Audiência pública na CMC propõe projeto-piloto para inclusão visual
Batizada de “See Color”, tecnologia premiada internacionalmente promove a inclusão por meio das cores. (Foto: Kim Tolentino/CMC)
Audiência pública na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) reuniu o poder público, a sociedade civil organizada e a população, na última quarta-feira (28), para discutir a adoção de projeto-piloto do método See Color, uma tecnologia social inovadora, voltada à inclusão. O método permite às pessoas cegas, com baixa visão ou daltonismo identificar as cores por meio do tato.
Idealizado pela professora e pesquisadora Sandra Regina Marchi durante o doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o método utiliza códigos em alto-relevo com base no círculo cromático e na lógica do relógio para representar diferentes tonalidades. A tecnologia já foi premiada nacional e internacionalmente por sua contribuição à acessibilidade, mas ainda não foi oficialmente adotada por nenhum Município.
A sugestão do vereador Jasson Goulart (Republicanos), propositor da audiência pública, é levar um projeto-piloto da iniciativa à Escola Municipal de Educação Especial Helena Wladimirna Antipoff, no bairro Boqueirão. “Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, em 2010, Curitiba contavam com aproximadamente 7 mil pessoas cegas e 36 mil com baixa visão”, disse o propositor do debate, o vereador Jasson Goulart”, em mensagem ao público.
“Para pessoas cegas, com baixa visão ou daltônicas, distinguir cores é uma tarefa complexa. Escolher a cor de uma roupa, de um esmalte, identificar a cor de um produto ou diferenciar cartões de crédito e débito apenas pela cor. São situações cotidianas que podem se tornar obstáculos à autonomia e à inclusão social”, exemplificou. Convidado para representar a Casa no evento “Assembleia nos Bairros”, Goulart designou o vereador Rodrigo Marcial (Novo) para presidir a audiência pública.
Para Sandra Regina Marchi, responsável por desenvolver a tecnologia inovadora, “a See Color é um novo olhar para a educação de Curitiba”. “Vocês conseguem imaginar um mundo sem cor?”, ponderou. “Para milhares de estudantes em Curitiba, isso é uma realidade. O daltonismo e outras deficiências visuais dificultam a compreensão, a participação e o aprendizado, mas nós podemos mudar essa realidade.”
O método, explicou a pesquisadora e professora da UFPR, não substitui o Braille, sistema de escrita e leitura tátil. “Este material fundamenta-se na Teoria das Cores”, assinalou. Com o método, é possível customizar objetos, roupas, calçados e outros materiais por meio de tintas que criam relevo, tags adesivas ou tags termocolantes, identificadas pelo tato.
Marchi relatou que o método já é aplicado no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro (RJ); na Associação dos Deficientes Visuais (Adeve), de Erechim (RS); no Instituto Paranaense de Cegos (IPC), em Curitiba; e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.
De acordo com ela, os resultados trazidos pelo See Color são aumento de desempenho escolar, participação e autonomia. “E por que isso é importante? Inclusão vai além da acessibilidade física. É dar às crianças ferramentas para participarem plenamente da vida escolar”, enfatizou a pesquisadora. “Vamos juntos fazer a diferença e vamos juntos fazer de Curitiba uma referência na inclusão.”
Público compartilha experiências sobre a See Color
Além dos componentes da mesa da audiência pública, o público compartilhou experiências sobre a metodologia See Color e os desafios da inclusão visual. Diretor do Instituto Paranaense de Cegos, Ênio Rodrigues da Rosa falou da adoção do sistema dentro da instituição. “Acho que, de fato, é muito simples a utilização, quer dizer, o processo de apreensão e utilização é muito simples”, relatou.
Mãe de um menino com daltonismo, Karen Lorenzo reforçou que a “as escolas usam as cores largamente como instrumento de ensino”, além de diversas outras situações em que a inclusão visual é necessária. “Toda vez que eu vou a algum evento, por medo de errar, eu me visto de preto”, relatou Veranice Ferreira, que é cega há 11 anos. “O código, as etiquetas, é algo muito importante. Eu acho que é uma coisa que nós temos que batalhar. Nós temos o orgulho de ter surgido aqui no Paraná e tem que ser levado adiante.”
“Eu já transitei pela questão de ter enxergado plenamente, de ter tido baixa visão e hoje estou do lado de cá do balcão, estou cego por uma questão de retinose pigmentar”, relatou o técnico da Coordenadoria da Pessoa com Deficiência da Secretaria do Desenvolvimento Social e Família (SEDEF), Roberto Leite. “O problema não está tá nas cores, o problema está na apresentação das cores”, observou ele. “Nós temos aqui todas as pessoas, todos os atores envolvidos para que a roda gire, para fazer força, fazer pressão para que ela aconteça.”
“Eu o vi no início e agora eu vejo na perspectiva do relógio. Então ele vem melhorando e com certeza é um ótimo produto”, observou a diretora SEDEF, Quelen Silveira Coden, sobre a evolução do projeto. “Já pude compartilhar, vivenciar uma criança que de baixa visão está ficando cega e o fato de ter as cores junto com o Braille foi incrível, fundamental”, declarou a pedagoga do Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado (DIAEE) da Secretaria Municipal da Educação (SME), Viviane Calisário.
“Esta Câmara Municipal e nossa Comissão de Direitos Humanos, que é presidida pelo vereador Jasson, mas da qual eu também faço parte, está sempre de portas abertas para trazer projetos de lei, trazer soluções, enfim, para trazer o melhor pra cidade de Curitiba”, frisou Rodrigo Marcial. A vereadora licenciada Amália Tortato também fez parte da composição da mesa do evento.
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