Tribuna do Povo recebe migrantes e pedidos por justiça social em Curitiba

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 30/11/2025 09h55, última modificação 01/12/2025 09h33
Nove moradores de Curitiba subiram à Tribuna do Povo para participar do Câmara Aberta de Natal.
Tribuna do Povo recebe migrantes e pedidos por justiça social em Curitiba

Participantes da terceira edição da Tribuna do Povo no Câmara Aberta de Natal. (Fotos: Julia Schneider/CMC)

“Os migrantes não vêm tirar nada de vocês. Vêm somar.” A frase da venezuelana Rockymillys Basante Palomo, que há sete anos vive no Brasil e preside o Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná, resumiu o espírito da terceira edição da Tribuna do Povo, realizada neste sábado (29), durante o Câmara Aberta de Natal. A atividade abriu a tribuna do Plenário Munhoz da Rocha Neto, no Palácio Rio Branco, sede da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), para que cidadãos pudessem apresentar demandas e propostas à Ouvidoria do Legislativo.

Rockymillys Basante defendeu que Curitiba fortaleça as políticas migratórias voltadas às comunidades latino-americanas, destacando avanços recentes da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Prefeitura de Curitiba. “A pauta migratória é a do paraguaio, colombiano, haitiano, que estão chegando aqui e que estão formando parte da cidade”, afirmou. Ela também convidou o Legislativo para o Dia de Ação sobre Migração, em 14 de dezembro. Para a conselheira, “os migrantes não vieram tirar nada de vocês, [nós] viemos somar para construir um Brasil para todos”.

O ouvidor Antônio Borges dos Reis agradeceu a participação do público, servidores e gabinetes, e convidou os presentes a se inscreverem na próxima edição da Tribuna do Povo, prevista para 2026. Ele reforçou que a Ouvidoria permanece aberta para novas manifestações da população. As vereadoras Delegada Tathiana Guzella (União) e Camilla Gonda (PSB) acompanharam a Tribuna do Povo neste sábado, elogiando a decisão da Câmara de abrir um espaço para que a sociedade civil fale diretamente à cidade de dentro do Legislativo.

Mobilidade, transporte e assistência a pessoas em vulnerabilidade

O tema do transporte público apareceu na fala de Célio Borba, que criticou a “falta de assentos nas paradas de ônibus em Curitiba”, especialmente para idosos, pessoas com deficiência e gestantes. Ele relatou ter aguardado um ônibus por 40 minutos sob calor intenso e defendeu mais conforto nas estações-tubo. Voluntário no Mesa Solidária do Centro, ele destacou a necessidade de ampliar as marmitas distribuídas: “Trinta, quarenta pessoas ficam sem pegar marmita... é um absurdo faltar comida”, alertou.

Alexandre Pires Barbosa de Mello, morador do Pinheirinho, apresentou suas preocupações com a segurança da cidade e com a população em situação de rua e relatou como tem atuado para amenizar a situação. Criador de conteúdo para redes sociais, ele disse que tem “trabalhado com a situação de moradores de rua, [mas] não obrigando [eles a irem para os abrigos sociais], como algumas pessoas têm feito, [pois] muitos não querem ir". "É um trabalho de formiguinha que a gente tem que estar fazendo”, concluiu.

Também aproveitando o espaço na Tribuna do Povo, Marlon Luiz Lima anunciou a criação da Associação de Educadores Sociais de Curitiba e Região Metropolitana, dedicada a fortalecer a categoria que atua “nos territórios, nas ruas, nos abrigos e nas unidades”. Para ele, a entidade representa “o compromisso ético com a dignidade humana”. Hoje, são os educadores sociais que desempenham as políticas públicas de acolhimento da FAS (Fundação de Ação Social) em Curitiba, atuando diretamente com a população em situação de rua, por exemplo.

Direitos das mulheres e participação social em Curitiba

A pauta de igualdade de direitos foi trazida por Bruna dos Anjos. Ela defendeu a importância da Conferência Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, cobrando mais infraestrutura no evento, sem a qual a participação social é comprometida. Mulher negra, Bruna denunciou episódios de racismo em equipamentos públicos, encaminhados ao Executivo via 156, mas que ainda estão sem resposta do Executivo. “Eu hoje falo por mim, mas existem muitas outras mulheres que não conseguem chegar até aqui”, disse, pedindo que o tempo de fala na Tribuna do Povo seja maior que os atuais 1 minuto e 30 segundos.

A presidente da Associação Feminina Acácias, Débora Aoki, apresentou o trabalho da entidade fundada em 1983 por mulheres da Maçonaria. Ela destacou que o grupo “acredita, promove e constrói uma sociedade mais justa, fraterna e solidária”, atuando com jovens da Ordem DeMolay, Filhas de Jó e Arco-Íris, além de iniciativas voltadas ao luto perinatal e combate à evasão escolar. “Somos mulheres que tecem redes de cuidado e erguem pontes de solidariedade”, afirmou.

Integração dos serviços de emergência

O atendimento a emergências foi tema da manifestação de Flaviano José Nennemann, que trabalha há mais de 15 anos na área. Ele criticou a fragmentação entre SAMU (192) e SIATE (193). “Depende de uma roleta russa... dois números, duas centrais, dois protocolos distintos”, disse, alertando que a estrutura atual gera chamadas duplicadas, deslocamentos desnecessários e perda de tempo — “e todos sabemos, tempo é vida”. Flaviano defendeu a criação de um plano municipal de integração de resposta a emergências, com central única, interoperabilidade e metas públicas de redução de tempo.

Acessibilidade para pessoas com deficiência

Juliana Fischer apresentou um conjunto de demandas da comunidade de pessoas com deficiência, propondo medidas que ela classificou como de baixo custo e alto impacto. Ela sugeriu que todos os imóveis da cidade tenham numeração no muro, com identificação em Braille, “na altura que um cadeirante acesse”, garantindo autonomia. Juliana também pediu sincronização das gravações de voz dos ônibus, ampliação do tempo de travessia nos semáforos sonoros e formação de motoristas em Libras. Ela ainda indicou a necessidade de acessibilidade em situações de emergência e defendeu programas de carreira em tecnologia para surdos.

O participante Gabriel dos Santos Rodrigues destacou o trabalho de instituições sociais e dos bazares da Receita Federal, especialmente no contexto do evento. Ele elogiou a Secretaria de Desenvolvimento Humano e afirmou que Curitiba poderia avançar na mobilização de empresários e contadores para ampliar a destinação do Imposto de Renda ao Terceiro Setor. “O Terceiro Setor está presente na família de cada curitibano”, disse, ao defender sinergia para ampliar o impacto de iniciativas comunitárias.