Doenças renais foram o tema da Tribuna Livre desta quarta

por João Cândido Martins | Revisão: Alex Gruba — publicado 01/03/2023 17h10, última modificação 01/03/2023 17h31
Em Curitiba, 18 mil pessoas estão na fase de iniciar a diálise e desconhecem o problema, alertou o médico nefrologista Paulo Henrique Fraxino.
Doenças renais foram o tema da Tribuna Livre desta quarta

Ao centro, Paulo Henrique Fraxino, presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia, que falou na Tribuna Livre. (Fotos: Carlos Costa/CMC)

Nesta quarta-feira (1), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) recebeu, na Tribuna Livre, o médico nefrologista Paulo Henrique Fraxino, presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia (SPN), que falou sobre o Dia Mundial do Rim e sobre aspectos gerais das doenças renais, em particular das doenças renais crônicas (DRC), seu diagnóstico, manejo e prevenção. O convite a ele (076.00007.2023) foi feito pela vereadora Maria Letícia (PV), sendo que também esteve presente o vice-presidente da SPN, René dos Santos.

A vereadora Maria Letícia saudou os médicos e destacou a importância da Campanha Mundial do Rim 2023, que visa cuidar dos vulneráveis e estar preparado para desafios inesperados. A parlamentar lembrou que Paulo Henrique Fraxino é formado pela Faculdade Evangélica do Paraná e foi fundador, em 2002, da Clínica Renal Irati, local onde atua como diretor-médico e conta com uma equipe de médicos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos. Maria Letícia explicou que a clínica procurou estabelecer um plano de negócios que assegurasse sua permanência no mercado, sempre repleto de desafios resultantes das crises vivenciadas pelas clínicas conveniadas ao SUS. “A clínica se tornou uma referência em hemodiálise, diálise peritonial e litotrepsia”, concluiu a parlamentar.

Paulo Henrique Fraxino agradeceu à Câmara pelo uso do espaço para falar sobre a saúde renal e agradeceu em particular à vereadora Maria Letícia, a quem agradeceu por acompanhar a luta pelo tratamento e diagnóstico precoce de doenças renais. De acordo com ele, o Dia do Rim foi instituído em 2006 pela International Society of Nephrology. “Naquela ocasião, se verificou um aumento expressivo nos casos de enfermidades renais, o que gera problemas para os sistemas de saúde pública de todos os países, e o Brasil não é exceção”, disse o médico. 

Ele destacou que o Dia do Rim acontece em mais de 160 países, sempre na segunda quinta-feira do mês de março. “A sociedade internacional promoveu em 2022 mais de 1,3 mil eventos e tem mais de 100 mil seguidores nas redes sociais, sendo uma entidade de amplo reconhecimento internacional”, esclareceu Fraxino. De acordo com ele, a Sociedade Paranaense de Nefrologia tem 190 médicos nefrologistas distribuídos pelo estado, sempre à frente das campanhas de prevenção e do tratamento às doenças renais. Ele agradeceu pelo uso do espaço para abordar o tema, o que foi, segundo ele, inédito.

Doença Renal Crônica
O médico explicou que a doença renal crônica (DRC) faz parte de um rol de doenças conhecidas como Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que são as causas mais comuns de mortes prematuras em todo o mundo. O médico disse que toda pessoa que tenha uma disfunção renal mesmo que assintomática por mais de três meses é classificado como doente renal crônico. “Normalmente e, de forma equivocada, se pensa que a DRC se configura quando o paciente já perdeu todas as suas funções renais e encontra-se em tratamento dialítico, mas essa condição pode-se verificar em estágios anteriores da doença. Uma entre dez pessoas da população mundial tem doença renal crônica e não sabe”, explicou.

Fraxino disse que as doenças que mais levam à condição de DRC são: diabetes mellitus e hipertensão arterial, enfermidades extremamente incidentes na população. De acordo com ele, os sintomas da DRC se apresentam muito tarde, o que faz com que seja necessário que a população passe por pesquisas e diagnósticos com alguma regularidade. “Desde que a nefrologia passou a se preocupar com a prevenção e não só com o tratamento das doenças renais, nossa luta tem sido pelo diagnóstico precoce, que é simples e de baixo custo. São necessários apenas dois exames: o de urina e o de creatinina sérica”, afirmou o nefrologista.

Estatísticas das doenças
O médico trouxe alguns dados estatísticos sobre as DRCs no mundo, no Brasil, no Paraná e em Curitiba. Tais dados foram coletados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia em um censo promovido em 2022. De acordo com a entidade, aproximadamente 850 milhões de pessoas no mundo têm alguma forma de doença renal. No caso de Curitiba, estima-se que 180 mil pessoas tenham a enfermidade em algum grau de disfunção renal. “Sendo mais específico, em torno de 18 mil pessoas em Curitiba estão na situação de entrar na diálise, muitas sem saber”, declarou. O médico mencionou que o tratamento de diálise envolve muitos custos, portanto a prevenção e o tratamento precoce podem trazer grandes economias aos cofres públicos.

Ainda de acordo com os números trazidos pelo médico, atualmente de 8 a 9 mil pacientes fazem diálise no Paraná, sendo que 1,2 mil estão na fila do transplante. No estado, há 14 centros de tratamento renal que realizam 92 mil sessões de HD por mês. Destas, 74.440 (82%) são realizadas pelo SUS. Curitiba tem 13 serviços de diálise, sendo que 2 não atendem pelo SUS. No momento, 100 pacientes se submetem ao tratamento na cidade. Ele mencionou que, segundo relatório do Ministério da Saúde com dados coletados pela Controladoria Geral da União (CGU), os gastos com diálise em Curitiba no ano passado foram de R$ 22 milhões, totalizando 109 mil sessões. Fraxino encerrou sua fala prestando solidariedade ao projeto da vereadora Amália Tortato (Novo) sobre doenças raras. “Muitas dessas doenças raras também afetam o rim”, informou o médico.

“Com a pandemia, percebemos que os pacientes em estágio de diálise estavam extremamente vulneráveis, pois precisavam fazer a hemodiálise três vezes por semana durante quatro horas, não admitindo interrupções nesse tratamento. Houve necessidade de adaptação por parte das clínicas”, comentou Fraxino, referindo-se às situações imprevistas que podem dificultar um tratamento renal. Outro exemplo recente citado por ele foi o das chuvas que provocam alagamentos, desabamentos e dificultam os tratamentos. “Devemos estar preparados para enfrentar essas situações imprevistas”, alertou.

Perguntas dos vereadores
Em resposta à vereadora Maria Letícia e ao vereador Mauro Bobato (Pode), Fraxino disse que o aumento na tarifa de transporte público pode gerar impacto no tratamento renal de muitos pacientes. “Eles precisam fazer a hemodiálise três vezes por semana por toda a vida. Muitas cidades adotam a isenção da tarifa para pessoas com DRC, sei que há projeto em trâmite aqui na Câmara nesse sentido. Outra proposta que tem sido discutida nos últimos tempos é a de igualar as pessoas com DRC a pessoas com deficiência, o que faz sentido, na medida em que a insuficiência renal é uma espécie de deficiência”, disse o médico. Ele defendeu que é necessário combater a ideia de que os chamados tratamentos paliativos se restringem aos estágios finais da doença. De acordo com ele, tais tratamentos são necessários por toda a vida.

Fraxino declarou que em Curitiba não há demanda reprimida para atendimento de pacientes renais, ao contrário de outros estados da União, em que há filas de 300 pessoas para atendimento de diálise. A vereadora Noemia Rocha (MDB) relatou a história de seu falecido sogro, que enfrentou problemas renais em função de não ter feito nenhuma prevenção. O médico disse que o reconhecimento tardio da doença é normal e, em muitos casos, quando se verifica a enfermidade, o paciente tem somente 20 ou 30% do funcionamento do rim, o que significa que o tratamento não vai ter o mesmo efeito que teria caso a situação houvesse sido detectada no início.

Ele mencionou o movimento Green Nephrology que trata do descarte da água e dos resíduos sólidos usados no tratamento. “Para cada paciente, são necessários 300 litros de água por sessão. Toda a sobra é reaproveitada, já que não há qualquer contaminação”, esclareceu. A vereadora Amália Tortato agradeceu o apoio do médico em relação ao seu projeto referente ao teste do pezinho. Ela indagou sobre quais políticas públicas poderiam ser adotadas caso houvesse um maior direcionamento de recursos. A resposta foi dada pelo médico René, vice-presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia. Para ele, no caso das políticas públicas, o essencial é o contingenciamento nas situações de desastre. Ele exaltou a iniciativa da vereadora Amália em relação às doenças raras e destacou que algumas dessas enfermidades propiciam o surgimento de problemas renais, como o raquitismo, por exemplo. O médico sugeriu a implantação de uma política pública voltada especificamente às doenças raras. Em resposta ao vereador Rodrigo Braga Reis (União), René fez uma defesa do teste de creatinina que, de acordo com ele, é simples e barato.

O vereador Sidnei Toaldo (Patriota) relatou que sua mãe teve problemas renais, então ele se familiarizou com o tratamento e agradeceu o apoio da Fundação Pró-Renal. Ele é favorável à criação de campanhas de prevenção. Alexandre Leprevost (Solidariedade) alertou para a relação entre as doenças renais e a diebetes. De acordo com o parlamentar, em Curitiba, 25 a 30% dos pacientes que fazem hemodiálise, estão nessa condição em virtude da diabetes. Serginho do Posto (União) parabenizou a Sociedade Paranaense de Nefrologia pelo trabalho e frisou a relevância de ações da entidade.

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01/03/2023 - Tribuna Livre - Dia Mundial do Rim