Os Manuscritos: documentos antigos "traduzidos" por Francisco Negrão

por Michelle Stival da Rocha | Pedritta Marihá Garcia — publicado 21/12/2018 07h25, última modificação 02/05/2022 15h42
A letra rebuscada e as diferenças na grafia das palavras tornam a leitura praticamente impossível.
Os Manuscritos: documentos antigos "traduzidos" por Francisco Negrão

O funcionário público Francisco Negrão, fascinado pela história do Paraná, transcreveu à máquina diversos manuscritos da CMC, o que facilita a pesquisas sobre o passado da cidade até hoje. (Foto: Divulgação)

Entender o que está escrito nas atas originais da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) disponíveis no hotsite “Os Manuscritos” não é tarefa fácil. A letra rebuscada e as diferenças na grafia das palavras tornam a leitura praticamente impossível. Mas para quem tem curiosidade de saber o que faziam as pessoas há 100, 200, 300 anos atrás em Curitiba, há uma saída. No início do século passado, Francisco Negrão, funcionário público da cidade, resolveu desvendar o mistério transcrevendo cada livro que encontrou. À coleção ele deu o nome de Boletins do Archivo Municipal de Curytiba (BAMC) – Documentos para a história do Paraná.

O Livro Tombo, por exemplo, que está no hotsite “Os Manuscritos”, tem sua transcrição logo abaixo, na exata ordem em que foi montado, pois não segue a cronologia dos fatos – trabalho realizado pela equipe da Casa da Memória. O volume 1 do BAMC de Francisco Negrão aparece na sequência, com os documentos organizados por data, no gosto do autor. Outros manuscritos que serão publicados futuramente no endereço eletrônico também terão suas respectivas transcrições.

Diversos volumes do BAMC estão disponíveis para consulta na Biblioteca da CMC. (Foto: Michelle Stival da Rocha/CMC)
Diversos volumes do BAMC estão disponíveis para consulta na Biblioteca da CMC. (Foto: Michelle Stival da Rocha/CMC)

Negrão escreveu mais 61 volumes, com registros oficiais desde a fundação da Vila até 1932. Sua história já foi contada na página do Nossa Memória do site da CMC pelo jornalista da Diretoria de Comunicação, João Cândido Martins. “Graças a Francisco de Paula Dias Negrão (1871-1937), o patrimônio documental da Câmara Municipal é hoje um dos mais completos e conservados do país. Ao longo de 26 anos, o pesquisador transcreveu manualmente o conteúdo de toda a documentação pública produzida em Curitiba”, escreveu.

“Paralelamente às funções de funcionário público [federal], dedicou-se à investigação histórica. Enquanto Diretor do Arquivo Municipal de Curitiba organizou os documentos para a História do Paraná. São 62 volumes impressos, publicados por esse órgão, com transcrição das atas da Câmara Municipal, no período de 1668 até 1932. Tendo como notas de rodapé, dados explicativos sobre a cidade, que esclarecem e complementam a documentação”, escreveu Teresa Teixeira de Britto na Revista do Caderno de Letras nº 51 sobre Francisco Negrão e os BAMC.

Hotsite do “Os manuscritos”
O hotsite “Os manuscritos” foi lançado pelo Legislativo em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) no dia 17 de dezembro para facilitar o acesso aos documentos mais antigos da cidade à população. Todos os conteúdos podem ser lidos online e folheados com um deslizar de dedos na tela dos tablets e smartphones, ou com um clique do mouse.

No Livro Tombo, por exemplo, que guarda os documentos referentes à fundação da cidade, é possível ler uma carta entregue ao capitão povoador Matheus Leme pela população que aqui vivia e pedia a criação da Câmara e “justiças”, em 25 de março de 1693, quatro dias antes do aniversário da cidade. O hotsite oferece ainda vídeos sobre o processo de restauração do Tombo e da importância da preservação de documentos e uma seção de notícias com matérias históricas da cidade.