Impacto da privatização da Celepar é debatido na Câmara de Curitiba
Vereadora, especialistas da área da tecnologia e deputados federais comparecem em audiência pública no auditório da CMC para debater sobre a privatização da Celepar. (Foto: Carlos Costa/CMC)
Nesta quinta-feira (30), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) realizou uma audiência pública com o tema “A Privatização da Celepar e seus Impactos para o Paraná e para os Municípios”. A iniciativa foi da vereadora Vanda de Assis (PT) e reuniu, além de demais vereadores da Casa, deputados federais, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Informática e Tecnologia da Informação do Paraná (SINDPD-PR) e do Comitê dos Trabalhadores da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar). O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube da CMC e aconteceu no auditório do legislativo (407.00040.2025).
Quando Vanda de Assis convocou a audiência, o objetivo era debater a importância da Celepar para a administração pública, os riscos e os impactos da privatização para a segurança dos dados públicos, as consequências quanto à manutenção de empregos e quais modelos alternativos de gestão poderão ser adotados pelas empresas que trabalham com tecnologia da informação.
“Essa audiência se fez necessária, porque nós estamos no momento em que a população do Paraná corre o risco de ter uma empresa [de propriedade do Estado] sendo vendida. Isso coloca a nossa segurança digital, nossos dados em risco. Então o nosso objetivo hoje é trazer o debate para toda a sociedade, convocar a sociedade para se unir e refletir sobre o tema”, discursou Vanda de Assis.
“Celepar é importante para o futuro tecnológico do nosso país”, diz professor
Para Sérgio Amadeu, professor adjunto da Universidade Federal do ABC (UFABC) em Ciência Política, o tema deve ser explicado de forma que ensine a população sobre a importância da proteção de dados. “Quero começar minha fala dizendo que a Celepar foi a primeira empresa pública de dados no período em que o Brasil começava a se informatizar e ela é extremamente importante para o futuro tecnológico do nosso país”, disse o professor. Ele trouxe um caso que aconteceu na França, no qual um representante da Microsoft discursou no Senado francês dizendo que não poderia afirmar que os dados dos franceses não seriam compartilhados com os Estados Unidos por conta da legislação das big techs. “Eu chamo a atenção aqui para a proteção dos dados. Trago essas informações para exemplificar o porque a privatização é perigosa para armazenamento de informações da população”, complementou Sérgio Amadeu.
O professor da UFABC afirmou que os dados são individuais e coletivos, e por essa razão precisam ser civilmente protegidos. Para a secretária de tecnologia da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados (Fenadados), Márcia Honda, além da questão trazida pelo professor, também é necessário que se olhe para a mudança do papel administrativo do Estado Brasileiro. “Eu percebo que o Estado está deixando de ser um prestador de serviço públicos e universais para se tornar um grande Estado de gestão de contratos terceirizados”, discursou Márcia Honda.
“Nós estamos aqui para analisar o poder que uma empresa privada terá sobre a nossa vida. É importante que tenhamos as seguintes perguntas em mente: Quanto custa o sistema de saúde? Quanto vale o dado de uma criança? Quanto tempo o cidadão vai esperar para ter um serviço público? Eu faço todo esse levantamento, porque, o que vamos fazer se todos esses dados forem acessados de forma indevida?”, questionou a secretária da Fenadados.
Para servidores, são necessária políticas públicas inclusivas
O presidente do Comitê dos Trabalhadores da Celepar, Jonsue Trapp Martins, afirmou a importância da companhia. “A Celepar é uma área estratégica. Ela é necessária no governo. Você privatizar a Celepar é a mesma coisa de você privatizar a Secretaria do Planejamento. Ela tá no meio, ela tem que participar das políticas públicas de tecnologia. Por quê? Uma grande parte da população não tem condições de fazer um atendimento pela internet, de mandar um e-mail, de ter um aplicativo. E, por isso, é necessário que haja essa integração entre os órgãos para que essa população vulnerável tenha condições de acessar esses serviços”, disse Jonsue Trapp.
“Venho aqui complementar a fala anterior de que não é só a empresa que está em risco, mas o futuro de centenas de trabalhadores que fazem a Celepar uma das empresas públicas de tecnologia mais respeitadas do Brasil. Esses trabalhadores se dedicam para que os serviços cheguem ao cidadão e que a informação pública seja segura e acessível”, falou em nome dos trabalhadores, o representante do SINDPD-PR, Julio César Novaes.
O deputado federal Tadeu Veneri (PT) e o ex-governador do Paraná, Roberto Requião, também compareceram à audiência e frisaram a importância de escutar o que os trabalhadores têm a dizer. Para eles, só é possível que o debate avance quando se há a oportunidade de entender as queixas que os trabalhadores expuseram na audiência. Em discurso final, Vanda de Assis afirmou que está atuando junto com as vereadoras de oposição da CMC para que essas informações cheguem à toda população curitibana para que as novas políticas públicas sejam feitas com base naquilo que os trabalhadores necessitam.
*Matéria elaborada pela estudante de Jornalismo Mariana Aquino*, especial para a CMC.
Supervisão do estágio: José Lázaro Jr.
Edição: José Lázaro Jr.
**Notícia revisada pelo estudante de Letras Celso Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba