Audiência pública cobra do IAP local para reabilitar animais silvestres

por Assessoria Comunicação publicado 19/10/2017 13h50, última modificação 21/10/2021 10h34

“Lamento profundamente que as pessoas que deveriam nos dar respostas não estejam aqui”, reclamou Fabiane Rosa (PSDC), referindo-se à ausência de representantes do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em uma audiência pública realizada nesta quinta-feira (19) pela Câmara Municipal de Curitiba. A atividade reforçou a denúncia de que, desde março deste ano, está fechado o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que há 18 anos atendia os casos de recolhimento e destinação da vida selvagem.

Durante esses anos um convênio entre o Ibama e a PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) permitiu a operação do Cetas em uma área apropriada para o manejo de animais silvestres, no município de Tijucas do Sul. Questões financeiras impediram a renovação do acordo, que nesse ínterim passou a envolver o IAP, pois o órgão assumiu a gestão da fauna no Paraná, delegada a ele pelo Ibama. Quem explicou essa situação aos participantes da audiência foi o biólogo Eduardo Carrano, que antes coordenava o Cetas.

“Nesses 18 anos, o Cetas recebeu cerca de 32 mil animais, de inúmeras espécies. Delas, 90% eram aves, principalmente pássaros antes mantidos em cativeiro, pelo canto ou pela plumagem”, ele relatou. O biólogo pontuou a ação do Centro de Triagem em ações policiais contra o tráfico de animais, socorro a atropelamentos em rodovias e até atendimento a bichos abandonados por circos. “Teve vezes em que recebíamos apreensões [de pássaros] com 800, 700 aves, em que todas já estavam mortas”, disse.

Carrano se queixou da ação predatória do tráfico, mas também alertou que o Cetas recebias animais feridos depois de colisão com carros, com a fiação elétrica, atingidos por armas de fogo ou atacados por cães e gatos. “Isso explica a mortalidade de 30% dos animais. Os outros [70%] eram levados a criadouros científicos, zoológicos ou devolvidos com responsabilidade ao meio ambiente, atentando para a área de distribuição geográfica da espécie, pois um [bicho silvestre sem o manejo adequado] pode transportar uma zoonose, que acaba arrasando populações”, afirmou.

Fabiane Rosa elogiou o trabalho realizado, reclamando que a ausência do Cetas dificultou o atendimento a animais silvestres em Curitiba. Ela citou casos que se espalharam pelas redes sociais, de uma coruja e de uma garça. “Não podemos permitir que os animais silvestres hoje fiquem tão desprotegidos. Até por que precisam de ambientes especiais, próprios para o tratamento.” A vereadora cobrou o IAP várias vezes durante a audiência, pois a PUC-PR alertou o órgão público que tinha a intenção de sair do convênio com um ano de antecedência.

Envolvimento
Se o IAP e o Ibama não enviaram representantes à audiência, membros do Movimento SOS Bicho, do Fórum de Defesa dos Direitos dos Animais em Curitiba e do Instituto de Proteção Animal e Exercício da Cidadania (Ipaec) compareceram. Também membros do departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) de Curitiba e da Secretaria de Meio Ambiente de São José dos Pinhais. “Tem muita coisa para fazer [na proteção dos animais silvestres], então [quem cuida de cães e gatos] poderia focar um pouquinho mais nisso”, sugeriu o deputado estadual Stephanes Junior (PSB), que participou da audiência.

“A prefeitura poderia se dedicar um pouco mais também”, continuou Stephanes, alertando para a redução pela metade do número de espécies de pássaros em Curitiba nos últimos 20 anos. “A cidade mudou”, disse o deputado, “mas também não houve preocupação das pessoas no sentido de mudar a mentalidade e aprender a conviver com a vida silvestre. Tem que tratar [bem] a vida silvestre tanto quanto cães e gatos”. Ele sugeriu a retomada da criação de parques na cidade, o plantio de árvores frutíferas (para a alimentação dos pássaros) e o enterramento da fiação suspensa nos postes.

Stephanes fez um paralelo com a Guarda Municipal para justificar seu pedido por envolvimento da Prefeitura de Curitiba na questão. “Não é papel da Guarda Municipal fazer patrulhamento, ronda ostensiva, mas a guarda faz porque não tem mais como não fazer”, opinou. Márcia Arzua, diretora do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da SMMA, disse que o órgão entende seu papel nesse atendimento à vida selvagem. “O prefeito está preocupado”, disse ela, exemplificando que aos fins de semana o Passeio Público tem recolhido animais silvestres levados lá pela população.

“Depois encaminhamos [os animais recolhidos] para o IAP, pois o Zoológico Municipal e o Passeio Público não têm mais espaço para abrigar  [os bichos] e também por não ser nossa função”, respondeu Márcia Arzua. Referindo-se a um dos aspectos do debate, que durou duas horas ao todo, ela disse que o Museu de História Natural recebe espécimes mortos por atropelamento nas rodovias, e que ela estava surpresa pois mamíferos ameaçados em extinção, vítimas dos veículos, são levados lá pelas concessionárias das estradas.

Esse também foi o tópico abordado por Tosca Zamboni e Laelia Tonhozi, da SOS Bicho, e por Leila Orilio, do Ipaec, que adiantaram aos presentes uma ação do Ministério Público do Paraná sobre as concessionárias de rodovias em todo o Paraná, decorrente de questionamentos da entidade. Elas e os demais presentes, ao mesmo que cobravam uma ação do IAP para suprir a lacuna deixada pelo fechamento do Cetas, exigiam concurso público para o órgão, que não teria hoje nem profissionais habilitados para o atendimento da vida selvagem, nem estrutura adequada para receber os animais. Bernardo Mariano, assessor do deputado Stephanes, adiantou que uma audiência pública só sobre esse ponto será realizada na Assembleia Legislativa do Paraná no dia 7 de dezembro.

O biólogo Itiberê Bernardi, que trabalha com mamíferos há 17 anos e acompanhou o funcionamento do Cetas da fundação ao fechamento, neste ano, reclamou do “descaso” com o assunto. “As pessoas que poderiam nos dar respostas, que são as autarquias [IAP e Ibama] se omitiram desta reunião. Então as perguntas continuarão no ar. Com o fechamento do Cetas quem mais perdeu foi a fauna silvestre. Desde então, onde o IAP mantém os animais recolhidos?”, ele questionou. Todas as intervenções e dados apresentados podem ser conferidos no registro do áudio do evento, organizado pela Frente Parlamentar da Defesa Animal, no canal da Câmara Municipal no YouTube.