Na Tribuna Livre, oncologista pede apoio para pesquisa científica

por Fernanda Foggiato | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 22/06/2022 18h35, última modificação 23/06/2022 09h14
O convidado criou técnica inovadora para mulheres com câncer pélvico.
Na Tribuna Livre, oncologista pede apoio para pesquisa científica

A convite de Sidnei Toaldo, a CMC recebeu o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, na Tribuna Livre desta quarta-feira (22), o médico Reitan Ribeiro. A convite do vereador Sidnei Toaldo (Patriota), o cirurgião oncológico falou da transposição uterina, técnica desenvolvida por ele, no Hospital Erasto Gaertner, para preservar a fertilidade de mulheres em tratamento contra o câncer pélvico. Hoje em fase experimental, a cirurgia é ofertada gratuitamente. O orador do espaço democrático de debates do Legislativo ainda pediu mais apoio para a pesquisa científica. 

“Eu queria mostrar a importância que tem o apoio de vocês nesse processo. Sem o suporte institucional, tanto político como administrativo, até o apoio de eu estar aqui e poder falar sobre isso, sem isso a gente não consegue desenvolver essas coisas, atingir essas mulheres”, afirmou. “Então a gente precisa de ajuda. Esse é um procedimento desenvolvido no Erasto, é uma cirurgia que os pacientes não pagam nada. A gente não cobra nem do SUS. Por ser um procedimento experimental, quem paga é o hospital. Nenhum dos médicos ganha nada, eu não ganho nada".

Por ano, apontou Ribeiro, mais de 3 mil mulheres que ainda não tiveram filhos vão precisar de radioterapia da pelve, região em que o ovário e demais órgãos são muito sensíveis. Com o tratamento, mesmo mulheres jovens podem entrar na menopausa. A cura, para muitas delas, também pode significar um fardo, que é a perda da fertilidade. 

>> Assista AQUI à Tribuna Livre na íntegra. Confira AQUI o álbum da atividade no Flickr da CMC. 

Segundo o convidado, a cirurgia é minimamente invasiva. A técnica consiste em transferir os órgãos reprodutivos da mulher para a parte superior do abdômen. Essa transposição é temporária, enquanto é feita a radioterapia. “Eu consigo trazer o útero até o tórax de uma paciente, se eu quiser”, contou Ribeiro. Em janeiro deste ano, nasceu o primeiro bebê gerado por uma mãe submetida ao procedimento. 

No Erasto, de acordo com o convidado, já foram realizados cerca de 15 transposições, com sucesso. “Qualquer paciente, de qualquer lugar do país, pode vir e a gente faz”, declarou o orador da Tribuna Livre. No Brasil, também em caráter experimental, o procedimento já é feito em mais três hospitais, a exemplo do Albert Einstein, em São Paulo (SP), também de forma gratuita. “A condição para fazer uma cirurgia experimental é que você não cobre”, explicou.

Em outros países, relatou o oncologista, a técnica já foi aplicada, passando de 40 procedimentos. “Quando você tem uma coisa nova que é proposta por um latino, na medicina não é muito fácil”, observou. “A gente está de fato ajudando as pessoas. Não são números, são pessoas que estão sendo beneficiadas”, finalizou Reitan Ribeiro. 

Debate em plenário
“A ciência salvando vidas e gerando vidas, [esse] é o papel que você exerce hoje”, parabenizou Toaldo. O resultado do trabalho de Ribeiro, afirmou, é amplamente reconhecido e ainda contribui no alerta para a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer. Nesta terça-feira (21), o vereador propôs a Cidadania Honorária de Curitiba a Ribeiro, que é natural de Florianópolis (SC) e se mudou para a capital paranaense para cursar o último ano do Ensino Médio (006.00012.2022). 

Em resposta a questionamento da vereadora Noemia Rocha (MDB), presidente da Comissão de Saúde, Bem-Estar Social e Esporte da CMC, o médico sugeriu que a conversa com os gestores dos hospital possa ser um bom caminho para saber quais pesquisas podem ser alavancadas por meio das emendas parlamentares. Segundo ele, apenas um tratamento de fertilidade pode sair R$ 50 mil. Com o mesmo valor, comparou, poderiam ser feitas 15 transposições uterinas. 

Ribeiro ainda explicou, a pedido de Noemia, que o procedimento foi patenteado e que os resultados da fase experimental devem ser apresentados em setembro. A próxima etapa será a fase de regulamentação. “Eu espero que esteja incluído no rol do SUS em um ou dois anos”, prevê. A Indiara Barbosa (Novo), que perguntou como ampliar o acesso à técnica, o médico disse que “a maior dificuldade ainda é educar todos os médicos de que existe essa opção”. 

Professora Josete (PT), por sua vez, lamentou a desvalorização da pesquisa científica no Brasil. “E falar no investimento [na ciência] não é ficar só no discurso, é colocar no Orçamento”, apoiou Marcos Vieira (PDT). “Você pode ter a melhor ideia do mundo, se não tiver o recurso, não vai acontecer”, concordou o convidado. “A gente vai precisar investir principalmente em educação. Me preocupa muito a gente formar muita gente sem qualidade”, acrescentou Ribeiro.

O primeiro vice-presidente da Casa, Alexandre Leprevost (Solidariedade) lembrou que a maior emenda coletiva ao Orçamento deste ano foi destinada justamente ao Hospital Erasto Gaertner e ao Erastinho, para a compra e a aquisição de equipamentos e materiais permanentes (308.00645.2022). Com o valor de R$ R$ 977 mil, a proposição foi articulada por ele e assinada por 31 dos 38 vereadores. 

“Eu tive câncer há 19 anos”, afirmou a Sargento Tânia Guerreiro (União), que descobriu a doença em fase inicial. Ela lembrou, no entanto, da perda da mãe, aos 46 anos de idade, e disse que o médico traz uma mensagem de esperança aos pacientes e seus familiares. Ezequias Barros (PMB) falou sobre o tratamento da esposa, hoje curada, contra o câncer de mama. 

“Parabéns pela tua ousadia, tua criatividade e humildade de dizer que não fez nada de excepcional”, saudou Amália Tortato (Novo). O presidente Tico Kuzma (Pros) reforçou os votos de pesar da Câmara pelo falecimento, no último domingo (19), do médico oncologista Luiz Antônio Negrão Dias. Mauro Bobato (Pode) também destacou o trabalho pioneiro do profissional e a importância do Erasto Gaertner.

Tribuna Livre
Espaço democrático de debates, a Tribuna Livre é mantida pela CMC como um canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Conforme o Regimento Interno do Legislativo, os debates ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – seguindo acordo de líderes, após os pronunciamentos do pequeno expediente. 

Os temas são sugeridos pelos vereadores, que por meio de requerimento indicam uma pessoa ou entidade para a fala em plenário. O espaço pode servir para a prestação de contas de uma organização que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc. 

As sessões plenárias começam às 9 horas e têm transmissão ao vivo pelos canais do Legislativo no YouTube, no Facebook e no Twitter. Confira, no site institucional, os assuntos discutidos nas outras Tribunas Livres de 2022.