Audiência da Saúde: Executivo descarta vacinação de crianças nas escolas

por José Lázaro Jr. | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 22/02/2022 18h30, última modificação 23/02/2022 09h35
Criticando o movimento antivacina, Márcia Huçulak disse que um comitê na Secretaria Municipal da Saúde cogitou vacinar crianças nas escolas, mas descartou pela logística e por ser necessária a presença dos pais.
Audiência da Saúde: Executivo descarta vacinação de crianças nas escolas

Com a pandemia, as sessões da CMC são híbridas: presencial e por videoconferência. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Nesta terça-feira (22), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), a secretária da Saúde, Márcia Huçulak, teve que responder a um pedido frequente dos vereadores da cidade nas últimas sessões plenárias. Ela descartou a vacinação contra covid-19 nas escolas municipais pela necessidade dos pais acompanharem a imunização e pela logística do transporte das vacinas, que precisam de refrigeração constante. “A gente discutiu a vacinação nas escolas, mas ela não facilita”, disse a gestora do SUS aos vereadores.

“A gente preza muito em Curitiba [pela integridade da vacinação]. A gente preza pela rede de frio [para a manutenção da qualidade das vacinas] e esses são dias quentes. Não é só aplicar [o imunizante], tem que aplicar uma vacina eficaz e eficiente”, justificou Huçulak. A secretária da Saúde falou duramente contra o movimento antivacina e afirmou, sem mencionar nomes, que “temos que lamentar a fala de lideranças nacionais, pondo em dúvida a vacina”. Hoje, 56% das crianças de 5 a 9 anos de idade tomaram a primeira dose da vacina em Curitiba, ante 74% dos jovens de 10 a 14 anos e 81% dos com 15 a 19 anos de idade. 

A equipe da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) participou, por videoconferência, da audiência pública para prestação de contas à Comissão de Saúde, Bem-Estar Social e Esporte da CMC. Por lei, a cada quatro meses a SMS precisa apresentar à cidade os indicadores da gestão do SUS (Sistema Único de Saúde). A audiência foi coordenada por Noemia Rocha (MDB) e Marcelo Fachinello (PSC), presidente e vice, respectivamente, do colegiado, que é formado também por João da 5 Irmãos (PSL), Oscalino do Povo (PP) e Pastor Marciano Alves (Republicanos).

Na primeira parte da audiência pública, a equipe da SMS apresentou os indicadores e falou do lançamento do Plano de Saúde 2022-2025, com diretrizes para a saúde pública na cidade (confira aqui). Na parte final, Márcia Huçulak e equipe responderam a questionamentos de 12 dos 38 parlamentares, além de uma pergunta da população, feita pelas redes sociais. Foi durante essa interação, por exemplo, que a secretária afirmou ter denunciado ao Conselho Regional de Medicina dois profissionais que estavam desincentivando a vacinação de crianças na capital do Paraná.

Dois questionamentos apareceram mais, por terem sido pontos levantados por mais de um parlamentar. Primeiro, o aumento no indicador da mortalidade materna em 2021 “que subiu 185%”, alertou a Professora Josete (PT), e a maior quantidade de trabalhadores contratados pela Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde (Feaes) em detrimento do chamamento de concursados. “Estamos sem banco de concurso, o último foi realizado em 2015. Para não prejudicar a população, nós usamos a fundação estatal, que tem sido um apoio muito importante. A Feaes é da SMS, ela é da administração pública”, rebateu Huçulak.

Sobre o aumento da mortalidade materna, o diretor do Centro de Epidemiologia da SMS, Alcides Augusto Souto de Oliveira, pontuou que, dos 17 óbitos registrados, 9 foram em decorrência da covid-19. “Não quero simplificar”, ele disse aos vereadores, “mas a avalanche da covid-19 atingiu todos os segmentos, inclusive as gestantes”. Oliveira disse que mesmo tendo registrado letalidade de 7,8%, Curitiba ficou abaixo da média do Paraná, que foi de 11%, e bem abaixo de outros estados, como Roraima, onde é de 55%.

Flávia Celene Quadros, superintendente de gestão da SMS, abordou outro aspecto da questão, ao garantir que “não houve peregrinação em busca de maternidade, como foi falado”. Ela se refere a uma hipótese trazida pela vereadora Maria Leticia (PV), que o fechamento da Maternidade do Bairro Novo e da Maternidade Victor Ferreira do Amaral teria prejudicado a atenção às gestantes. “Em 2020, as duas unidades já estavam fechadas”, informou, dizendo que os atendimentos foram deslocados para o Hospital de Clínicas da UFPR e para o Hospital Evangélico Mackenzie. “Os óbitos foram decorrentes da pandemia e não do local de parto”, completou.

Fizeram perguntas e comentários à equipe da SMS os vereadores Noemia Rocha, Marcelo Fachinello, Oscalino do Povo, João da 5 Irmãos, Maria Leticia, Professora Josete, Sidnei Toaldo (Patriota), Carol Dartora (PT), Nori Seto (PP), Dalton Borba (PDT), Mauro Ignácio (DEM) e Serginho do Posto (DEM). As respostas sobre atendimentos da Saúde Mental, leptospirose, cirurgias eletivas, obras em unidades de saúde, Estratégia da Saúde da Família e o porquê de escolas retomarem presencialmente com lotação completa, enquanto o comércio tem limitação de público, estão disponíveis, na íntegra, no vídeo da audiência pública, disponibilizado no YouTube (confira aqui).