Comissão de Saúde fará relatório de visitas ao Mesa Solidária

por Fernanda Foggiato | Revisão: Ricardo Marques — publicado 23/06/2023 13h30, última modificação 23/06/2023 13h47
Nessa quinta (23), grupo de vereadores de Curitiba esteve nas unidades da praça Tiradentes e do viaduto do Capanema.
Comissão de Saúde fará relatório de visitas ao Mesa Solidária

Após polêmica, Comissão de Saúde da Câmara de Curitiba acompanhou refeições do Mesa Solidária. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Todos os dias, a idosa Maria de Lourdes Barbosa sai do Barreirinha e desembarca na praça Tiradentes, Centro de Curitiba, para almoçar no Programa Mesa Solidária. Em situação de rua “há mais dez anos”, Marcos da Silva é frequentador assíduo da unidade do viaduto do Capanema, onde costuma jantar. Nessa quinta-feira (22), os vereadores da Comissão de Saúde e Bem-Estar Social da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) escutaram as histórias deles e de outras pessoas atendidas no programa, além de voluntários e comerciantes.

Criado há quatro anos, o Mesa Solidária é coordenado pela Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN). Em parceria com entidades públicas, privadas e organizações sem fins lucrativos, são servidas, diariamente, centenas de refeições, entre café da manhã, almoço e janta, para pessoas em situação de rua, vulnerabilidade social e insegurança alimentar.

“Após a polêmica referente ao Mesa Solidária na Câmara Municipal, nós, da Comissão de Saúde, resolvemos ver in loco o que estava acontecendo nesse serviço prestado pela Prefeitura de Curitiba, em parceria com instituições sociais”, explicou o presidente do colegiado, Alexandre Leprevost (Solidariedade). No almoço, os vereadores vistoriaram o trabalho do equipamento da Tiradentes. No fim do dia, acompanharam o jantar servido na unidade do viaduto do Capanema.

Recepcionados pelo gerente do programa, o servidor Admaro Anderson Pinto, o colegiado conheceu as instalações dos equipamentos, escutou frequentadores, voluntários que preparam e servem as refeições, além de comerciantes. Leprevost ressaltou que a ideia do colegiado não é tirar o Mesa Solidária do Centro de Curitiba. “Posteriormente, nós vamos apresentar um relatório à Prefeitura de Curitiba com possíveis melhorias do que a gente viu nesse serviço tão importante à população”, adiantou.

Praça Tiradentes

"Não pago mais o ônibus, eu venho todo dia”, brincou Maria de Lourdes, 72 anos de idade, enquanto aguardava o almoço do Mesa Solidária da praça Tiradentes. “Me sinto bem, a minha saúde [está boa], o almoço é bom, é gostoso, estou engordando”, disse. Segundo ela, “um respeita o outro”. “Tudo limpinho, tudo calmo, tudo na paz. E a gente tem atenção também, né?”, concluiu.

>> Acesse o álbum de fotos da atividade.

No local, explicou o gerente do programa Mesa Solidária, são servidas cerca 200 refeições por dia, na hora do almoço. No jantar, a média diária varia entre 300 e 350 marmitas. O trabalho, afirmou, funciona de domingo a domingo. “O Mesa Solidária não tem feriado”, garantiu. “Pelo menos uma refeição tem [nos feriados]”, completou a assistente social Amarilis Mattei, servidora da SMSAN. “A gente tem muito orgulho do trabalho”, disse ela.

Por ser um prédio histórico, a unidade não pode contar com cozinha a gás. Por isso, os voluntários trazem as refeições prontas. Às quintas, o grupo responsável pelo almoço da Tiradentes é o In Rua, que tem à frente o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Leonildo Monteiro Filho. “O pessoal de outros estados pede todos os dias o modelo do Mesa Solidária”, relatou. Ele também defendeu a importância do ponto na região central da cidade. O programa hoje conta com 57 grupos parceiros.

Viaduto do Capanema

“O espaço serve pra a gente compartilhar não só a comida. Cada um tem uma história. Eu acho que se deveria abrir mais espaços como este”, afirmou Marcos da Silva, 47 anos, e mais de 10 deles em situação de rua. Sem vínculos familiares, ele disse morar nas imediações do Mercado Municipal de Curitiba e jantar “quase todo dia” no Mesa Solidária do viaduto do Capanema.

Sobre a qualidade da comida e o acolhimento no espaço, Silva foi só elogios. Ele sugeriu, no entanto, melhorias “nas condições dos albergues”. “O banho pra nós é muito difícil”, declarou. Outro pedido foi para a instalação de guarda-pertences: “Como você vai procurar um trabalho com uma mochila nas costas?”. 

>> Confira o álbum da segunda visita.

Nas quintas, o trabalho reúne dois grupos de voluntários: a Agape Church e a Bendicta Comunidade Terapêutica do Perpétuo Socorro. “[O programa é] uma benção, né. É uma acolhida, uma hora por dia pelo menos, que eles têm dignidade, que eles sentam à mesa, lavam as mãos, passam álcool em gel e fazem as refeições”, avaliou seu coordenador Luiz da Fonseca. “Fazemos tudo com muito amor.”

De segunda a sexta, o Mesa Solidária do Viaduto do Capanema serve o jantar. Aos sábados, também é ofertado o almoço. Aos domingos, café da manhã, almoço e jantar. A média é de 200 marmitas servidas em cada refeição, de acordo com Amarilis.

Existe uma cozinha industrial no equipamento, onde os grupos voluntários podem preparar as refeições e também são ofertados cursos à comunidade, em parceria com o Senac. O Programa Educar para Emancipar, contou a assistente social, é desenvolvido em paralelo ao Mesa Solidária. Após a qualificação, existem empresas parceiras para facilitar a inclusão no mercado de trabalho.

Questionado pelos vereadores, o gerente do Mesa Solidária falou da importância de se sensibilizar a população e os empresários para que façam doações a outro programa, o Banco de Alimentos de Curitiba. “O voluntário não prepara se não tiver a comida. Os grupos para cozinhar os alimentos nós temos”, declarou. A iniciativa arrecada e distribui alimentos perecíveis e “in natura” (frutas, legumes, verduras etc.).

Relatório com sugestões

A ideia é começar a discutir o relatório com as sugestões à Prefeitura na reunião prevista para a próxima quarta (28), após a sessão plenária. Leprevost adiantou algumas conclusões: “Enxergamos o espaço do viaduto do Capanema 100% estruturado e, na Tiradentes, são necessárias algumas adequações. Lá, por ser um edifício histórico, não pode ter cozinha a gás, por exemplo, e também acreditamos que o espaço está pequeno”.

“Agora com a questão das senhas, que antes não tinha, melhorou a organização”, completou o vice-presidente da Comissão de Saúde, Joao da 5 Irmãos (União). “Tanto aqui neste equipamento quanto lá na Tiradentes observamos que o trabalho está sendo bem feito, bem organizado. Mas o debate é importante para juntarmos as ideias e melhorar sempre mais. Aqui está bem adequado o espaço, não tem tanta população no entorno, está mais propício este equipamento, sem contar que oferece cursos também”, reforçou. As visitas também foram acompanhadas pelos vereadores Oscalino do Povo (PP) e Pastor Marciano Alves (Solidariedade). Noemia Rocha (MDB) não compareceu por motivo de saúde.

Compete ao colegiado debater as matérias relativas à saúde e assistência social em geral, à higiene e profilaxia sanitária, à assistência sanitária, à alimentação, à nutrição, às práticas esportivas e ao lazer. As reuniões ordinárias da Comissão de Saúde e Bem-Estar Social são quinzenais, às quartas, após a sessão plenária.