Com caso sob investigação, vereador pede que não criminalizem o Parolin

por Assessoria Comunicação publicado 02/10/2019 16h20, última modificação 11/11/2021 06h45

“Todos estão acompanhando nos noticiários, nesta Casa, as polêmicas e os fatos levantados dos jovens do Parolin que morreram”, declarou Edson do Parolin (PSDB), nesta quarta-feira (2), durante a sessão plenária da Câmara Municipal de Curitiba. “Eu não venho aqui defender a polícia, eu não venho aqui defender os jovens. Eu venho aqui defender a comunidade do Parolin”, afirmou. O vereador convidou os curitibanos a visitarem o Parolin e destacou a importância do bairro para a cidade, pois tendo a reciclagem como atividade principal, os moradores contribuem para a sustentabilidade do município.

Os jovens estavam em um carro com alerta de roubo quando foram mortos por policiais militares na noite de sexta-feira (27) no bairro Hauer. Segundo a Polícia Militar (PM), eles passaram por uma viatura da Rone (Ronda Ostensiva de Natureza Especial) em alta velocidade, houve tentativa de abordagem e troca de tiros, resultando na morte dos quatro, que tinham 21, 17, 16 e 15 anos de idade. Nenhum policial ficou ferido.

Edson do Parolin pediu que haja respeito a todos os moradores do bairro. “Não fico contente quando abro uma rede social e leio que lá ‘todo mundo é bandido, todo mundo tem que morrer’. Como se lá só tivesse bandido. Como se não tivesse bandido de terno no Água Verde, no Batel. Quando morre no Parolin, é por ‘ser tudo bandido’. Quando morre no Batel, foi ‘fatalidade’. A gente não é uma comunidade de coitados. Tem bandido lá? Tem. Tem gente ruim lá dentro. Mas na maioria há muita gente boa”, afirmou.

“Eu estive [ontem] numa reunião com o Gaeco [Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público do Paraná], a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil, seção Paraná], a Defensoria Pública, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia [Legislativa do Paraná] e a Professora Josete (PT). Ficou acertado que todos órgãos públicos vão buscar esclarecer os fatos, quem são os culpados, como [as mortes] aconteceram, pois as famílias precisam saber”, continuou Edson do Parolin. “Eu quero que a comunidade do Parolin seja esclarecida, se houve troca de tiros ou se a polícia executou”.

“Mas o que deixa a minha comunidade muito triste e chateada são os comentários. Estão massacrando a nossa comunidade, como se fosse a pior de Curitiba, nas redes sociais. Eu sou nascido e criado [no Parolin]. Conhecia todos os meninos que morreram. Eles participaram de uma escolinha de futebol que eu criei na favela”, relatou. Para o vereador, a marginalização da comunidade está alimentando um processo de “ódio”, cujo reflexo é a adesão de cada vez mais moradores aos protestos. “A criminalização do bairro é ruim para o Parolin e para quem vive no entorno”. Ele pediu mais respeito aos bairros da periferia.

Em apoio a Edson do Parolin, Zezinho Sabará (PDT) disse que faltam oportunidades nesses bairros. “Moro numa comunidade idêntica ao Parolin, há 32 anos. Sei das dificuldades que a nossa juventude tem. Para falar mal, você encontra muita gente, mas para ajudar [as comunidades] são poucos”, comentou. “O sensacionalismo e o ódio estão presentes nas redes sociais, em programas de rádio e tevê. Há uma criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Temos várias comunidades em situação de vulnerabilidade. São quase 400 ocupações em Curitiba. Quando a criminalidade está ligada à classe média e às elites, a tendência é colocar panos quentes. Há um tratamento desigual”, concordou Josete.

Minuto de silêncio

Antes das declarações de Edson do Parolin sobre a morte dos quatro jovens da comunidade, o vereador Cristiano Santos (PV) tinha usado a tribuna da CMC para tratar do ocorrido. “Eu confesso que não pensei em aparecer com a situação. Na hora foi tão imediato que eu não parei para pensar se repercutiria ou não”, disse, referindo-se à atenção dada pela mídia a ele ter dito, na segunda-feira (30), que se opunha a guardar um minuto de silêncio pelos mortos. “Eu disse que me recusaria a participar do minuto de silêncio por entender que a Câmara se prestar a isso não é legal”.

“Nós temos trabalhadores e pessoas que contribuem para o desenvolvimento da cidade… Essas, sim, deviam ser homenageadas. A gente tem que direcionar [o minuto de silêncio] para quem merece homenagem, para quem merece reconhecimento. Não para pessoas com passagem pela polícia, comprovadamente dentro de um carro roubado", disse ao se referir ao caso. "E com todo o respeito aos pais desses garotos, quero deixar bem claro isso. Pai não cria filho para ser bandido e mãe não cria filho para ser bandido”, continuou Cristiano Santos.

Na sequência da manifestação, para comprovar sua afirmação que todos os jovens tinham passagem pela polícia, Cristiano Santos exibiu rapidamente no telão do plenário imagens de documentos que afirmou serem aproximadamente 48 páginas correspondentes às fichas criminais. “Documentos obtidos junto às polícias Civil e Militar retratando os antecedentes”, confirmou. Ele fez isso para rebater afirmação publicada “por um blogueiro” cuja menção à recusa de Santos ao minuto de silêncio vinha acrescida de um suposto equívoco do parlamentar quanto a todos possuírem histórico infracional.

“Um blogueiro, que até por algum tempo trabalhou no maior grupo de comunicação do Paraná, e aí acho que foi dispensado… Ele ontem praticamente me chamou de mentiroso”, disse, sobre a situação. “Nós buscamos as informações e temos as fichas criminais dos quatro indivíduos”, afirmou Cristiano Santos. “Está à disposição [o conjunto dos documentos], deixei nas redes sociais,  no meu Facebook, para quem quiser”, continuou, sugerindo “ao blogueiro se informar”. “A gente tem compromisso com a verdade dos fatos”, concluiu.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública, a vereadora Maria Leticia Fagundes (PV) reagiu à exibição dos documentos em plenário. “Baseada na experiência que tenho, eu achei muito irregular, muito desumano e muito desrespeitoso com as famílias apresentarem aqui os BOs [boletins de ocorrência] e as fotos das pessoas envolvidas nessa situação”, reclamou. Ela afirmou que a opinião dos vereadores não é posição oficial da Câmara Municipal, “tampouco da Comissão de Direitos Humanos”.

“Independente de ter ou de não ter [antecedentes criminais], o que a gente não pode concordar é com a morte de jovens no nosso país. Quando eu pedi um minuto de silêncio, esse minuto de silêncio pode ser para qualquer pessoa”, afirmou Professora Josete. “Eu acho que todo ser humano merece consideração, que todo ser humano merece um minuto de silêncio. Independente da história dele, porque se não era uma pessoa de bem, ele merece encontrar o caminho do bem, o caminho da paz. A gente não precisa aqui criminalizar todo mundo e nem ter uma atitude que não condiz”.