Vantagens da IA na gestão pública são apresentadas na CMC

por Pedritta Marihá Garcia | Revisão: Alex Gruba — publicado 17/04/2024 15h35, última modificação 17/04/2024 15h53
Tema foi abordado na Tribuna Livre desta semana, por iniciativa de Herivelto Oliveira (Cidadania).
Vantagens da IA na gestão pública são apresentadas na CMC

“O que é mais assertivo é a pessoa estar bem treinada para usar a IA e aí sim a IA vai diminuir o percentual de erro”, frisou o convidado da Tribuna Livre de hoje. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Com o tema “Do algoritmo à ação: como a IA está moldando o futuro de Curitiba”, a Tribuna Livre desta semana debateu como a adoção de tecnologias de inteligência artificial pode impulsionar o desenvolvimento da cidade, moldando uma atuação mais eficiente do Poder Público. Esse debate aconteceu durante a sessão plenária desta quarta-feira (17), com a participação de 13 vereadores e vereadoras. 

O assunto foi apresentado por Dornelles Vissotto Junior, engenheiro, mestre e doutor em Métodos Numéricos. Ele é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em disciplinas ligadas à engenharia, à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo. Também atua como mentor de startups, faz parte do Instituto DNA de Inovação, é consultor do Sebrae, integra o grupo de trabalho do Vale do Pinhão e é autor de livro sobre empreendedorismo. 

A convite de Herivelto Oliveira (Cidadania), sua participação teve o intuito de promover uma “discussão aberta e transparente sobre os benefícios, desafios e possíveis preocupações éticas relacionadas ao uso” da IA. “Nos últimos anos, principalmente de 2022 para cá, surgiram as notícias sobre inteligência artificial, mais especificamente sobre o ChatGPT, que ajuda a fazer textos de uma maneira muito mais rápida. E também, com isso, começaram as discussões sobre onde a IA vai parar, sobre se vamos perder o nosso emprego, se o ser humano vai ser substituído em todas as ações”, disse o vereador, que preside a Frente Parlamentar da Ciência, Tecnologia e Inovação da CMC. 

Nós temos aí [agora] milhares de ferramentas inteligência artificial e eu convidei o professor para falar sobre como a IA pode ajudar no serviço público, que é a área em que a gente atua”, completou Oliveira, ao abrir a Tribuna Livre. No requerimento que agendou o tema de hoje, o parlamentar explicou, ainda, que esta é uma “oportunidade valiosa de aprender sobre as últimas tendências e práticas relacionadas à inteligência artificial” (076.00006.2024). 

Satisfeito em ver que o poder público está olhando para o cenário da inteligência artificial, o convidado da Tribuna Livre respondeu que sua intenção no debate era provocar a reflexão sobre como a IA pode potencializar a gestão pública. Ele também fez comparações entre a inteligência artificial e a inteligência humana, destacando que a última não sobrepõe a primeira, já que a IA “não tem capacidade de julgar o que é certo e o que é errado”. 

A nossa inteligência pode superar a IA. Eu, tendo uma inteligência artificial, não vou eliminar a necessidade da inteligência humana para operar a IA. O ChatGPT só vai funcionar se você fizer a pergunta certa para ele. Se você fizer a pergunta errada, ele vai dar a resposta errada. É por isso que 90% dos usuários do ChatGPT vão abandonar a ferramenta, porque não sabem fazer a pergunta certa”, disse o especialista, ao informar que a ferramenta de IA mais utilizada no mundo conta com 4 bilhões de usuários em todo o planeta. “Quase metade da população mundial.” 

Quinta onda da IA e como o Poder Público pode aproveitá-la

Segundo o professor da UFPR, o mundo passa atualmente pela quinta onda da inteligência artificial, na qual a IA generativa representa 40% do desempenho das forças de trabalho das empresas que usam a ferramenta, e isso somente na América Latina. 

A inteligência artificial generativa são os sistemas de IA capazes de criar novos dados, imagens, textos ou sons que se assemelham ao que um ser humano poderia produzir. Esses sistemas são projetados para gerar conteúdo original e realista, muitas vezes por meio de redes neurais artificiais e algoritmos de aprendizado profundo. E esse tipo de conteúdo tem sido aplicado em diversas áreas, como arte, design, roteiros de filmes, jogos. O ChatGPT é um tipo de IA generativa, e o mais conhecido hoje. 

Quando se trata das organizações e da gestão, em especial a pública, o convidado explicou que são sete padrões de IA comumente usados: hiper personalização, reconhecimento, padrões e anomalias, conversão e interação humana, decisões preditivas e analíticas, sistemas orientados a metas e sistemas autônomos. Para quem atua na liderança, a inteligência artificial contribui para a melhora da operação, da gestão, mas, para que funcione, precisa da inteligência humana como base: “Nós ainda somos as pessoas que estamos à frente de todo o processo de inovação.” 

O sucesso na gestão pública, continuou Dornelles Vissotto Jr., passa pela execução de um projeto piloto, para ganhar impulso, e a criação de uma equipe interna de IA, seguindo para o amplo treinamento dessa equipe, desenvolvimento de estratégia de inteligência artificial, até o desenvolvimento de comunicações internas e externas de IA. 

Para o especialista, o poder público consegue acompanhar a inovação tecnológica se promover treinamento constante e desenvolver uma estratégia de uso, que não pode ser adotada “só porque a IA está na moda”. Como sugestões de ferramentas de IA que poderiam ser utilizadas, ele citou o Fireflies.AI, que entra dentro de reuniões online e fazem o registro das reuniões; e o Tactiq.IO, que acessa as reuniões, faz a transcrição delas, envia e-mails com os relatórios. “Essa ferramenta aqui, no meu dia a dia, economizou 20% do meu trabalho operacional. [Se considerar] cinco dias na semana, um dia da semana é a IA que trabalha para mim”, afirmou. 

O ser humano que sabe usar a IA hoje substitui o ser humano que não sabe usar a inteligência artificial. Nos últimos dados apresentados pelo Fórum Internacional do Trabalho, estima-se que 40% das profissões atuais serão extintas pela IA. Em contrapartida, 80% das novas profissões vão ser criadas por causa da inteligência artificial”, comentou Dornelles Vissotto Jr., ao citar como exemplo uma nova profissão que já está no mercado de trabalho, o chamado engenheiro de prompt, que tem a função de escrever scripts para ChatGPT. 

Convidado respondeu perguntas sobre o uso da IA

Dos 38 parlamentares que compõem a CMC, 13 participaram do debate sobre a IA. Diversas perguntas foram feitas ao convidado de Herivelto Oliveira, e alguns vereadores se limitaram a comentar sobre a inovação trazida pela inteligência artificial para a esfera pública. A Serginho do Posto (PSD) e Rodrigo Reis (PL), o professor da UFPR explicou que Curitiba está “bem posicionada” em relação à IA, pois já vinha sendo usada antes mesmo do ChatGPT. Para investir “massivamente” em inteligência artificial, no entanto, a cidade precisaria “ter times e capacitação, porque a IA evolui constantemente”. 

Em relação à segurança de dados financeiros, tema levantado por Reis, Dornelles Vissotto Jr. afirmou que hoje, pelo país ainda não ter uma regulamentação definitiva sobre IA, “a segurança do uso de ferramentas é um ponto crítico”. “Quando eu uso uma ferramenta de IA sem observar os critérios de segurança, toda a informação que eu insiro ali dentro, ela cai na internet. […] Temos sim uma fragilidade de segurança, mas a gente tem muitas ferramentas que gestão que possam garantir a segurança”, alertou. 

Para Nori Seto (PP) e Giorgia Prates – Mandata Preta (PT), que questionaram sobre ética e responsabilidade no uso da IA, ele explicou que, atualmente, o país que está mais desenvolvido na área jurídica em relação ao uso da inteligência artificial é a Estônia. “A IA processa dados, mas não tem análise crítica para saber se aquele dado é correto ou não é correto. [Por isso], a responsabilidade da inserção de dados continua sendo do ser humano que está ali. Se eu alimentar a inteligência artificial com dados errôneos, ela vai interpretar aqueles dados errôneos e vai processar a informação de forma incorreta”, completou, sobre a ética no uso das informações. 

Hoje, não é possível responsabilizar uma máquina por um erro. Quem tem a capacidade crítica de tomar a decisão é a pessoa.A responsabilização é da pessoa. A IA reproduz hoje, todo o nosso histórico, tudo aquilo que está impregnado na nossa sociedade. […] Há uma certa tendência para representar conflitos de diversidade, que não estão, dentro da IA, bem resolvidos. Hoje, ainda tem uma reprodução da IA que é um retrato da nossa inteligência humana, e tem muita coisa para melhorar”, complementou o convidado. 

Indagado por Marcos Vieira (PDT) sobre medição do percentual de erros que uma inteligência artificial pode cometer na busca por informações, o professor da UFPR continuou na mesma linha de raciocínio, ao observar que a “IA erra, e não tem a capacidade de avaliar se ela está certa ou erra. “Ela entrega a informação que é solicitada. Se eu chegar no ChatGPT e pedir um absurdo, vai chegar uma fase da conversação que a IA vai me responder um absurdo. […] O que é mais assertivo é a pessoa estar bem treinada para usar a IA e aí sim a IA vai diminuir o percentual de erro”, frisou. 

Dornelles Vissotto Jr. finalizou sua contribuição para o debate afirmando que a IA não tem autonomia em processos de gestão, e “nem é aconselhável que tenha, porque ela vai errar, já que está em constante aprendizado”. “Hoje, o principal problema não é a inteligência artificial, e sim a peça humana que está por traz da IA. E o ser humano tem a habilidade incrível de desviar o caminho daquilo que é certo. E ele vai usar a IA para corromper as informações, se ele quiser. E democraticamente falando, ou a gente corta isso ou a gente deixa isso acontecer e cria mecanismos para fiscalizar.” 

Além dos vereadores citados, também participaram da discussão Amália Tortato (Novo), Bruno Pessuti (Pode), Mauro Bobato (PP), Noemia Rocha (MDB), Professor Euler (MDB) e Tico Kuzma (PSD). 

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