Bandeira vermelha: vereadores de Curitiba pedem bom senso no lockdown

por José Lázaro Jr. — publicado 15/03/2021 18h36, última modificação 15/03/2021 18h36
Protocolo de fiscalização, mais ônibus circulando, moratória às empresas e reparação aos empresários e horário ampliado para o delivery foram sugeridos ao Executivo.
Bandeira vermelha: vereadores de Curitiba pedem bom senso no lockdown

Em razão do lockdown, a sessão da CMC foi realizada por videoconferência. (Imagem: Reprodução/YouTube CMC)

Protocolo de fiscalização, mais ônibus circulando, moratória às empresas e reparação aos empresários, horário ampliado para o delivery, propaganda de choque, integração metropolitana nas medidas de combate à pandemia. Mas, sobretudo, os apelos por bom senso prevaleceram, nesta segunda-feira (15), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), durante a primeira das sessões plenárias dedicadas exclusivamente à discussão da pandemia do novo coronavírus. Durante toda esta semana, por decisão do Colégio de Líderes, não se falará de outra coisa na CMC.

Com a notícia, pelas redes sociais, que Curitiba enfrentaria seu primeiro lockdown desde o início da pandemia, há um ano, os vereadores cobraram uma atitude mais respeitosa da prefeitura para com o Legislativo (leia mais). E se apressaram a repassar as ideias que eles julgam ser mais relevantes no momento em que a cidade enfrenta escassez de leitos de UTI e alta no número de casos e de mortes. Em grande parte, elas sugerem que o Executivo assuma um papel de protetor da atividade econômica, para que negócios não fechem, prejudicando, na ponta, a empregabilidade na capital do Paraná.

“A gente precisa de bom senso”, declarou Marcelo Fachinelo (PSC), “e o meio termo é ajudar o empresário que gera empregos”. Ele pediu que a prefeitura reavalia sugestão dele, endossada pelo plenário na semana passada, que indica a implantação de uma moratória fiscal na cidade, postergando cobranças e parcelando dívidas (leia mais). Dalton Borba (PDT) concordou com o parlamentar, dizendo que “quando salvamos um empresário, salvamos empregos”. Lembrou que, na legislatura passada, em parceria com Professor Euler (PSD), sugeriram que a prefeitura emprestasse dinheiro a empresários com zero de juros – mas o projeto foi arquivado pela CCJ (005.00131.2020).

“Com as empresas quebrando, elas deixarão de recolher impostos. Se não sobreviverem, afetará a arrecadação futura. A situação não é simples e é preciso pensar em manter as finanças futuras em ordem. Eu sei que 'é fácil falar', mas não falar e não agir também não é possível”, somou-se Euler, hoje, em plenário. Ele demonstrou especial preocupação com o fechamento das empresas de educação infantil, pois se a rede privada encolher durante a pandemia, o vereador projeta um congestionamento da rede municipal quando a emergência de saúde pública acabar. Noutra parte, Alexandre Leprevost (SD) pediu que o delivery seja ampliado das 20h para as 23h, pois o horário estreito estaria aglomerando os entregadores.

Na mesma linha, Amália Tortato (Novo) sugeriu que as empresas de transporte escolar, há um ano paradas em razão da substituição das atividades presenciais por aulas remotas, pudessem ser usadas no transporte coletivo de Curitiba. Ela fez esse comentário após Denian Couto (Pode) criticar duramente a Urbs – que gerencia os ônibus – por cogitar reduzir a frota durante os nove dias de lockdown. “Deveríamos ter 100% da frota todo o tempo”, afirmou, exigindo mais “razoabilidade” do Executivo, pois menos ônibus implicam em ampliar o risco de contaminação. “Não é uma fala de oposição, é de noção. Ou temos noção, ou a gente vai se inscrever como sem-noção”, disse Couto.

Para Indiara Barbosa, os vereadores precisam trabalhar, nesta semana, com “bom senso e análise crítica”, para “levar soluções viáveis à Prefeitura de Curitiba, que realmente levem benefício a toda a população”. Ela chegou a sugerir que as economias orçamentárias da CMC possam ser alocadas num programa de reparação aos empresários que tiveram que fechar as portas durante o lockdown. Durante a sessão, Ezequias Barros (PMB) criticou o impacto do anúncio do fechamento das atividades industriais e comerciais – “caminhoneiros não conseguiram descarregar, disse –, sendo acompanhado por Sidnei Toaldo (Patriota), que soube de feirantes que perderam seus produtos “por não poder trabalhar [neste sábado]”.

Sidnei Toaldo exigiu que o lockdown seja seguido por outras cidades da região metropolitana, para não sobrecarregar Curitiba com a gestão isolada da crise. Nesse sentido, Professora Josete (PT) leu uma nota do Partido dos Trabalhadores com elogios à gestão de Rafael Greca e um pedido para que o governo do Paraná faça bloqueios regionais semelhantes. “Milhares de vidas poderiam ter sido poupadas se houvesse compromisso com a vida”, opinou a parlamentar. Também o Jornalista Márcio Barros (PSD) e Noemia Rocha (MDB) cobraram mais empatia e humanismo de todos, para que não seja banalizada a situação grave vivida pela cidade.

“O choro da secretária [Márcia Huçulak, da Saúde, numa entrevista à televisão, citada por Dalton Borba durante a sessão]”, comentou o líder do governo na CMC, Pier Petruzziello (PTB), “não é de quem perdeu o controle”. “[É choro] pela falta de respeito com o próximo, pela falta de humanismo e por quem não está preocupado com o que está acontecendo”, disse Petruzziello. Dalton Borba chegou a sugerir que a prefeitura investisse numa campanha de conscientização impactante, “com outdoor, rádio e televisão”, para reforçar o distanciamento social. E que houvesse mais fiscalização sobre quem insiste em permanecer aberto no lockdown.

Sem se opor à fiscalização, Sargento Tânia Guerreiro (PSL) apenas pediu que a Guarda Municipal (GM) tenha um protocolo para agir nessas situações, pois tem recebido queixas do que seria uma exacerbação da GM ao vistoriar os templos religiosos. Seriam duas, até três viaturas para verificar denúncias de aglomeração nas quais bastaria uma, nas palavras da parlamentar. “Os templos são os que respeitam [os decretos] e as igrejas estão abertas para a fiscalização. Até porque as pessoas precisam da palavra de Deus, para acalmar os corações”, ponderou.

Tratamento precoce
Novamente, os vereadores Ezequias Barros e Éder Borges (PSD) defenderam o tratamento precoce à covid-19 – um coquetel de drogas, como ivermectina, cloroquina, azitromicina, zinco, vitaminas C e D, cujo consumo preventivo, segundo o parlamentar, reduziria os efeitos negativos do Sars-CoV-2. Barros, também fez críticas ao médico Clóvis Arns e à secretária da Saúde, Márcia Huçulak, por não incentivarem essa prática na capital, e ao secretário estadual de Saúde, Beto Preto – “que é petista, travestido de social-democrata”.

Barros exibiu em plenário dois vídeos. No primeiro, o médico Adler Menezes Dourado, numa entrevista a um programa regional, em Maringá, da TV Bandeirantes, diz que recomendou com sucesso a ivermectina aos funcionários da sua empresa, zerando os casos de covid-19. Não há referência ao nome do negócio, mas o profissional é apresentado como tendo “12 mil pessoas sob sua responsabilidade”. “Para mim, esse número já bastaria [para comprovar a eficácia do tratamento precoce]. Desde pequenos tomamos o remédio e agora é proibido”, questionou o vereador.

No segundo vídeo, uma reportagem da Rede TV fala de médicos na Europa requerendo estudos sobre ivermectina e, quando confrontados pela correspondente da emissora em Londres sobre a OMS não endossar o tratamento precoce, atribuem a resistência ao lobby das grandes farmacêuticas. “Vou colocar vídeos a semana inteira, falando do tratamento precoce”, antecipou Ezequias Barros. Em sua defesa, Borges questionou: “por que se tenta de tudo, menos o tratamento precoce? Enquanto isso, mais curitibanos adoecem, morrem, empobrecem e se deprimem”.

Desta vez, o contraponto foi feito por Dalton Borba, que pediu aos defensores do tratamento precoce na CMC “mais respeito à comunidade científica” e que, quando Barros se referir ao médico Clóvis Arns, que é curitibano e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, “tenha mais respeito e elegância, pois [Arns] é de um conhecimento inquestionável e de um comprometimento fora do comum, que não trabalha em cima de achismos”. Depois, Renato Freitas (PT), apontou que Adler é médico do Trabalho, numa empresa especializada, logo seria responsável por exames admissionais e demissionais.

“Ele [Adler] não trabalha num hospital, numa unidade de saúde”, contestou Freitas. “Nas redes sociais, ele replica fake news e adesivos bolsonaristas, logo não é imparcial. A própria farmacêutica que fabrica o remédio [ivermectina] disse que não há vínculo [que comprove eficácia contra a covid-19]”, completou o vereador. Depois lembrou a fala, na semana passada, durante a Tribuna Livre, de Lucas Ferrante, pesquisador e biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), contrário à ivermectina (leia mais).