Campanha da Fraternidade convida ao debate sobre políticas públicas

por Assessoria Comunicação publicado 28/02/2019 09h30, última modificação 04/11/2021 07h25

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, nesta quarta-feira (27), o bispo auxiliar da Arquidiocese de Curitiba, Dom Francisco de Oliveira, que veio ao Legislativo divulgar a Campanha da Fraternidade de 2019, cujo tema é Fraternidade e Políticas Públicas. Coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a iniciativa ocorre anualmente sempre no período da quaresma. Ele falou aos vereadores durante a sessão plenária na manhã de quarta, a convite de Geovane Fernandes (PTB) e Mauro Ignácio (PSB), e também em reunião pública realizada à tarde, na CMC, por iniciativa de Marcos Vieira (PDT).

Pela manhã, em plenário, Dom Francisco explicou que “a temática deste ano se aplica muito bem ao ambiente da Casa Legislativa, porque enfoca políticas públicas, fala da sociedade e seus diversos atores e também fala do Estado e do mercado. Basta considerar os recentes crimes, em que o mercado não ouviu a sociedade e não respeitou o Estado”, disse, ao citar as tragédias com centenas de mortes em Mariana, em Brumadinho e no CT do Flamengo. Para ele, esse cenário é “grave” em que “todos nós temos uma parcela de culpa, no desencadear em que muitos crimes muitas vezes ocorrem com nossa conivência”.

O bispo auxiliar da Arquidiocese concluiu dizendo que a Campanha da Fraternidade quer discutir as políticas públicas para a “corresponsabilidade, com duas finalidades: assegurar o bem comum e defender a vida digna das pessoas”. O vereador Geovane Fernandes (PTB) fez uma saudação ao convidado: “Esta Casa costumeiramente recebe todos os anos a Campanha da Fraternidade”, lembrou.

Na reunião à tarde, o vereador Marcos Vieira agradeceu a procura pela Câmara Municipal para tratar sobre o tema. Já Dom Francisco aproveitou para chamar a atenção da sociedade sobre sua responsabilidade na construção de políticas públicas e na tomada de decisões que afetam a comunidade como um todo. Ele alertou ainda à amplitude dos temas relacionados ao cidadão, não apenas de cunho social, mas também econômico, ambiental e tributário. “Por que a Igreja traz esse tema? Porque o ensino social não é recente. [A Igreja] sempre se pronunciou sobre os direitos humanos, a dignidade humana e o bem comum”, frisou.

Ampliar os conceitos de violência e de direitos humanos, percebendo a relação que existe entre as duas medidas, foi destacada pelo doutor em Ciências Sociais e professor da PUC-PR, Cezar Bueno de Lima. “Se a criação [de uma criança] já é pobre, a família é pobre, se a única possibilidade de ascender é a escola e a escola falha, o resultado é a tragédia humana”, comparou. Ele lamentou que, ainda no século XXI, o tema direitos humanos venha sendo tratado como “ideologia”. “São direitos civis, à vida, à liberdade, de ir e vir, de ter registro civil, de se expressar, de respeitar e ser respeitado”, elencou. “Não é ideologia, é discutir um patamar de civilização. Ninguém vive sem trabalho, sem emprego. A gente afunda na riqueza e ironicamente [também] na pobreza”, criticou.

Apesar de considerar que a Campanha da Fraternidade e seus temas populares não agradam a todas as pessoas integrantes da igreja, o padre Danilo Pena, da Dimensão Social da Arquidiocese, reforçou a ideia da participação popular nas decisões políticas e no fortalecimento dos movimentos sociais. “Procuro estar muito próximo das pastorais sociais. É um espaço que precisa ser recuperado, da fala, da atuação, que há alguns anos vem sendo "demonizado"”, ponderou.

Para o coordenador local da campanha, João Santiago, a sociedade deve acompanhar a atuação do Estado e a tomada de decisões das administrações públicas. “Ser cristão e ser cristã é participar cristãmente da política. Este é um chamamento recorrente na igreja”, pontuou. A participação da religião também foi defendida pelo Frei Edmilson Borges Carvalho, da Paróquia Profeta Elias, no Sítio Cercado. Ele considera que uma ideia espiritualizada sobre a sociedade pode ajudar na construção de um ambiente mais justo. “Diante do mal sistêmico presente nas políticas públicas, é preciso muita persistência, é desafiador”, pontuou. “Como mudar essa história? Vai se conformar, cruzar os braços e achar que está tudo bem?”, completou.

A organização da atuação do Estado por meio das políticas públicas foi salientada pelo promotor de Justiça Rafael Moura, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos, do Ministério Público do Paraná. Para ele, iniciativas como a criação de tarifas sociais, por exemplo, são importantes para garantir efetivamente o atendimento dos direitos básicos da população. “Mais importante que fazer leis é fazer valer as leis”, disse.

Além da comunidade, também participaram da reunião pública os vereadores Fabiane Rosa (DC) e Oscalino do Povo (Pode). Mais fotos do evento podem ser conferidas no Flickr da Câmara Municipal.