Pós-pandemia, vereadores de Curitiba alertam para educação e fome

por José Lázaro Jr. | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 04/05/2022 17h25, última modificação 05/05/2022 08h57
As medidas de combate à pandemia aumentaram a diferença educacional entre ricos e pobres, além de colocar mais pessoas em situação de vulnerabilidade social, afirmaram parlamentares da capital do Paraná.
Pós-pandemia, vereadores de Curitiba alertam para educação e fome

Na tribuna, Amália Tortato diz que pandemia aumentou o "abismo" entre estudantes ricos e pobres. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Questões nacionais repercutiram no plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), nesta quarta-feira (4), quando Amália Tortato (Novo) discutiu o aumento do analfabetismo entre crianças, e Professora Josete (PT) alertou para a escalada da fome no país. Ambas utilizaram espaços do Grande Expediente, após as votações, para trazer os debates ao conjunto dos vereadores da CMC.

“O Brasil foi um dos países em que as escolas ficaram fechadas por mais tempo [durante a pandemia]”, afirmou Amália Tortato, para depois, com dados apurados pela organização Todos pela Educação, dizer que aumentou de 25,1% para 40,8% o número de crianças de 6 a 7 anos que não sabem ler e escrever no país. Depois, explorando a pesquisa por recorde de renda, afirmou que o percentual de crianças que não sabem ler e escrever é maior entre as mais pobres (51%) que as ricas (16,6%).

Amália Tortato entende que parte da diferença pode ser atribuída ao fato de a educação ser um serviço prestado diretamente pelo Poder Público. “Para ser pública a educação não precisa ser estatal”, defendeu a parlamentar, sugerindo a adoção do vale-educação  como forma de empoderar as famílias. “Por que não paga para essas crianças estudarem na rede privada, que já mostrou que sabe fazer, enquanto o Estado mostrou que não dá conta?”, disse a vereadora, que ganhou o apoio de Ezequias Barros (PMB) e Eder Borges (PP). 

“Muitas vezes a escola pública está querendo ensinar coisas desnecessárias, como ideologia de gênero, em vez de ensinar o be-a-bá e a tabuada. Na semana passada, em Colombo (PR), tinha um professor ensinando política partidária, batendo no presidente Bolsonaro, aquela briga toda, e era um professor de Inglês”, comentou Barros. “Constatamos o fracasso da educação pública, das escolas até as universidades, completamente ideologizada”, corroborou Borges.

Discordando do rumo que o debate tomou, de crítica à educação pública, Professora Josete disse que “precisamos pensar agora em quais as ações que temos para minimizar os problemas”. “Uma é garantir contraturno para as crianças que não aprenderam a ler e a escrever, a outra é garantir número de professores necessários para que sejam atendidas suas necessidades”, sugeriu Josete. Ela lembrou que a universalização do ensino público, gratuito e de qualidade foi uma conquista social, a partir dos anos 1970, e afirmou que “quando se desqualifica a escola pública é feito um desserviço à população”.

Aumento da fome
Citando dados sobre a fome no Brasil, Professora Josete destacou que 55,2% da população do país enfrentam hoje algum grau de insegurança alimentar, sendo que 9% dos brasileiros vivem em estado grave. Para a vereadora, isso é ainda mais grave quando relacionado à infância, pois “carências nutricionais terão consequências por toda a vida”, com reflexos psicológicos e físicos. “A ausência de comida muda todo o metabolismo da criança”, disse, criticando o modelo econômico do país, que privilegia o agronegócio de exportação.

Quando Ezequias Barros (PMB), após relatar ter passado fome e ter “comido do lixo” quando pequeno, disse que é um absurdo um estado como o Paraná, “celeiro do Brasil”, desperdiçar o tanto de comida que desperdiça, Josete voltou a esse tópico. “É o celeiro que produz o quê e para quem? Soja exportada para alimentar animais em outros países, que produz milho para o mesmo objetivo. Precisamos de um modelo que priorize a produção de alimentos para o povo brasileiro”, disse a vereadora.