Dia da Consciência Negra: “Não há democracia plena sem justiça racial”

por Mariana Aquino*, especial para a CMC. | Revisão: Gabriel Kummer** — publicado 03/12/2025 17h30, última modificação 03/12/2025 17h44
Vereadora Giorgia Prates promoveu uma Sessão Solene para celebrar o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra na Câmara de Curitiba.
Dia da Consciência Negra: “Não há democracia plena sem justiça racial”

Palácio Rio Branco recebe homenageados na luta antirracista. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Na última sexta-feira (28), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) realizou uma Sessão Solene em homenagem a personalidades que se destacam na luta antirracista. A iniciativa, proposta pela vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta (PT), integrou a celebração do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (061.00083.2025). Durante a cerimônia, transmitida ao vivo pelo YouTube da CMC, a parlamentar defendeu o combate ao racismo e afirmou que não há democracia sem justiça racial. O evento contou com a participação de representantes da Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR), do Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR), líderes religiosos e vereadores de Pinhais. 

Celebrado em 20 de novembro, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra marca a memória de Zumbi dos Palmares e simboliza a resistência histórica do povo negro. A data ganhou força nacional como um momento de reflexão sobre desigualdades raciais e sobre o papel das instituições no enfrentamento ao racismo. Em Curitiba, movimentos sociais e lideranças utilizam o mês para reafirmar ações de educação, cultura, inclusão e mobilização social.

A vereadora Giorgia Prates abriu a solenidade ressaltando que ocupar o plenário com lideranças negras é, por si só, um ato político. Ela destacou que novembro não deve ser apenas simbólico, mas uma prática contínua de produção de políticas públicas que combatam o racismo e valorizem a cultura afro-brasileira. Para Giorgia, trazer essas vozes ao Legislativo significa romper barreiras históricas de exclusão.

A parlamentar ainda reforçou os projetos de lei protocolados pelo seu gabinete que pretendem proteger as religiões de matrizes africanas. Giorgia disse que é preciso que haja mais iniciativas que fortaleçam os equipamentos públicos voltados para a promoção da igualdade racial. Ela agradeceu aos homenageados por suas trajetórias e afirmou que a Câmara precisa ser espaço de reconhecimento e construção coletiva. Segundo a vereadora, “não há democracia plena sem justiça racial”.

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Luta antirracista deve ser contínua, afirmam participantes 

Representando o Núcleo de Promoção e Igualdade Étnico-Racial da DPE-PR, Dieikson Braian Ribeiro, destacou a importância de políticas públicas voltadas à promoção da igualdade racial. “Nós vemos que as coisas que acontecem aqui na capital do estado do Paraná [Curitiba] refletem também no interior do estado. Por isso é tão importante ter uma capital ativa na luta antirracista”, disse Dieikson Braian Ribeiro. Ele lembrou que a memória é ferramenta essencial para enfrentar o racismo e citou referências históricas da população negra como exemplos de superação. 

Em complemento com à fala de Dieikson Braian Ribeiro, Josianne D’Agostini, representante das religiões de matriz africana de Curitiba, chamou atenção para a necessidade de proteção às comunidades de terreiro e denunciou o avanço do racismo religioso. Ela afirmou que garantir direitos às religiões de matriz africana significa preservar cultura, memória e identidade. Ela também afirma que a participação política das mulheres negras é fundamental para a construção de um Estado mais inclusivo.

A vereadora de Pinhais/PR, Miss Preta (PT), reforçou a importância de mulheres negras em espaços institucionais e parabenizou a iniciativa. “Tenho muito orgulho de ver parlamentares como você [Giorgia Prates], que defendem as pautas antirracistas continuamente”, discursou Miss Preta. Ela também destacou que a luta antirracista passa por ocupar espaços de decisão e fortalecer redes de solidariedade. Segundo a parlamentar, a presença negra nas câmaras municipais fortalece o diálogo com periferias e amplia a representatividade no debate público.

Representando a Secretaria Municipal da Mulher e Igualdade Racial, Edson Lau destacou que o poder público tem papel decisivo na construção de ambientes mais justos. ”Nenhuma jornada nasce do vazio, nossa luta vem de muitos outros antes de nós. Não posso deixar de lembrar daqueles que foram acolhidos por Curitiba e conseguiram mudar um pouco o cenário desta cidade. Creio que ao transformarmos a memória em ação, podemos criar legados políticos”, acrescentou Edson Lau. 

Para Amanda Ribeiro dos Santos, representante do Núcleo de Promoção e Igualdade Étnico-Racial do MPPR, a união entre os poderes é um passo importante para que haja mais direitos raciais na sociedade. “Nosso valor na sociedade ganha cada vez mais importância quando todos os poderes olham para nós. Quando lutam pela nossa causa e ampliam políticas públicas de valorização. Quero dizer aqui que vocês podem contar com o MPPR, nós estamos juntos com vocês na luta antirracista”, disse Amanda Ribeiro dos Santos. 

Cultura e acessibilidade também foram pauta na Solene 

A presidente do Sindicato dos Bancários, Cristiane Zacarias, também destacou a cultura negra como ferramenta de transformação. Ela afirmou que os movimentos sindicais têm buscado integrar pautas antirracistas às suas agendas e que a representatividade é indispensável. Para Cristiane, lutar por condições dignas envolve reconhecer que mulheres e homens negros enfrentam obstáculos estruturais no mercado de trabalho.

Falando em nome dos homenageados, Paula Roque, artista surda, destacou a importância da representatividade negra e da inclusão de pessoas com deficiência nos espaços culturais. Ela apresentou sua trajetória na arte e na tradução em Libras, afirmando que o reconhecimento público fortalece a luta pela acessibilidade. Para Paula, a diversidade é parte central da identidade negra contemporânea.

A participação dos intérpretes de Libras Wagner Machado, Eline Moreira e Fernanda Mota garantiu que o evento fosse acessível a todas as pessoas. No final da Sessão Solene, Giorgia Prates agradeceu o trabalho dos profissionais e ressaltou que acessibilidade é compromisso permanente da Câmara. Para a parlamentar, promover inclusão é parte essencial do projeto político do seu mandato. 

Confira a lista dos homenageados: Allan Coimbra, André Luiz Nunes Da Silva, Baba Pedro Almeida, Bárbara Abdulmassih, Bárbara Silva, BK 12, Brianna Cantelli, Cristiane Zacarias, Denise de Mello Cardoso, Dila Cruz, Dow Raiz, Edith de Jesus Ribeiro, Flavia Imirene, Gil Jesse, Leonildo Monteiro, Maíra Kaline Januário, Maria Isabel Fernandez Rodriguez, Pai Ibe de Logunede, Patrícia Saravy, Paula Roque, Rafael da Costa, Rafaella Ferreira Cicarelli (Mc Cicca), Romilda Silva, Samba Trio, Simone Cardozo, Sirlene Matos, Valquíria Cristina da Silva Marchiori, Yohana Rosa.

*Matéria elaborada pela estudante de Jornalismo Mariana Aquino*, especial para a CMC.
Supervisão do estágio: José Lázaro Jr.
Edição: José Lázaro Jr. 
**Notícia revisada pelo estudante de Letras Gabriel Kummer

Supervisão do estágio: Ricardo Marques