Plenário aprova moção de apoio ao médico infectologista Clóvis Arns

por Pedritta Marihá Garcia — publicado 17/03/2021 17h55, última modificação 17/03/2021 19h26
Na semana passada, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia foi chamado em plenário de “infeliz” por não recomendar o tratamento precoce contra a covid-19.
Plenário aprova moção de apoio ao médico infectologista Clóvis Arns

Clóvis Arns é professor de Infectologia da UFPR e integra os quadros clínicos do Hospital de Clínicas e do Hospital Nossa Senhora das Graças. (Foto: Nelson Toledo/Sociedade Brasileira de Infectologia)

Na segunda parte da ordem do dia desta quarta-feira (17), os vereadores foram unânimes ao aprovar uma moção de apoio ao médico curitibano e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns da Cunha. Assinado por Maria Leticia e outros 14 vereadores, o requerimento foi protocolado após o especialista ter sido chamado de “infeliz” por Ezequias Barros (PMB) por não recomendar o tratamento precoce contra a covid-19. A declaração foi feita na última segunda-feira (8) durante um debate sobre o enfrentamento da pandemia e já naquele dia motivou várias manifestações em desagravo ao infectologista.

Responsável pelo protocolo da moção (416.00009.2021), Maria Leticia destacou que Clóvis Arns “desenvolve um trabalho admirável no combate à covid-19” e defendeu o posicionamento do colega de profissão, ao exibir o trecho de um vídeo em que o infectologista explica como é o tratamento suportivo e farmacológico da doença, sob o argumento técnico de que o uso de corticoides na fase precoce não deve ser prescrito porque faz mal e pode evoluir para o surgimento de doenças graves. Na sua apresentação – direcionada ao Senado Federal – o médico atesta que “nenhuma sociedade brasileira médica ou internacional, nenhuma agência regulatória de medicamentos recomenda tratamento farmacológico para profilaxia (antes de apresentar a doença) ou na ‘fase precoce’ (primeiros dias de doença)”.

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em Medicina Interna pela UFPR, Clóvis Arns é professor de Infectologia da UFPR e integra os quadros clínicos do Hospital de Clínicas da UFPR, no Serviço de Infectologia e Transplante de Medula Óssea; do Hospital Nossa Senhora das Graças; e do Centro Médico São Francisco. Possui vasta experiência na Medicina, com ênfase em doenças infecciosas e parasitárias, atuando em pesquisas sobre os temas vacinas, HIV-AIDS, infecções comunitárias, resistência bacteriana, infecções hospitalares, infecções fúngicas invasivas.

“Esta moção demonstra respeito na trajetória do dr. Clóvis no Brasil e em todo o mundo”, complementa Maria Leticia, cujo apoio foi referendado por vereadores que assinaram e que também não assinaram o requerimento. Ao dizer que “admira o trabalho” do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Indiara Barbosa (Novo) relatou que recebe, diariamente, solicitações de pessoas “em relação ao assunto e tem procurado se informar sobre o tratamento precoce”. Para ela, o debate é importante porque, no próprio vídeo, Clóvis Arns comenta que a ciência está sendo desenvolvida, “procurando soluções e medicamentos para esta doença tão grave”.

“Dr. Clóvis Arns é um dos chefes do Hospital Nossa Senhora das Graças e estendo essa homenagem à sua equipe. Ele tem competência inegável. Quem assiste o vídeo com atenção não tem mais dúvidas do que é o certo e do que é o errado na questão dos tratamentos [contra a covid-19]”, disse Alexandre Leprevost (SD), ao informar que acompanhou de perto a assistência médica dada pelo especialista a um de seus familiares. “Clóvis Arns é renomado, preparado, capacitado e tem, neste momento, inclusive colaborado com esta Casa de Leis, trazendo informações que são relevantes para a sociedade e baseadas na ciência. Bandeira vermelha revela que o momento é seríssimo e a vacina, que é a solução, continua a ‘pinga gotas’”, emendou Leonidas Dias (SD), que assina o requerimento.

Também coautora do desagravo, Professora Josete disse que o objetivo do requerimento também é demonstrar que o Legislativo respeita todas as pessoas, independente do espaço que ocupam ou da classe social. “Não podemos permitir que profissionais com a postura, com a história, com a caminhada como a do dr. Clóvis Arns, sejam desrespeitados. A Casa precisa sempre se pautar por artigos e pesquisas científicas publicados em instrumentos que são referência no mundo da ciência. Isso é fundamental. Temos o dever de informar as pessoas e para informar temos que ter a clareza de que essa informação precisa ser pautada em dados técnicos e científicos.”

A palavra “infeliz”
Favorável à moção de apoio, Ezequias Barros (PMB) explicou que, apesar de ter se referido ao médico como “infeliz”, não tem nada pessoal contra Clóvis Arns, “pelo contrário, entendo a importância dele na questão da infectologia no Brasil, como presidente que ele é”. “Creio que ele tem importância nesse cenário, ninguém chega no lugar onde ele está sem ter responsabilidade no que faz. A minha preocupação é que têm outros estudos e nós podemos juntar as duas coisas, discutir as duas coisas. (...) Usei a palavra ‘infeliz’, mas não tenho problema algum em retirar”, emendou o vereador, reiterando seu apoio ao tratamento precoce contra a covid-19, como fez, na semana passada.  

“Fico feliz em testemunhar a fala do vereador Ezequias, que declarou que não tem nada pessoal contra o dr. Clóvis Arns. Mas o vereador perdeu uma grande chance de pedir desculpas formalmente”, respondeu Dalton Borba (PDT), outro parlamentar que assina a moção de apoio. “Amigo pessoal” do especialista, ele afirmou que Arns é “uma das pessoas mais humanas” que conhece e que é um profissional “reconhecido no Brasil e no exterior e que trabalha com dados científicos, na esteira de toda a busca e todo o conhecimento acadêmico e científico mundial. “Merece sim, o nosso respeito”, finalizou.

Além de Dalton Borba, Leonidas Dias, Professora Josete e Maria Leticia, também assinam o requerimento acatado pelo plenário: Beto Moraes (DEM), Carol Dartora (PT), Herivelto Oliveira (Cidadania), Marcos Vieira (PDT), Nori Seto (PP), Pier Petruzziello (PTB), Professor Euler (PSD), Serginho do Posto (DEM), Sidnei Toaldo (Patriota), Tico Kuzma (Pros) e Tito Zeglin (PDT).