Moacir Tosin (1941-2017): ex-vereador e prefeito interino aberto à população

por Pesquisa e texto: João Cândido Martins de Oliveira Santos — publicado 01/09/2017 13h35, última modificação 03/09/2020 15h22
Nascido em Colombo em 24 de janeiro de 1941, na região metropolitana, e contador de profissão, era “uma pessoa simples e descontraída e talvez esses tenham sido os fatores do seu sucesso na política”...
Moacir Tosin (1941-2017): ex-vereador e prefeito interino aberto à população

Moacir Tosin: "jeito brincalhão e fácil de fazer amigos, mas muito sério em relação aos assuntos da Câmara", segundo familiares. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Faleceu no dia 1º de agosto Moacir Tosin, ex-vereador por quatro mandatos, ex-presidente da Câmara Municipal de Curitiba em 1983 e 1984 e prefeito interino de Curitiba por três vezes. Tosin defendia a honestidade e a transparência com o dinheiro público, lutou pela redemocratização do país depois da ditadura militar, trabalhou pelos direitos dos trabalhadores pedindo linhas de crédito para reconstrução de atingidos por enchentes e criticando a demora na liberação de alvarás.

Nascido em Colombo em 24 de janeiro de 1941, na região metropolitana, e contador de profissão, era “uma pessoa simples e descontraída e talvez esses tenham sido os fatores do seu sucesso na política”, diz a filha dele, Mauren Tosin. “Durante muitos anos, ele trabalhou como industrial metalúrgico na companhia de seu pai [Domingos Tosin]. Depois disso, em 74, ingressou na política já como vereador por Curitiba”. Mauren destaca que mesmo nos momentos em que Moacir Tosin estava mais assoberbado pelas exigências do cargo de presidente da Câmara, nunca deixou de atender a população em seu gabinete: “Ele chegava a atender 40 pessoas por dia”.

Sobre o atendimento à população, o próprio Tosin se manifestou numa reportagem publicada pela revista Panorama nº 341, de setembro de 1984. “Meus pais nasceram na Grande Curitiba. Eu nasci na Grande Curitiba. Meus familiares, minha esposa e meus três filhos também nasceram aqui. Sou desportista, gosto de estar com meus amigos. Então é muito natural que eu seja convidado para tantos eventos. Sou vereador pela terceira legislatura. Como é que irei deixar de atender alguém, se estou enraizado dessa forma nesta terra? Faço isso com a maior naturalidade. Primeiro porque gosto e segundo porque preciso continuar fiel aos meus amigos. Sem eles eu não estaria onde estou. Devo tudo aos meus familiares e aos meus amigos que acreditaram em mim. Se sou popular, não sei; só sei que levo a vida que eu gosto de levar”, disse o ex-vereador à revista.

As exigências demandadas pelo exercício da presidência da Câmara cobraram seu preço. É o que se pode verificar nesse depoimento de Tosin à revista Atualidades Brasileiras, nº XXXVI. Ele classificava seus familiares como os grandes prejudicados de 1983. “São os grandes prejudicados neste ano, porque poucos foram os dias que consegui sentar à mesa com meus filhos e minha esposa para um almoço. Minha mãe, que reside aqui mesmo em Curitiba, assim como meus irmãos, os vejo quando muito uma vez por mês. Na verdade, o cargo de presidente do Legislativo Municipal tem me cobrado um preço muito alto. Mas eu optei por esta atividade. Meus familiares me apoiam e me estimulam para que eu prossiga. Meus amigos, principalmente os que votaram em mim, os de infância que sempre estão ao meu lado, é que me empurram, e com seu carinho tornam meus dias mais leves, e me dão inspiração para trabalhar por Curitiba”.

Tosin Fruet
Moacir Tosin é primo-irmão de Ivete Tosin Bonato Fruet, esposa de Maurício e mãe de Gustavo, que foram prefeitos de Curitiba e deputados federais. O professor Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), traçou um breve painel da família Tosin/Fruet em sua pesquisa Estado, Classe Dominante e Parentesco no Paraná.

“Os seus três representantes ocuparam a Prefeitura de Curitiba e, dois (Maurício e Gustavo) também por, algumas legislaturas, foram deputados federais. Pode-se afirmar que a Câmara Municipal foi para os Tosin/Fruet a porta de entrada para a política curitibana e nacional”. Entre os três, Tosin teve o maior número de mandatos - três legislaturas normais e mais uma especial: [(75 a 76); (79 a 81); a especial (81 a 83); e (83 a 88)].

Da atual legislatura, dois vereadores dividiram as bancadas da Câmara Municipal com Moacir Tosin: Jairo Marcelino (PSD), em seu 9º mandato consecutivo, e Tito Zeglin (PDT), no 8º mandato. “Sempre alegre, mas muito sério em relação aos assuntos da Casa. Pode-se dizer que ele trabalhava pela Câmara Municipal”, recorda Zeglin. “Como prefeito interino sempre foi receptivo aos vereadores e às demandas levadas a ele. Muito aberto e sensível às coisas da cidade”, complementou.

Para Jairo Marcelino (PSD), Tosin sempre foi muito rigoroso com a legalidade de seus atos enquanto vereador e presidente da Casa. “As pessoas tendem a lembrar do seu lado mais divertido, do seu jeito fácil de fazer amizade, mas Tosin sabia ser sério”. Um dos funcionários mais antigos da Câmara, Nelson Luiz Simão recorda do tempo em que Moacir Tosin foi presidente da Casa. “Tosin era gentil com os funcionários, onde ele estava não havia tristeza”. A mesma impressão tem a servidora Ivone Fagião Rovani, lotada no gabinete de Marcelino. Para ela, Tosin foi um dos melhores presidentes que a Câmara teve. “Sempre de bom humor, sempre com uma palavra amiga”, diz ela.

Roseli e Mauren Tosin lembraram de um episódio folclórico de Tosin: a partida de truco contra o então governador de Santa Catarina, Esperidião Amin noticiada pela revista Panorama de setembro de 1984. Tosin aceitou o desafio feito por Amin. “Foi tudo uma grande brincadeira amistosa”, conta a filha do vereador. O sorriso largo rendeu a Tosin, de acordo com a revista Atualidades Brasileiras já mencionada, o apelido de “Jacaré”, fato que ele encarava com naturalidade e bom humor. Sua personalidade bem humorada não impedia que ele desempenhasse com regularidade suas funções. Em 1984, Tosin recebeu as Medalhas Tiradentes, entregue pela Sociedade Nacional do Mérito Cívico, e do Mérito Municipalista, pela Sociedade Brasileira de Estudos Municipalistas.

Transição democrática
Moacir Tosin viveu um momento importante da política brasileira. Era a transição do regime militar para a democracia preconizada pelo movimento Diretas Já. Apesar disso, o político soube enfrentar a situação com muita habilidade. “O Brasil e os brasileiros vivem os momentos mais delicados da sua história. E nós que pertencemos a um partido [PMDB] que durante muitos anos esteve afastado do poder temos que agir com muita cautela, pois agora todas as nossas promessas serão cobradas. Assumimos várias posturas nas ruas do país quando dos comícios pelas Diretas. Agora, embora pela via indireta, vemos a possibilidade do ex-governador mineiro Tancredo Neves assumir o poder em nome das oposições. Para o povo em geral não importa se pela via direta ou pela via indireta. Para ele, o mais importante é que um homem das oposições vai ocupar a presidência, e por este motivo ele acredita que seus problemas serão resolvidos da noite para o dia. Já temos inúmeras dificuldades em cumprir aquilo que foi prometido em nível de Curitiba e Paraná. Agora imaginem o que irão exigir da gente com um candidato oposicionista em Brasília?”, declarou o vereador na reportagem já mencionada da revista Panorama.

Um caso que demonstra os princípios políticos de Tosin aconteceu em 1980. Os vereadores do PDS [Partido Democrático Social, de direita] de Curitiba impediram que a chamada “Carta de Manaus” aprovada pela Ordem dos Advogados do Brasil em sua 8ª Conferência Nacional, naquela cidade, fosse transcrita nos anais da Câmara Municipal de Curitiba, conforme pedido do vereador Adhail Sprenger Passos (PMDB). Nesse documento, também conhecido como “Declaração de Manaus”, os advogados repudiavam a “legislação ditatorial” imposta pelo governo e pediam a formação de uma assembleia constituinte, diz matéria publicada no jornal Correio de Notícias, de 30 de maio de 1980. Havia 13 vereadores presentes. Tosin foi um dos três que votaram favoravelmente à transcrição.

Em 1983, segundo o jornal Diário da Tarde de 1º de agosto, Tosin sugeriu à bancada do PMDB a formação de uma união nacional para uma consciência brasileira em defesa dos pequenos e médios agricultores que tiveram suas propriedades destruídas pelas enchentes. “Moacir Tosin através de documentação, solicita aos políticos acreditados em Brasília, e nisso ele inclui até os do PDS, que se unam em defesa daqueles produtores que tiveram suas terras destruídas pela violência das águas que desabaram sobre os estados do sul, em particular no Paraná”. O vereador pedia a abertura de uma linha de crédito pessoal na Caixa Econômica Federal para os pequenos e médios agricultores adquirirem implementos agrícolas, tratores, arados, etc. “Que lhes permitam reconstruir suas vidas e voltar a produzir abundantes safras”, disse o vereador.

Trabalho e emprego
Tosin acreditava que a liberação rápida de alvarás seria uma saída para a crise que assolava o país no início dos anos 80. “Aqui em Curitiba, por exemplo”, disse ele à revista Panorama, “registramos todos os dias movimentos de desempregados reivindicando oportunidades, pedindo passes livres no transporte coletivo, tentando seguro desemprego, etc. Tudo isso é muito triste pois sabemos que muita gente passa fome ao lado de seus filhos por falta de emprego. Mas, por outro lado, sentimos o desejo de muita gente em tentar, pelos próprios meios, uma saída para a crise. Então, por que não facilitar a liberação de alvarás para que possam abrir um barzinho, uma oficina mecânica, um salão de cabeleireiro, uma oficina de costura, um escritório de contabilidade ou uma pastelaria? Cada uma dessas pessoas que sair com seu alvará nas mãos estará, na pior das hipóteses, abrindo mais duas vagas”.

Ainda sobre esse tema, ele declarou: “precisamos fazer algumas concessões. Milhares de pessoas foram às urnas e votaram no nosso partido esperando que alguma coisa fosse mudada. Que alguma coisa fosse diferente se chegássemos ao poder. E agora? Estamos no poder, mas os movimentos de desempregados aumentaram. Precisamos buscar soluções e acho que na liberação mais fácil de alvarás está uma saída para esta crise. Vamos dar emprego e ainda vamos recolher mais taxas para o município”.

Família é a base
Os últimos anos de vida de Moacir Tosin foram dedicados à família. "Meu pai passou a ficar a maior parte do seu tempo em casa, o que foi ótimo para nós, familiares", diz a filha Mauren Tosin. Ainda segundo ela, "nos últimos anos, estava bem reservado, tanto que nem chegou a conhecer a Arena da Baixada após a reforma, ele que sempre foi um torcedor fervoroso do Clube Atlético Paranaense". Mesmo assim, em sua homenagem, torcedores do clube puseram uma bandeira do time sobre sua urna funerária.

Para Mauren, o legado de Moacir Tosin enquanto político é “o da honestidade e da transparência com a coisa pública”. "Ele não encarava a política como uma profissão, mas sim, como uma paixão que ele cultivava com respeito e amor". Ainda segundo ela, "Moacir Tosin foi um bom filho, um bom irmão, um bom marido e um bom pai. Além disso, fez milhares de amigos ao longo da vida. Qual legado seria maior que esse?"


Referências Bibliográficas

Oliveira, Ricardo Costa de. Estado, classe dominante e parentesco no Paraná. Ricardo Costa de     Oliveira. : Nova Letra, 2015. 386p.

Correio de Notícias. 30 de maio de 1980.

Diário da Tarde de. 1º de agosto de 1983.

Panorama. O povo foi à rua para ter um presidente das oposições. Ano 34, nº 341, de setembro de 1984. p. 4-6.

Atualidades Brasileiras. O povo precisa confiar. Nº XXXVI, 1984. P. 5-7