Câmara homenageia os 25 anos da Comunidade Bethânia

por João Cândido Martins | Revisão: Ricardo Marques — publicado 16/08/2023 09h30, última modificação 16/08/2023 10h27
Entidade religiosa fundada pelo falecido padre Léo atua há 25 anos em Curitiba na recuperação de dependentes de álcool e outras drogas.
Câmara homenageia os 25 anos da Comunidade Bethânia

Os 25 anos de existência da Comunidade Bethânia na cidade de Curitiba foram celebrados numa sessão solene de iniciativa do vereador Bruno Pessuti. (Foto: Carlos Costa/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba homenageou, nesta terça-feira (15), a Comunidade Bethânia, instituição cristã que promove a recuperação de dependentes do álcool e das drogas. A proposição da homenagem foi do vereador Bruno Pessuti (Pode), que presidiu a sessão solene. Além dele, compuseram a mesa o padre Vicente de Paula Neto, presidente da Comunidade, e os também homenageados e integrantes da comunidade: Anderson Garcia, gestor geral; Flávio Lopes, seminarista; Natally Rivadavia Vital, administradora; e Carla Inocêncio Amaral, moderadora.

Confira as fotos no Flickr da CMC.

Saudação

Pessuti declarou ser uma honra poder homenagear a Comunidade Bethânia, entidade que, de acordo com ele, exerce um papel fundamental na sociedade, resgatando e acolhendo pessoas que se encontram à margem de suas próprias vidas em virtude do consumo abusivo do álcool e das drogas. “É função da Câmara Municipal enaltecer o trabalho de entidades como a Comunidade Bethânia, um trabalho humanitário e gratuito que pretende resgatar a dignidade daqueles que se tornaram vítimas do uso de substâncias que anulam suas dignidades e a própria vontade de viver”, disse o vereador.

Em seguida, um vídeo institucional explicou as origens e as atividades desenvolvidas pelas Comunidade Bethânia. A entidade foi fundada na cidade de São João Batista, em Santa Catarina, por Léo Tarcísio Gonçalves Pereira, o padre Léo, com o objetivo de ser um espaço de acolhimento a pessoas que desejam livrar-se da dependência em bebidas alcoólicas e em drogas em geral. A comunidade foi instalada numa área de 400 mil m² e não possui muros, ou seja, nenhum interno é obrigado a permanecer no local ao longo do período de 11 meses no qual se procede a desintoxicação por meio da fé e do trabalho.

A comunidade prioriza pessoas da região, para que não percam o contato e os vínculos com suas famílias. A ideia é que tais pessoas reatem seus laços consigo e com a sociedade. A instituição foi idealizada pelo padre Léo, que também passou pela experiência da dependência química. Ao conseguir superar essa situação por meio da fé, decidiu dedicar-se às pessoas que permanecem à margem da própria vida em razão de seus vícios. Falecido em 2007, Padre Léo trouxe, segundo os depoimentos do vídeo, a marca do acolhimento em Jesus. A importância do padre Léo pode ser verificada no memorial feito em sua homenagem na comunidade e há um esforço para que ele seja beatificado pela Igreja Católica.

Além da Comunidade Bethânia na cidade de São João, a entidade mantém mais 7 outras comunidades em locais diversos do Brasil, incluindo Curitiba, onde a comunidade desenvolve há 25 anos suas atividades em um espaço nas proximidades do jardim Zoológico. Ao todo, a comunidade Bethânia de Curitiba já atendeu mais de 6.500 pessoas. Os candidatos comparecem acompanhados por suas famílias ou responsáveis todas as quintas-feiras e passam por uma avaliação que, na hipótese de ser positiva, os torna aptos a entrar numa fila para o atendimento. 

Homens, mulheres e casais passam então a ser chamados de filhos e filhas e, por 11 meses, vivem uma rotina de orações, palestras e trabalho. Ainda segundo o vídeo, o nome Bethânia é inspirado na colônia de leprosos citada na Bíblia, sendo que a fundamentação bíblica está presente em todas as ações desenvolvidas pela entidade. Além disso, a comunidade sedia, em parceria com a prefeitura de São João Batista, a escola Ceju, que atende 280 crianças dos bairros vizinhos à comunidade, ofertando vagas do berçário à 5ª série. 

Histórico

O vereador Bruno Pessuti fez a leitura de um breve histórico da instituição. De acordo com ele, a Comunidade Bethânia nasceu de um desejo que o Espírito Santo colocou no coração do padre Léo, a partir de sua experiência como dependente químico e depois como sacerdote, com o intuito de atender jovens que buscavam nas drogas a solução de seus problemas. Durante um encontro em Curitiba, o padre Léo manifestou sua vontade de expandir o projeto para a cidade e a proposta teve aceitação por parte dos superiores do Sagrado Coração de Jesus. Em 1998, instalou-se a comunidade numa área nas proximidades do zoológico e, desde então, homens e mulheres são acolhidos para que consigam superar seus obstáculos pessoais com fundamento na fé em Deus. 

Agradecimento

O padre Vicente de Paula Neto, presidente da Comunidade Bethânia em Curitiba, é natural da cidade de Lavras em Minas Gerais. Mestrando em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), especialista em Filosofia e Educação e também é escritor, pregador e apresentador de TV e rádio. “Nosso desejo é que nossos filhos e filhas possam se perceber como seres de possibilidades. Para quando chegar a tentação de votar à antiga vida, que eles lembrem serem seres de possibilidades”, disse ele. O padre disse que é necessário levantar as mãos aos céus e agradecer pelos 25 anos repletos de amigos e amigas que ajudaram a instituição e proporcionaram que a data de comemoração dos 25 anos da Comunidade fosse celebrada na Câmara Municipal. “Expresso minha palavra de gratidão a Deus e a todos que nos ajudaram”, disse o religioso.

Ele lembrou que o nome Bethânia é inspirado no Evangelho de São João, que em seu capítulo 13, versículo 4, menciona o local, um leprosário supostamente localizado entre Jerusalém e Jericó, onde Jesus teria encontrado acolhimento e amizade. “Jesus gostava de estar lá. Era recebido e sentava-se à mesa com aquela família. Lá ele amava e era amado. É nesse amor que nós encontramos alento para nosso coração e resposta para nossa vida. Resposta para nossa história”, afirmou o padre Vicente. De acordo com ele, muitos chegam totalmente desacreditados de si mesmos porque perderam o sentido da vida e, quando se percebem amados, concluem que há solução. “E é por isso que existimos como comunidade, sempre com a consciência de que não somos melhores que nenhuma comunidade terapêutica ou clínica de reabilitação, entidades que também cumprem importantes papéis em nossa sociedade”, afirmou.

O padre fez uma analogia entre a Comunidade Bethânia e a árvore símbolo do Paraná: a araucária. Para ele, a comunidade, assim como a araucária, deve ter raízes profundas e bem plantadas, sempre na busca de lutar em prol daqueles que necessitam de ajuda. “O tronco da araucária”, destacou o padre, “nos lembra que devemos crescer para o alto. Ele nos lembra que ninguém é condenado a ser do jeito que muitas vezes o mundo, através dos seus rótulos, nos carimba”. E os galhos da araucária remetem à imagem de braços que louvam a Deus. “Vivemos da gratuidade, não cobramos nada de ninguém, porque queremos viver assim de braços estendidos, vivendo a alegria de atender a todos sem nada cobrar em troca”, disse o presidente da Comunidade Bethânia em Curitiba. Por fim, ele se remeteu ao pinhão, o fruto da araucária. “É assim que a Comunidade Bethânia quer reproduzir, frutificar e continuar operando para além desses 25 anos de atividade”.