Motofretistas discutem alternativa ao iFood em audiência na Câmara de Curitiba
Mesa da audiência pública na CMC, com a Delegada Tathiana Guzella ao centro. (Fotos: Kim Tolentino e Stella Fujisawa/CMC)
A implantação de um aplicativo de entregas autogerido pelos motofretistas, no qual eles possam definir como serão remunerados pelo trabalho, foi o assunto mais debatido na audiência pública realizada pela Delegada Tathiana Guzella (União), nesta quarta-feira (19), na Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Assessor da vereadora e presidente estadual do Motoclube Abutres, Denis Marciano relatou as tratativas com o Motoka BR, criado para ser um concorrente do iFood, da Uber e de outros aplicativos que utilizam serviços dos motofretistas, mas adequado às necessidades dos trabalhadores, e não dos empresários.
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“[A disponibilização do Motoka BR no Paraná] está sendo moldada e preparada por vocês [motofretistas], não é por um empresário que quer ganhar dinheiro em cima dos motoboys, não. Mas a gente precisa se organizar e se disciplinar. Nos motoclubes, a gente diz que é preciso sacrificar 1 dia para ter 30 dias de glórias. Se vocês tivessem sacrificado hoje para lotar os arredores daqui [da CMC], eu tenho certeza que o governo nem discutiria, só assinaria o que vocês estão pedindo. Foi assim que a gente conseguiu a isenção do pedágio [para motos até 170 cilindradas]”, disse Marciano.
Ao lado do deputado estadual Tito Barichello (União), que compareceu à atividade na Câmara de Curitiba e com quem é casada, a Delegada Tathiana Guzella incentivou os motofretistas presentes à audiência pública a discutirem essa alternativa de autonomia profissional com o Motoka BR. A ideia teve o apoio da motogirl Carol Gaia e do motofretista Alex Viana, que compuseram a mesa da audiência pública, representando a categoria. “Temos que abrir nosso coração para novas ideias, [nas quais] a gente não seja marginalizado, que a gente seja reconhecido como profissão”, defendeu Gaia, que também preside o Motoclube Damas Negras.
“O Hospital do Trabalhador está lotado de motoboys [vítimas de acidentes de trânsito], alguns ficarão aleijados, outros perderão a vida. Qual a remuneração têm que ter para correrem esses riscos? Não é possível ganhar R$ 5 ou R$ 6 para atravessar a cidade. Isso é exploração do trabalho humano”, afirmou o deputado Barrichello. Ele e a Delegada Tathiana enfatizaram a importância da mobilização da categoria para a obtenção de conquistas, citando os exemplo estaduais do IPVA zero para motos e da gratuidade do pedágio. “Não existe conquista de direitos sem luta. Sou a favor de uma luta ordeira, mas se tiver que fazer paralisação, tem que fazer, sim”, concordou a vereadora.
Faixa Verde, placa vermelha, Polo Motociclista: Prefeitura comentou projetos
O superintendente de Trânsito da Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito (SMDT), Bruno Pessuti, e Alessandro César de Souza Alves, gestor da Área de Mobilidade Comercial da Urbs, compareceram à audiência pública e comentaram projetos de lei discutidos pela Delegada Tathiana com os motofretistas. No caso da Faixa Verde, Pessuti explicou que a possibilidade de implantação de corredores para motos em vias movimentadas de Curitiba está em discussão no Executivo, mas que depende de diversos fatores. “O teste em São Paulo precisou de autorização de Brasília, porque essa sinalização não existe no Código de Trânsito Brasileiro”, informou, além das questões práticas da largura das faixas e da velocidade máxima nesses trechos, que não poderia ser superior a 60 km/h.
“A lei nos determina que devemos seguir o Código de Trânsito Brasileiro. A SMDT defende, nessa ordem, engenharia (correção, velocidade, sinalização), educação (atenção às leis) e fiscalização”, declarou Pessuti. Alves, pela Urbs, disse que levará à companhia a proposta de Tathiana Guzella para reduzir custos para os motofretistas se habilitarem para a placa vermelha, que caracteriza os veículos como de locação. A vereadora pediu apoio também para a criação do Polo Motociclista e da revitalização da Praça do Radialista, na rua João Negrão, no bairro Rebouças, para uso pelos motociclistas.
O motoboy William Yano, na mesa da audiência pública, verbalizou o desconforto da classe com o tratamento recebido pela fiscalização de trânsito. “Apesar de sermos uma classe trabalhadora, a gente não é respeitado, é tratado como bandido. Na pandemia, éramos heróis, agora fomos esquecidos”, reclamou, dando um exemplo pessoal de quando, num acidente de trânsito, causado por um motorista no Largo da Ordem, apesar de ser a vítima, o fiscal inquiriu mais ele, motociclista, que o dono do carro. A opinião de tratamento desigual foi referendada pelo advogado Mário Sérgio Conrado, para quem “a infração de trânsito [atribuída aos motofretistas] decorre de ter que estacionar para desembarcar e entregar a mercadoria”.
Os vereadores Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) e Da Costa (União) fizeram falas na audiência pública, enquanto João Bettega (União) e Professora Angela (PSOL) estiveram no auditório durante a realização da atividade. A íntegra da audiência pública no canal da CMC no YouTube.
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