Prefeitura anuncia expansão da Rede de Atenção Psicossocial

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 04/09/2025 10h35, última modificação 09/09/2025 16h38
A Tribuna Livre é realizada às quartas-feiras, na Câmara de Curitiba, para discutir temas de interesse público com a sociedade civil.
Prefeitura anuncia expansão da Rede de Atenção Psicossocial

Luciana Sydor, da Secretaria de Saúde, foi a convidada da Tribuna Livre nesta quarta-feira na CMC. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Na sessão plenária de quarta-feira (3), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Luciana Maísa da Silva Sydor, para apresentar o funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e os desafios de sua manutenção aos vereadores. A participação ocorreu durante a Tribuna Livre, que é um espaço semanal, às quartas-feiras, no Legislativo, dedicado ao debate de temas de interesse público com a sociedade civil.

Além de explicar o funcionamento da Raps para os vereadores, Luciana Sydor anunciou que o Centro de Atenção Psicossocial (Caps)  Pinheirinho será transformado em Caps III, com leitos para internações breves, e o Caps Boqueirão funcionará em espaço mais amplo e adequado. Há também previsão de abertura de um novo Caps infantil, na região do Boqueirão. “Estamos trabalhando intensamente”, afirmou a coordenadora da SMS.

O convite para a vinda de Luciana Sydor foi feito pela Comissão Executiva da Câmara de Curitiba, presidida pelo vereador Tico Kuzma (PSD), com apoio do 1º secretário Bruno Rossi (Agir) e da 2ª secretária Indiara Barbosa (Novo). A palestra foi transmitida ao vivo pelo canal da CMC no YouTube.

Porta de entrada é a atenção primária, mas busca ativa é possível

Luciana Sydor explicou que a Raps é formada por uma combinação de serviços de diferentes níveis de complexidade, articulados para garantir um cuidado integral. A porta prioritária de entrada é a atenção primária, presente nos bairros e próxima da realidade das comunidades. “A atenção primária conhece a cultura daquela comunidade, conhece aquela família e é responsável pelo cuidado continuado e integral do sujeito”, afirmou. Essa proximidade permite que profissionais generalistas façam o primeiro acolhimento e contem com apoio de equipes especializadas em psicologia e psiquiatria.

Para casos mais graves, explicou a coordenadora de Saúde Mental, existem ambulatórios próprios e credenciados, teleatendimento para quem não pode se deslocar e equipes específicas voltadas a crianças e a adolescentes. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são o eixo mais conhecido da rede, destinados a situações em que o sofrimento psíquico já provoca impactos profundos na vida da pessoa, como dificuldade de manter vínculos familiares ou permanecer no trabalho. “O Caps funciona de porta aberta. Você pode ir até um Caps e fazer uma busca ativa”, explicou Luciana Sydor, reforçando que esses serviços trabalham sempre em parceria com a atenção primária, para garantir cuidado contínuo e integral.

Câmara Intersetorial de Saúde Mental reúne órgãos da área

A coordenadora da SMS ressaltou que a rede precisa lidar com situações complexas, que exigem intervenções conjuntas. Há desde casos em que o apoio ambulatorial é suficiente até aqueles que necessitam de internações breves em hospitais psiquiátricos, monitoramento pelo Samu ou acompanhamento em residências terapêuticas. Essas casas acolhem pessoas que passaram décadas internadas em instituições e perderam parte de sua autonomia. “Essa rede trabalha em harmonia, a pessoa pode estar em dois, três pontos ao mesmo tempo. É uma rede que vai cuidar da pessoa, não é só um equipamento, por isso que é Raps”, declarou Luciana.

Ela destacou ainda a Câmara Intersetorial de Saúde Mental, que reúne diferentes secretarias e regionais para debater problemas que influenciam diretamente a saúde da população, como desemprego, violência ou situações de acúmulo de lixo e risco de epidemias. Como exemplo, mencionou a mobilização no Tatuquara para enfrentar focos de dengue em domicílios de pessoas acumuladoras, articulando saúde, assistência social e meio ambiente.

Vereadores destacam importância do Raps para Curitiba

Durante a Tribuna Livre, vereadores ressaltaram a relevância do tema e apontaram caminhos para o fortalecimento da política. Pier Petruzziello (PP) lembrou sua atuação na criação da Câmara Técnica Intersetorial e na implantação da Casa Irmã Dulce, no Tatuquara. “Fui o primeiro vereador a realmente valorizar dentro da Secretaria de Saúde o Departamento de Saúde Mental”, disse, pedindo que a presidência da CMC paute projetos ligados à área para votação em plenário.

O líder do governo, Serginho do Posto (PSD), destacou a realidade de pessoas sem apoio familiar. Para ele, a rede precisa estar preparada para acolher cidadãos em situação de desamparo. A vereadora Vanda Assis (PT) questionou sobre a ampliação de profissionais, a política de redução de danos prevista na legislação nacional e a relação dos Caps com a rede de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica.

Luciana Sydor reconheceu que a Saúde Mental exige atuação além dos limites da saúde. “Quando a pessoa já não tem família, cabe a nós, e não é só nós da saúde, é nós [do] Estado, suprir essas necessidades. Sem esse apoio, a pessoa não vai conseguir se restabelecer”, afirmou. Ela também explicou que há fluxos rápidos de atendimento para crianças e mulheres em situação de risco, com encaminhamentos diretos feitos pela rede de proteção.