Tribuna Livre alerta para inclusão da pessoa com síndrome de Down

por Fernanda Foggiato | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 23/03/2022 15h45, última modificação 23/03/2022 18h02
A convite de Pier Petruzziello, a CMC ouviu a advogada Marlene Dias Carvalho e a jovem com síndrome de Down Marilia Iarocrinski.
Tribuna Livre alerta para inclusão da pessoa com síndrome de Down

Pier Petruzziello, propositor da atividade, entre Marlene Dias Carvalho (à esq.) e Marilia Iarocrinski (à dir.). (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

“Para que a inclusão de fato aconteça, é necessário quebrar diversas barreiras”, afirmou, na Tribuna Livre da sessão plenária desta quarta-feira (23), a advogada Marlene Dias Carvalho, ativista dos direitos da pessoa com deficiência (PcD). Por proposição do vereador Pier Petruzziello (PTB), o espaço democrático de debates da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) foi alusivo ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado na última segunda (21). 

“A data tem como principal objetivo conscientizar a população sobre a inclusão”, frisou Petruzziello. É ele o autor de proposta de lei para criar a Política Municipal de Proteção dos Direitos da Pessoa com Síndrome de Down (005.00054.2022). A ideia é incentivar, por exemplo, a inserção no mercado de trabalho (saiba mais). “Temos uma luta importante pela empregabilidade da pessoa com deficiência”, acrescentou o vereador. 

O projeto foi protocolado na última segunda, justamente o Dia Internacional da Síndrome de Down – instituído em 2006 pela Down Syndrome International e reconhecido, seis anos depois, pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data escolhida, 21/03, remete à trissomia (triplicação) no cromossomo 21. Em 2022, a campanha tem como tema "O que significa inclusão?” (acesse). 

Marlene falou em nome da Federação Paranaense de Associações de Síndrome de Down (FEPASD). Ela também integra o comitê jurídico da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD); coordena o Grupo Somos Mais, para pessoas com síndrome de Down e seus familiares; e já presidiu a Associação Reviver Down.  

>> Assista à Tribuna Livre na íntegra. 

A ativista é mãe de uma moça com síndrome de Down - Mayara Dias Carvalho, que estudou, trabalha e agora deseja morar sozinha. Muitos dos jovens do Grupo Somos Mais, disse a oradora da Tribuna Livre, participam das atividades porque “querem protagonizar a própria história”. “Estão prontos para o mercado de trabalho, mas não são oferecidas as oportunidades”, ponderou. 

Citando leis e convenções que asseguram a inclusão da pessoa com deficiência, a convidada observou que muitos direitos ainda não são assegurados. Marlene relatou que a dor das famílias começa quando as escolas se recusam a receber as crianças. “Quando a criança com síndrome de Down nasce, ela não vem com um manual de instruções". 

De acordo com a convidada, são positivos os resultados das empresas paranaenses que fizeram a inclusão de pessoas com deficiência intelectual. “E nas instituições públicas, quantos empregados com deficiência intelectual ocupam cargos?”, observou. 

Ainda na luta para quebrar o preconceito, a convidada alertou que desde 2007 não se fala que a pessoa porta uma deficiência – o correto é se referir à pessoa com síndrome de Down. Muito menos se usa a palavra “deficiente”. Outro ponto é que a síndrome não é uma doença, e sim uma alteração genética na divisão celular do óvulo que resulta na trissomia (um par a mais no cromossomo 21). 

História de superação

“Meus pais sempre incentivaram que eu fizesse de tudo”, destacou a jovem com síndrome de Down Marilia Iarocrinski. Ela concluiu o Ensino Médio, fez cursos em diferentes áreas, da massoterapia à fotografia, sem deixar de lado as noções de informática, e conquistou a inserção no mercado de trabalho. 

Marilia, há seis anos, é contratada de uma multinacional, onde atua como auxiliar administrativa. “Os direitos das pessoas com deficiência estão nas leis”, reforçou. Na fala aos vereadores sobre a superação das dificuldades e quebra de preconceitos, ela ainda contou que tem um namorado já há alguns anos.

Compromisso da CMC

O presidente Tico Kuzma (Pros) disse que a Mesa estudará a contratação de pessoas com síndrome de Down e outras deficiências junto às empresas terceirizadas que prestam serviços à instituição. “Fica o compromisso da Casa”, declarou. 

Mãe de um menino com autismo, Flávia Francischini (PSL) ressaltou a importância do debate sobre a inclusão. Primeira-secretária da CMC, ela lembrou que desde maio do ano passado o jovem autista Érico Pereira, que é estudante de Matemática, estagia em seu gabinete.  

Na discussão com os vereadores, um tema de bastante repercussão foi a inclusão nas escolas. “Nós do Grupo Somos Mais e da Federação não concordamos com as escolas especiais. Nós sabemos que a escola regular é o lugar dos nossos filhos”, defendeu Marlene. A medida, avaliou ela, é benéfica ao desenvolvimento da criança com síndrome de Down e dos demais alunos. 

A convidada também falou, após questionamento de Maria Leticia (PV), do atendimento especializado, o mais cedo possível, em diferentes áreas, como fonoaudiologia e psicoterapia. “Nossa luta diária é para que as crianças sejam encaminhadas aos atendimentos precoces. Existe a janela e se os pais perdem esse momento as crianças vão sentir isso na vida adulta". 

“Com relação às políticas públicas, é o que mais sonhamos”, disse Marlene em resposta à Professora Josete (PT). A ativista salientou que os grupos de defesa da PcD podem ajudar na construção de projetos de lei na área. 

Dalton Borba (PDT) chamou a atenção para as políticas públicas de “conscientização efetiva” ao tema. “O que me preocupou é saber que o Paraná é o estado com menos inclusão”, observou Noemia Rocha (MDB). João da 5 Irmãos (PSL), por sua vez, fez um relato sobre a sobrinha com síndrome de Down, que no próximo domingo (27) completará 6 anos de idade. 

Também participaram da discussão os vereadores Indiara Barbosa (Novo), que pediu para Marlene falar dos avanços nos últimos anos; Marcos Vieira (PDT), que citou projetos na área da defesa dos direitos da pessoa com deficiência; Sidnei Toaldo (Patriota), que pediu para Marilia falar mais dos cursos que a prepararam para o mercado de trabalho; e Sargento Tânia Guerreiro (PSL), que contou da experiência no combate à pedofilia. 

A Tribuna Livre foi acompanhada pela presidente da Federação Paranaense de Associações de Síndrome de Down (FEPASD), Noemia da Silva Cavalheiro; por Jucimar Dias, do Grupo Somos Mais; por Mayara, filha de Marlene; e por Agostinho Iarocrinski, o pai de Marilia, entre outros convidados. Acesse, no Flickr da CMC, o álbum de fotografias da atividade.

Tribuna Livre

Espaço democrático de debates, a Tribuna Livre é mantida pela CMC como um canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Conforme o Regimento Interno do Legislativo, os debates ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – conforme acordo de líderes, após os pronunciamentos do pequeno expediente. 

Os temas são sugeridos pelos vereadores, que por meio de requerimento indicam uma pessoa ou entidade para a fala em plenário. O espaço pode servir para a prestação de contas de uma organização que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc.

Confira aqui os temas discutidos nas últimas Tribunas Livres.