Maria de Andrade, representante da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, descreveu atendimentos realizados ao longo de 13 anos de atuação, mencionando que a entidade já acompanhou mais de 1,3 mil gestantes. Ela relatou ações de acolhimento emocional, distribuição de enxovais, apoio material e articulação de redes voluntárias que auxiliam famílias em dificuldades. Segundo ela, parcerias com profissionais de saúde, igrejas e voluntários possibilitariam ampliar a rede de cuidados às gestantes em vulnerabilidade.

Delegado Tito Barrichello declara apoio ao projeto

O deputado estadual Delegado Tito Barrichello (União), casado com a Delegada Tathiana, participou da audiência e reafirmou sua atuação parlamentar no debate sobre a proteção de crianças e de adolescentes. Ao comentar casos com que teve contato em sua trajetória profissional, Tito resumiu o tom da audiência “sou contra o aborto; aborto causa a morte de crianças”. Segundo o parlamentar, devido à complexidade do tema, uma solução exigiria articulação entre os poderes e órgãos municipais e estaduais. 

Barrichello avaliou que as manifestações registradas na audiência indicam um engajamento crescente de setores religiosos e comunitários em torno da pauta pró-vida. Ele elogiou a iniciativa das proponentes e mencionou que audiências públicas possibilitam trocas entre diferentes esferas de governo. Ao final do evento, as vereadoras informaram que o registro da audiência integra a documentação pública produzida pelo Legislativo, compondo o histórico institucional do debate.