Comissão da Verdade colhe novos depoimentos de ex-presos políticos

por Assessoria Comunicação publicado 09/10/2013 17h30, última modificação 20/09/2021 10h27

A Comissão Estadual da Verdade realizou, nesta quarta-feira (9), na Câmara Municipal de Curitiba, a terceira oitiva de ex-presos políticos da ditadura militar. Na sessão intitulada “Manoel Jacinto Correia”, o tema foi a atuação de movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos durante o processo de redemocratização do país.

O presidente da Associação dos Amigos do Arquivo Manoel Jacinto Correia, Luiz Fernando Busnardo, manifestou apoio e contentamento pelos resultados já obtidos pela comissão. O arquivo é um centro de documentação social que está sendo construído a partir de documentos, vídeos e depoimentos que buscam retratar a história dos movimentos sociais no Paraná.

Busnardo representou o professor Laercio Sotto Maior, que não pôde participar da audiência. Segundo relato, Manoel Jacinto Correia, membro do Partido Comunista desde 1940, participou da liga camponesa no Paraná e grupos profissionais, depois transformados em sindicatos. “Enfrentou torturadores, mas nunca desistiu. Teve um papel relevante em lutas libertárias. Foi preso 17 vezes e indiciado outras cinco, além de ficar anos na clandestinidade. Essa homenagem tem tudo a ver com os trabalhos desta comissão”, pontuou Luiz Fernando Busnardo.

Claudio Benito Antunes Ribeiro

O jornalista e advogado Claudio Ribeiro foi o primeiro a prestar depoimento sobre sua atuação no movimento de redemocratização do Brasil. Ribeiro participou ativamente do comício pelas “Diretas Já” na Boca Maldita, em 1984. “O golpe militar mudou formas e estilo de vida dos brasileiros, em especial ao número de pessoas que foram protagonistas e testemunhas dos anos de repressão. Não me esquivei, não parei de sonhar nem de lutar. Sou de uma geração que se entregou na busca de uma sociedade mais justa, igualitária e feliz para nosso país”, pontuou.

Segundo Ribeiro, resquícios da ditadura militar ainda são sentidos na sociedade atual. “Existe um desrespeito ao cidadão, fruto e herança daquele regime, como a dificuldade de entrar num órgão público ou o sumiço do pedreiro Amarildo no Rio de Janeiro. Quem não reflete sobre isso não possui consciência crítica da sociedade”, reforçou.

Hiran Ramos de Oliveira

Foi relatado ainda a perseguição e pressão psicológica sofrida pela família Oliveira, durante o regime militar. O depoimento foi feito pelo filho de Hiran, Cyro Viegas de Oliveira. Cyro valeu-se de documentos e diários de família. Hiran Ramos de Oliveira era professor e recém-casado quando foi preso, aos 24 anos, no quartel da Praça Rui Barbosa. “Meu pai não sofreu tortura física, mas minha família foi perseguida pelo regime”, declarou.

Hiran de Oliveira contribuiu muito para a educação paranaense, ministrando cursos de formação para professores e sendo autor de livros didáticos. “Desenvolveu uma cartilha de alfabetização a partir da metodologia de Paulo Freire, baseada na sazonalidade da agricultura paranaense. Este método permitia que as crianças fossem para a escola e depois pudessem ajudar os pais na lavoura”, relatou.