Controlar a miopia reduz os riscos de demência, alerta presidente da Abracmo

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 17/09/2025 11h45, última modificação 24/09/2025 16h38
Participando da Tribuna Livre, na Câmara de Curitiba, Tania Schaefer, presidente da Abracmo, discutiu o impacto da miopia em crianças e adolescentes.
Controlar a miopia reduz os riscos de demência, alerta presidente da Abracmo

Presidente da ABRACMO, a oftalmologista Tania Mara Cunha Schaefer participou da Tribuna Livre na CMC. (Fotos: Rodrigo Fonseca/CMC)

“Controlar a miopia hoje significa reduzir significativamente o risco da demência de amanhã.” A afirmação foi feita pela oftalmologista Tania Mara Cunha Schaefer, presidente da Academia Brasileira de Controle da Miopia (Abracmo), que participou da Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), a convite do vereador Lórens Nogueira (PP). O debate destacou o impacto social e econômico da miopia, considerada uma epidemia silenciosa de saúde pública (076.00023.2025).

Segundo a especialista, a condição já atinge 18% das crianças brasileiras e cresce em ritmo acelerado. “Sem ação imediata, 65 milhões de brasileiros serão míopes até 2050, transformando esta questão em uma das maiores crises de saúde pública da nossa história”, afirmou Tania Schaefer. Os custos diretos e indiretos associados à doença podem chegar a R$ 96 bilhões ao ano, o equivalente a 1% do PIB nacional, disse a presidente da Abracmo. 

Prevenção da miopia e políticas públicas

A médica enfatizou que a miopia não deve ser tratada apenas como distúrbio de visão, mas como fator de risco para doenças graves, como descolamento de retina, glaucoma e degenerações maculares. Também destacou a relação entre saúde ocular e declínio cognitivo: “92% dos casos de demência estão relacionados à perda da visão. Preservar a visão é preservar a autonomia e a dignidade no envelhecimento”.

Entre as medidas de prevenção, Tania Schaefer citou a redução do tempo de telas digitais e a maior exposição das crianças à luz solar. Ela apresentou a experiência de Taiwan, onde a inclusão de 120 minutos diários de atividades ao ar livre em escolas resultou em queda expressiva nos índices de miopia infantil. “É importante que haja uma preocupação da saúde pública e das autoridades nesse sentido”, reforçou. Ela estava acompanhada pelo neurologista Fernando Lamas.

Tecnologia e tratamentos disponíveis

A presidente da Abracmo apresentou alternativas de tratamento, como lentes oftálmicas especiais, colírios e a ortoceratologia, que é o uso de lentes noturnas que remodelam a córnea. Também ressaltou a importância do diagnóstico precoce em crianças com histórico familiar de miopia. “Hoje nós temos condições de tratar até crianças pré-míopes, reduzindo significativamente a progressão da doença”, explicou.

Para a especialista, políticas públicas são essenciais para garantir acesso universal às soluções já disponíveis. “As crianças que podem comprar óculos ou colírios já têm opções, mas precisamos que o poder público encontre caminhos para atender aquelas que não têm condições financeiras”, afirmou Schaefer.

Participação dos vereadores e respostas da especialista

Durante a sessão, parlamentares de diferentes bancadas participaram ativamente do debate. Indiara Barbosa (Novo) questionou o impacto do uso excessivo de telas digitais. Rodrigo Marcial (Novo) relatou seu caso pessoal de miopia e perguntou sobre as consequências dessa condição, quando não diagnosticada, na aprendizagem. Já Laís Leão (PDT) abordou medidas voltadas a adolescentes, enquanto Marcos Vieira (PDT) indagou sobre o tempo seguro de exposição às telas e alternativas de tratamento.

Em resposta, a convidada da Tribuna Livre esclareceu que, segundo diretriz da Sociedade Brasileira de Pediatria, até os 5 anos de idade recomenda-se zero tempo de tela, com aumento gradual até o limite de uma hora e meia na fase adulta. Tania Schaefer destacou ainda a importância do diagnóstico precoce e reforçou que hoje já existem tratamentos específicos para crianças pré-míopes, capazes de reduzir o avanço da condição. Fernando Klinger (PL) e Andressa Bianchessi (União) elogiaram a Tribuna Livre e se colocaram à disposição para apoiar futuras ações legislativas sobre o tema.

Ao encerrar a Tribuna Livre, Lórens Nogueira destacou a relevância do tema e informou que já está em diálogo com a Secretaria Municipal da Saúde e com o prefeito Eduardo Pimentel para propor ações legislativas de prevenção. “Tendo a prevenção, nossas crianças certamente terão um futuro com menos impactos”, declarou.