Tribuna Livre debate pluralidade e protagonismo da pessoa autista

por Fernanda Foggiato — publicado 15/04/2021 12h25, última modificação 22/04/2021 16h42
“Nós precisamos ser ouvidos”, pediu Polyana Stefanni de Sá Silva, ativista dos movimentos negro e da pessoa com deficiência. O convite partiu de Marcos Vieira.
Tribuna Livre debate pluralidade e protagonismo da pessoa autista

Autista, Polyana Stefanni de Sá Silva é universitária, palestrante e ativista dos movimentos negro e da PcD. (Reprodução YouTube/CMC)

A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, na Tribuna Livre da sessão plenária dessa quarta-feira (14), a estudante e palestrante Polyana Stefanni de Sá Silva, ativista dos movimentos negro e da pessoa com deficiência (PcD). Integrante da Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas (Abraça), ela falou sobre a diversidade, a pluralidade e o protagonismo no Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Nós queremos ser consultados e queremos sim ser incluídos na elaboração de ações e políticas [públicas]”, afirmou.

Propositor da Tribuna Livre, Marcos Vieira (PDT) fez a saudação oficial à convidada. Ele disse ter conhecido Polyana em uma das reuniões do Fórum Permanente de Lutas da Pessoa com Deficiência, realizadas na última quinta-feira de cada mês. “É uma mulher jovem, de 20 anos. Ela é autista, ativista”, declarou. O vereador citou que a oradora produz conteúdo para as redes sociais, é palestrante e aluna do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“Queria ressaltar a importância de ouvirmos a pessoa com deficiência, para que dessa forma consigamos estruturar uma sociedade mais inclusiva”, salientou Polyana. “Afinal, as pessoas com deficiência são componentes orgânicos da nossa sociedade assim como qualquer outro indivíduo e nós precisamos ser ouvidos.”

“Eu sou uma pessoa autista, fui diagnosticada aos meus 16 anos, lá em 2017, e desde então tenho estruturado minha caminhada no movimento autista”, contou a jovem. Com a pandemia, segundo ela, o ativismo sobre a conscientização ao TEA passou a ser exercido de maneira mais incisiva, pelas redes sociais e com a adesão à Abraça. “Eu, enquanto uma mulher autista negra, me vi neste espaço de não ter a representação e decidi construir isso.”

[O autismo] não é uma doença, não é algo que deve ser curado. É uma condição neurodivergente”, explicou. “Isso nos leva a entender que é uma diversidade e ela deve ser aceita, assim como todas as outras.” Polyana falou sobre o diagnóstico do TEA e as diferentes classificações (em régua – leve, moderado e grave; ou conforme as características de cada pessoa, como dificuldade de socialização, de fala etc.). “Nós temos um leque de possibilidades. Um arco-íris de pessoas que se encontra em situações diferentes, com características próprias que devem ser levadas em consideração”, apontou.

“É impossível a gente comparar um autista com o outro”, reforçou. A convidada ainda alertou à pluralidade de narrativas: “Os autistas estão em todos os lugares, são todas as pessoas que vocês possam imaginar, têm todos os tipos de narrativas. Quando eu falo de autismo, também estou falando de autistas negros, periféricos, mulheres, LBGTQI+, e a gente precisa levar tudo isso em consideração para que a gente não torne nossa fala excludente”.

Para Polyana, a sociedade brasileira, apesar de avanços desde a década de 1960 na formulação de políticas públicas à PcD, ainda é “capacitista” e “excludente”. “Fora das datas comemorativas, nunca somos ouvidos”, avaliou. Ela apresentou aos vereadores um ofício da Abraça para que não só os autistas, mas todas as PcD, sejam consultados sobre a elaboração de ações e de propostas de leis. Aquela famosa frase: ‘Nada sobre nós sem nós’”, citou.

Debate

Em resposta ao vereador Pier Petruzziello (PTB), autor da lei municipal 14.913/2016, para o diagnóstico precoce do TEA da rede pública de saúde, Polyana defendeu a inclusão das crianças PcD no ensino regular. “Não me considero uma excepcionalidade dentro do Transtorno do Espectro Autista”, completou ela, contrária à reprodução de esteriótipos.

"Ouvir você falar é um estímulo para nós que somos pais de uma criança autista. Mostra que a pessoa autista é extremamente capaz, não é menos que qualquer outra pessoa. Pelo contrário”, disse Flávia Francischini (PSL), mãe de um menino com TEA. O diagnóstico precoce muitas vezes não é fechado, lembrou a vereadora, porque não são preenchidas todas as características pré-estabelecidas. “Daí demora muito para iniciar o tratamento.”

Na infância, relatou Polyana, em resposta à vereadora Flávia, ela apresentava fala rebuscada, emotividade, dificuldade para entender ironia e se relacionava melhor com pessoas mais velhas, dentre outras características. Mas não a dificuldade na fala, por exemplo, Ao procurar um médico para tratar um quadro depressivo, na adolescência, foi diagnosticada com o TEA. Ela reforçou que o autista não pode ser colocado “numa caixinha”.

Sobre o impacto de ser uma mulher negra e autista, levantado por Carol Dartora (PT), a oradora da Tribuna Livre disse que a incidência maior de diagnósticos entre brancos, conforme pesquisa realizada nos Estados Unidos, deve-se à dificuldade de acesso ao diagnóstico. “A comunidade autista, em uma grande parcela, é racista sim”, completou. “Eu me sinto muito representada e feliz [pela vereadora].”

Acho muito importante esse protagonismo. Você trouxe vários dados, vários elementos, para que a gente possa superar esse preconceito, falando muito da diversidade dentro da diversidade. A sua fala como uma jovem negra LGBTQI+”, agradeceu Professora Josete (PT). “Aplausos à nossa convidada, a Polyana. Uma bela Tribuna Livre”, completou o presidente da Casa, Tico Kuzma (Pros).

As sessões plenárias têm transmissão ao vivo pelos canais da CMC no YouTube, no Facebook e no Twitter.