Na Tribuna Livre, Dom Peruzzo frisa solidariedade em meio à pandemia

por Sophia Gama*, especial para a CMC — publicado 16/12/2021 12h10, última modificação 16/12/2021 12h14
Além da mensagem de fim de ano, o arcebispo se referiu à situação dos indígenas acampados em Curitiba.
Na Tribuna Livre, Dom Peruzzo frisa solidariedade em meio à pandemia

O arcebispo chamou a atenção para “as belezas vividas em situações dramáticas”. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

A Tribuna Livre da sessão plenária dessa quarta-feira (15) recebeu o arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom Peruzzo, que falou dos desafios enfrentados em função da pandemia e transmitiu mensagem positiva para 2022 (076.00045.2021). Dom Peruzzo veio à Câmara Municipal de Curitiba (CMC) pela segunda vez no ano, desta vez a convite de Tito Zeglin (PDT). 

Acompanho os movimentos da Câmara. Com todas as diferenças, a despeito de debates, não se observa situações de ofensas, agressividade, desrespeito, como se vê em outros ambientes. Meu reconhecimento pela civilidade com que se exercem os mandatos”, iniciou Dom Peruzzo, saudando aos vereadores. 

2021, antes já tempos difíceis, muito exigentes. Um mísero vírus parece ter colocado a humanidade de joelhos. Muito autoconfiantes que éramos, a humanidade, muito seguros que estávamos. E nos deparamos não apenas com questões sanitárias, mas com outros conflitos, diferenças, contrastes, que causaram muitas incertezas, temores, muitas lágrimas", continuou o arcebispo. 

Dom Peruzzo começou a mensagem para a cidade e o ano vindouro com a citação de um adágio coreano: “Se chorarmos por termos perdido o sol, as lágrimas podem nos impedir de ver as estrelas”. “Nos hospitais, profissionais da saúde de toda ordem. Nos bairros, quanta solidariedade. Nas igrejas, entre nós católicos, mas sei também de outras igrejas, clubes de serviço. Quase sempre o bem é menos notícia. Mas tivemos muitas maravilhas que apontam não só para a gravidade de problemas, mas para as belezas vividas em situações dramáticas”, refletiu. 

O pároco elogiou as ações de solidariedade que se espalharam em Curitiba nos últimos dois anos, em meio à pandemia e seus reflexos. Afirmou também que “querer bem ao outro quando tudo é harmonia, é quase espontâneo. Agora, em meio às diferenças e os riscos, é preciso ter nobreza de sentimentos e de coração”. “Eu desejo então, a todos os vereadores, um ano rico de belas experiências de 2022. Se possível sem pandemia, já chega. Podemos nos querer bem sem nos mascarar”, brincou. “Um ano rico, de muitas alegrias e realizações para a Câmara.” 

Dos políticos se fala de quase tudo, mas Deus sabe o quanto há de bondade que parte daqui para os nossos curitibanos. Feliz Natal, meninos e meninas, e um próspero Ano Novo”, finalizou Dom Peruzzo. 

Indígenas desabrigados

Durante o espaço aberto para cumprimentos e perguntas dos vereadores, duas parlamentares questionaram o convidado da Tribuna Livre a respeito da situação dos indígenas desabrigados na cidade, por conta do fechamento da Casa de Passagem, em 2020, em função da pandemia. Por questões culturais, famílias que vem à capital para a venda de artesanato não aceitam ser separadas, em diferentes abrigos, e há um grupo acampado em frente ao Palácio das Araucárias, no Centro Cívico. 

O tema vem sendo debatido com frequência na CMC, nos últimos meses. Só nesta semana, foi abordado em plenário por três vereadores, na segunda (13) e na terça-feira (14). Também foi discutido pelos vereadores da Comissão de Direitos Humanos, na reunião dessa quarta (assista aqui). 

Maria Leticia (PV) perguntou ao arcebispo como ele enxerga a situação atual dos indígenas, e de que maneira a Igreja Católica poderia colaborar.

Nunca atenderemos o suficiente, mas precisamos nos mobilizar, mas hoje ainda tenho eu tenho uma conversa marcada com pessoas da prefeitura para abordar o imediato, de gente que precisa hoje. Porque estão com fome hoje. Se chover, eles irão se molhar hoje. É uma causa que nos interpela, como cristãos, católicos, como bispo”, respondeu. 

Ignorar a situação dos indígenas é uma forma velada de maldade. Não é possível atender a todos, mas ignorar a dor dos fracos é uma forma velada de maldade. Mas quando temos pessoas precisando de alimento agora, cobertor e abrigo agora, todos os outros debates cedem”, continuou. 

Já a vereadora Professora Josete (PT) questionou o bispo a respeito do programa Moradia Primeiro, que possui parceria com a Arquidiocese de Curitiba, para garantir a superação da situação de rua e acesso à moradia permanente. “O projeto Moradia Primeiro me impressionou desde o momento que me apresentaram, individualmente, mas também como Arquidiocese e outras paróquias. Facilmente somos tentados a oferecer o mais imediato e considerar o suficiente. Mas isso é se fechar ao imediatismo. Se houver uma consciência social dos cidadãos, podem se redimir muitas vidas. O Moradia Primeiro é um gesto de respeito à pessoa. Com apreço, afeto, ternura, muitos casos se reconstroem”, contou Dom Peruzzo. 

Além das saudações iniciais de Zeglin e os questionamentos das parlamentares, também cumprimentaram o convidado os vereadores Tico Kuzma (Pros), presidente da Câmara; Oscalino do Povo (PP); Ezequias Barros (PMB); Sidnei Toaldo (Patriota); João da 5 Irmãos (PSL); Marcos Vieira (PDT); e Mauro Bobato (Pode). 

Arcebispo metropolitano desde 2015, Dom José Antônio Peruzzo está à frente da arquidiocese de Curitiba, mantendo a proximidade com a Câmara de Vereadores, que em novembro, inclusive, promoveu visita à Cúria Diocesana, sede administrativa da Arquidiocese de Curitiba. Dom Peruzzo recebeu, em 2016, a Cidadania Honorária de Curitiba, também por iniciativa de Tito Zeglin. 

Confira a fala completa de Dom Peruzzo, assim como a sessão plenária na íntegra, aqui. 

Tribuna Livre

A Tribuna Livre é um espaço democrático de debates mantido pela CMC, como canal de interlocução entre a sociedade e os parlamentares. Conforme o Regimento Interno do Legislativo, os debates ocorrem nas quartas-feiras, durante a sessão plenária – conforme acordo de líderes, após os pronunciamentos do pequeno expediente.

Os temas discutidos na Tribuna Livre são sugeridos pelos vereadores, que por meio de um requerimento indicam uma pessoa ou entidade para discursar e dialogar no plenário. As falas neste espaço podem servir de prestação de contas de uma entidade que recebe recursos públicos, apresentação de uma campanha de conscientização, discussão sobre projeto de lei em trâmite na Casa etc. Clique aqui para consultar os temas já discutidos em 2021.

*Notícia elaborada pela estudante de Jornalismo Sophia Gama*, especial para a CMC
Supervisão do estágio: Fernanda Foggiato
Revisão: Fernanda Foggiato.