Há 15 anos, Programa Dedica auxilia crianças vítimas de violência

por Assessoria Comunicação publicado 16/05/2019 16h25, última modificação 08/11/2021 06h57

Nesta quarta-feira (15), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu a visita da médica pediátrica e psicanalista Luci Pfeiffer, coordenadora do Programa Dedica, que atua na defesa dos direitos da criança e do adolescente e tem apoio dos Amigos do Hospital de Clínicas. O convite foi feito pela vereadora Maria Letícia Fagundes (PV), que fez uma breve introdução sobre a entidade.

De acordo com ela, o Dedica, cujo trabalho já é amplamente conhecido, presta assistência a crianças e adolescentes vítimas de violência. O Dedica recebe crianças encaminhadas pelo Hospital de Clínicas, pelo Ministério Público, pela Vara de Infância, pelos Conselhos Tutelares, delegacias e outros centros de atendimento. Trata-se de assistência gratuita e interdisciplinar (psicológica, médica, social etc). A vereadora agradeceu aos vereadores que participaram da emenda coletiva em benefício do Dedica e convocou todos os demais para que também colaborem na emenda que será promovida esse ano.

Para Luci Pfeiffer, nenhuma criança nasce violenta. Ela pode se transformar de acordo com o meio que habita. “Em 90% dos casos atendidos pelo Dedica, a violência está dentro de casa e devemos intervir nisso”, disse ela. “Começamos em 2004 com o Programa HC Dedica como voluntários um dia por semana. Queríamos demonstrar que muitas das crianças que chegavam com deficit de atenção, doenças mentais ou com fraturas, na verdade eram vítimas de situações de violência. Eram atendidas de 40 a 80 pessoas, entre crianças, responsáveis e até agressores”, explicou a médica. Entre 2011 e 2014 foram atendidos 5239 casos com um grupo de 12 voluntários. Em 2015, o Dedica, com apoio dos Amigos do HC, ganhou um espaço próprio para atendimento dos casos.

Pfeiffer explicou que quando a situação chega ao Dedica, ela é avaliada e é feito um diagnóstico da situação de violência. Posteriormente se avalia para quem será o tratamento e em que nível se dará a proteção. Definida a conduta, procede-se o acompanhamento que pode ser minimização das sequelas, acompanhamento psíquico ou legal. “Nem sempre a família é o ambiente adequado para a criança. Tem pais que agridem e matam. Tem avós que abusam”, disse a médica. Ela explicou que há também programas de prevenção. São mais de 200 pessoas atendidas por semana. Em 2018 foram mais de 7 mil procedimentos. Pfeiffer citou o caso do menino João que, ao ser encontrado, não conseguia se expressar, só emitia sons. Ela salientou que a criança absorve valores e condutas do nascimento até os 7 anos. “Se os valores são errados, ela incorpora. Temos um menino lá que se orgulha de subtrair objetos de lojas. Temos crianças que enrolam bagulhos [cigarros de maconha] para seus pais”.

Participações

Para Julieta Reis (DEM), o trabalho desenvolvido pelo Dedica é muito importante pois o mundo para algumas pessoas é muito cruel, “principalmente para crianças inocentes que precisam de apoio para ter seu desenvolvimento normal. Custamos a acreditar que seres humanos podem tratar crianças dessa maneira”, apontou a vereadora que concluiu afirmando que o trabalho voluntário “é divino”. Osias Moraes (PRB) contou que estava em um restaurante com sua família quando uma outra família se sentou ao seu lado. Ele observou que os pais da outra família deram tablets e celulares para entreter seus filhos, num momento que deveria ser de união. “Vivemos uma crise humanitária de falta de valores”, disse ele.

Na mesma linha, Mauro Bobato (Pode) apontou que as famílias, mesmo em casa estão se desunindo. “Antigamente o momento de ver televisão reunia os familiares, mas hoje, é cada um no seu quarto com seu próprio aparelho”. Maria Manfron (PP) parabenizou Maria Letícia por trazer o Dedica à Câmara e disse ver seriedade no trabalho desenvolvido pela entidade. “Hoje as pessoas se importam mais com o ter do que com o ser”. Professor Silberto (MDB) revelou que alguns alunos abordam os professores com problemas relativos à violência e os professores nem sempre têm o conhecimento adequado para encaminhá-las ao atendimento necessário.

Marcos Vieira (PDT) questionou se o Dedica atende nos locais onde ocorrem as violências. Pfeiffer respondeu que não, que o atendimento do Dedica é terciário, que aborda o problema o problema quando ele está no estágio grave ou gravíssimo. Edson do Parolin (PSDB) contou que no bairro Parolin, onde atua, presencia muitos casos de violência infantil: “crianças que ingerem as drogas usadas pelos pais, vindo a morrer, meninas de 11 anos grávidas, meninas engravidadas pelos próprios pais”. Para o vereador, vivemos uma inversão de valores que pode ser verificada quando mães se orgulham de ver seus filhos agindo como bandidos. Também se manifestaram sobre o tema os vereadores Bruno Pessuti (PSD), Oscalino do Povo (Pode) e Professor Matsuda (PDT).