Tribuna Livre: Zulmiro, o último pirata do século XIX que viveu em Curitiba

por Pedritta Marihá Garcia — publicado 26/08/2021 16h05, última modificação 26/08/2021 17h27
A convite de Herivelto Oliveira (Cidadania), autor do livro “Crônicas do Pirata Zulmiro” contou a história por trás da obra que conta como o último pirata do século XIX veio para a capital e viveu aqui por 50 anos.
Tribuna Livre: Zulmiro, o último pirata do século XIX que viveu em Curitiba

Francis Hodder, o pirata Zulmiro, morou em Curitiba por 50 anos entre 1829 e 1889, quando faleceu. Aqui, adotou o nome de João Francisco Inglez. Era desertor da Marinha Britânica. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Em 1829, um inglês chamado Francis Hodder veio morar em Curitiba, mas adotou outor nome: João Francisco Inglez. Esse imigrante não veio junto com a família para se estabelecer com mulher e filhos como tantos outros que aqui se instalaram no século XIX. Mais conhecido hoje como Pirata Zulmiro, ele veio se esconder na capital e por aqui viveu 50 anos, até a sua morte, em 1889. A história do pirata, que marca um ciclo de tesouros escondidos e nunca encontrados, foi relatada no plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) nesta quarta-feira (25).

A convite do vereador Herivelto Oliveira (Cidadania), o pesquisador Marcos Juliano Ofenbock, autor do livro “Crônicas do Pirata Zulmiro”, esteve na Tribuna Livre desta semana para falar sobre os documentos oficiais que o ajudaram a elucidar um dos maiores roubos da história da pirataria mundial, e que tem relação direta com a cidade, local escolhido por um dos piratas responsáveis por esse roubo para se esconder.

No bate-papo com os parlamentares, que aconteceu antes das votações da ordem do dia, compartilhou as primeiras e últimas descobertas sobre a biografia de Zulmiro. O eremita morou na região do Pilarzinho e passou despercebido, e só no fim da vida, confessou a outro imigrante inglês, Edward Young, que foi um dos piratas que escondeu um tesouro repleto de relíquias da Catedral de Lima, do Peru, na Ilha de Trindade, hoje pertencente ao Espírito Santo.

Esse tesouro, contou Ofenbock, foi roubado em 1821 – 200 anos atrás –, durante a Revolução Peruana e até hoje nunca foi encontrado. Zulmiro teria confidenciado a conterrâneo, Young, que tornou-se pirata após desestar da Marinha Britânica e adotado esse nome. E em 1880, entregou a ele o roteiro do tesouro da Ilha de Trindade. E apesar de ter sua identidade revelada, somente em 1912, após sua morte, é que sua passagem pelo Brasil foi divulgada pela primeira vez: neste ano, o jornal “A Republica” relatou que o pirata Zulmiro viveu em Curitiba.

 “O último capitão pirada do século XIX veio se enconder em Curitiba há 190 anos. Curitiba está conectada com maior história de tesouros e piratas do mundo. O tesouro da Ilha da Trindade está avaliado em mais de U$ 1 bilhão”, informou o pesquisador, que descobriu o registro de óbito de João Francisco Inglez, no Cemitério Municipal de São Francisco de Paula. Ele faleceu em 24 de agosto de 1889.

Sobre a verdadeira identidade do pirata, Marcos Ofenbock disse ter usado um pouco da lógica e de relatos para relacionar o nome usado por Zulmiro ao se instalar em Curitiba e o pouco que sabia sobre a sua família, e descobriu que ele, sendo natural de Cork, no Reino Unido, e nascido em 1798, era o mesmo Francis Hooder, da família Hooder que tinha conexão com a marinha e coroa britânicas.

Documentos recentes
Até três meses atrás, o pesquisador acreditava que o Pirata Zulmiro havia se instalado no Pilarzinho, na região onde hoje fica a Unilivre – Universidade Livre do Meio Ambiente, em 1838; mas ao encontrar sua certidão de casamento nos arquivos da Igreja Matriz, que data de 1829, Ofenbock reescreveu a história, pois João Francisco Inglez passa a ser o primeiro imigrante europeu a se instalar em Curitiba após a independência do Brasil – e não os alemães, em 1833.

Um documentário sobre a história do pirata e sua relação com Curitiba será lançado em breve, segundo o convidado da Tribuna Livre. Ofenbock também negocia, com a Netflix e com o History Channel a produção de filmes e séries baseados em seu livro. Aos vereadores, ele também informou que toda a sua pesquisa – que até agora já soma 17 anos – só foi possível graças ao acesso aos arquivos digitais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e ao contato que mantém com descendentes de Edward Young, que conviveu com o pirata, e do próprio Zulmiro – tataretos dele vivem no interior do Paraná.

A história do pirata também foi relatada por Marcos Juliano Ofenbock no podcast da CMC, o Curitibacast (ouça aqui). Participaram do debate os vereadores Herivelto Oliveira, Ezequias Barros (Republicanos), Nori Seto (PP), João da 5 Irmãos (PSL), Maria Leticia (PV) e Professora Josete (PT).

 Tribuna Livre
A Tribuna Livre é um espaço democrático de debates mantido pela CMC, para ser canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Os temas discutidos na Tribuna Livre são sugeridos pelos vereadores, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc.

Conforme o Regimento Interno do Legislativo, as Tribuna Livres ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – geralmente, após a votação dos projetos de lei e demais proposições, a menos que ocorra a inversão da pauta. Se você participa de uma entidade, representa uma causa ou atividade coletiva, entre em contato com um dos vereadores para sugerir a realização da Tribuna Livre. O RI veda o uso desse espaço por representantes de partidos políticos; candidatos a cargos eletivos; e integrantes de chapas aprovadas em convenção partidária.

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