Câmara homenageia Olavo de Carvalho

por João Cândido Martins de Oliveira Santos — publicado 27/04/2023 09h15, última modificação 27/04/2023 09h15
Iniciativa do vereador Eder Borges (PP) reuniu seguidores do escritor falecido em 2022.
Câmara homenageia Olavo de Carvalho

Nesta terça-feira (25) , a Câmara Municipal de Curitiba homenageou postumamente o escritor e professor Olavo de Carvalho. A iniciativa foi do vereador Eder Borges. (Foto: Carlos Costa/CMC)

Nesta terça-feira (25), a Câmara Municipal de Curitiba promoveu uma homenagem póstuma a Olavo de Carvalho (1947/2022), escritor e professor do Curso Online de Filosofia (COF), autor de livros de repercussão como “O jardim das aflições” (1995) e “O imbecil coletivo” (1996). O canal oficial de Olavo no Youtube contabiliza mais de um milhão de seguidores. A sessão foi presidida pelo vereador Eder Borges (PP), proponente da homenagem, e a mesa foi composta pelo professor Paulo Henrique; Ivan Ruppel, professor e teólogo; Jacyr Leal Júnior, médico obstetra, escritor e palestrante; Marlon Belotti, economista e assessor parlamentar; Além dos palestrantes, ex-alunos de Olavo de Carvalho prestaram depoimentos sobre o escritor.

Saudação
Para o vereador Eder Borges, a cerimônia em homenagem a Olavo de Carvalho tem um simbolismo especial. “A direita brasileira começou a existir com Olavo. Antes dele, os brasileiros eram obrigados a escolher entre comunistas e sociais-democratas. Olavo apresentou uma nova alternativa”, disse o vereador. Borges afirmou que essa compreensão da direita como opção política fez com que as pessoas “saíssem das cavernas”, numa alusão ao Mito da Caverna, proposto pelo filósofo Platão. “Fizemos as maiores manifestações da história do país, derrubamos um governo, elegemos o Bolsonaro com a força do povo. A direita passou a existir, mas agora ela está em crise”, constatou o parlamentar.

No entendimento de Borges, a direita precisa viver um recomeço, e exaltar Olavo de Carvalho seria uma forma de retornar à essência. “Não era intenção de Olavo fazer uma revolução. Ele mesmo dizia querer criar alunos e não partidos. Mas hoje temos esse desafio”, afirmou. Borges comentou sobre o processo de aprovar o título de cidadão honorário de Curitiba a Olavo de Carvalho. “Vencemos de virada. A verdade incomoda e, em virtude disso, ele é considerado polêmico e eu também. É minha função e, por isso, estamos aqui. Estamos aguardando que o prefeito Rafael Greca sancione essa cidadania honorária, que é merecida”, defendeu ele. Eder Borges falou sobre o curso que ele desenvolveu. “Trata-se de um curso intensivo com o objetivo de desenvolver a formação político-cultural. O que precisamos saber sobre o ocidente, Grécia, Roma, o surgimento do Cristianismo e, posteriormente, do Protestantismo”, disse o vereador.

Borges esclareceu que a homenagem é uma celebração da obra de Olavo. “A ideia é divulgar a obra e convocar as pessoas que não se conformam com esse desgoverno cleptocrata que desgraçadamente tomou o poder. O PT, quando elegeu Lula, tinha décadas de trabalho de base, e eles são muito focados. Ali tem hierarquia, seriedade no trabalho. Trabalho para o mal, como sabemos, mas eles sabem desenvolver a coisa e ocupam espaços, condomínios, igrejas. Dominaram a CNBB, quem diria,[dominaram a] igreja católica comunista”, observou o parlamentar.

Mais de 40 livros
O professor Paulo Henrique, também conhecido como PH, falou no início da sessão e destacou os escritos de Olavo de Carvalho dedicados às análises espirituais e civilizatórias. Ele contou que, quando era um estudante de economia nos anos 1990, filiou-se ao pensamento liberal da Escola Austríaca. “Estilo Partido Novo. Entrei para o mundo conservador por esse caminho. Admirava o Paulo Francis, um jornalista que destoava do discurso gramsciano hegemônico”, disse Paulo Henrique. De acordo com ele, quando Francis morreu, houve um grande vazio. “Foi quando conheci Olavo, que esteve em Curitiba para proferir uma palestra astrológica. Ele ainda estava na fase tradicionalista. Consegui passar uma tarde com ele, das 14h às 17h e chegamos a tirar uma foto juntos. Enviei a ele para que autografasse, mas a foto se perdeu”, relatou o professor.

Posteriormente, já nos anos 2000, Olavo morou em Curitiba, onde proferiu palestras e deixou, de acordo com o professor Paulo Henrique, uma plêiade de alunos e admiradores, entre eles, o próprio Henrique. “Foi autor de mais de 40 livros, inúmeros artigos e ensaios e ministrou 44 cursos durante os 14 anos de existência do Curso Online de Filosofia, criado por ele. De acordo com Olavo, seus cursos eram superiores às graduações em Humanas das universidades em geral”, afirmou o professor Paulo Henrique. Nascido em Campinas, no ano de 1947, e falecido em Richmond, no estado da Virgínia, Estados Unidos, em 2022, Olavo de Carvalho teve sua atuação política estampada nas capas de todos os jornais do país, lembrou o professor. “Tanto para alunos quanto para opositores, ele estava ingresso nos cânones da filosofia”, declarou.

Autodidata, Olavo teria, segundo o professor Paulo Henrique, lido toda a obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski aos 14 anos. “Na escola”, relatou o professor, “Olavo recusou-se a ler autores brasileiros porque, à época, já seria leitor de Goethe. Deixou a escola porque os professores não lhe despertavam admiração. Em 1966, aos 19 anos, chegou a se filiar ao Partido Comunista Brasileiro, mas desligou-se dois anos depois”. Entre os 17 e os 30 anos atuou como jornalista em órgãos como a Folha da Manhã, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil e Diário do Comércio, tendo trabalhado também como setorista credenciado do governo do estado de São Paulo. “Afastou-se desses veículos”, conforme explicou Paulo Henrique, “por não concordar com a má conduta moral desses ambientes. Nos anos 1980, colaborou em revistas como 4 Rodas, Cláudia e Nova”.

Envolveu-se com a astrologia quando foi convidado para redigir um curso sobre o tema. “Estudos de astrocaracterologia e alquimia estendiam-se às análises da conjuntura política, passando pela psicologia, gnosiologia e religião”, lembrou Henrique. Olavo foi consultor do programa 3ª Visão, transmitido pela extinta TV Manchete. “O programa abordava fenômenos não explicados, curas mediúnicas, etc. Hoje, os estudos de Olavo sobre essa área são usados para depreciá-lo e dizer que ele era um charlatão, majoritariamente por pessoas que sequer leram seus livros ou compreenderam a abrangência desses temas”, afirmou.

De acordo com Henrique, já no Rio, nos anos 1990, Carvalho publicou o artigo “Bandidos iletrados” e promoveu o primeiro curso de filosofia na Casa de Cultura Laura Alvim. “É necessário exaltar seu trabalho de resgate da obra de Otto Maria Carpeaux e de Mário Ferreira dos Santos e, dentro de sua própria obra, pessoalmente destaco as análises de temas espirituais e civilizatórios”. Segundo Paulo Henrique, quando morou em Curitiba, Olavo proferiu palestras na Associação Comercial do Paraná, no Museu Oscar Niemeyer e na PUC, em curso de pós-graduação denominado “Gestão de assuntos públicos”. Fundou o site Mídia Sem Máscara em parceria com o ex-aluno, também professor José Monir Nasser e, em 2005, mudou-se para o Estados Unidos, como correspondente internacional do jornal Diário do Comércio, que era mantido pela Associação Comercial de São Paulo.

Ainda de acordo com Paulo Henrique, muitas vezes Olavo foi alvo de deboche e sofreu, em 2017, acusações por parte de sua filha Heloísa. “Acusações estas que não foram endossadas pelos demais sete filhos. Também foi acusado de ser guru do ex-presidente Bolsonaro e terraplanista. Na verdade, ele encontrou poucas vezes o presidente e chegou a recusar o cargo de ministro da educação”, declarou o professor. “O que ele defendia?”, indagou o palestrante. Conforme explicou Henrique, Olavo era um filósofo em essência que criou seu próprio sistema filosófico baseado em Aristóteles, Goethe e Dostoiévski, entre outros filósofos e escritores.

 Para o professor Paulo Henrique, o desejo de Olavo era buscar a verdade maior e seu entendimento filosófico pode ser sintetizado na frase “filosofia é a unidade do conhecimento na unidade da consciência”. Paulo Henrique esclareceu que as informações ditas por ele sobre Olavo de Carvalho foram extraídas do site Brasil Paralelo. Paulo Henrique encerrou sua fala comentando sobre o curso sobre a cultura Ocidental. “Serão 50 vagas. O curso será gravado, mas não transmitido ao vivo. Ele começa no dia 17 de maio e serão dois encontros por semana, segunda e quarta. As aulas serão ministradas das 19 às 22, com intervalos e o curso se encerrará em 24 de julho”, explicou o professor. 

Depoimentos
Seguiram-se depoimentos de pessoas que admiram e exaltam a obra de Olavo de Carvalho, entre eles, Jacyr Leal, médico obstetra há 30 anos e criador do programa Superconsciência. O médico entende que há uma tendência em se lembrar de aspectos histriônicos de Olavo, mas a lembrança que ele tem do escritor que mais se destaca é a da sua humanidade. Leal não o conheceu pessoalmente, mas ouviu relatos de pessoas que foram vizinhas de Olavo. “Segundo os comentários, ele era um doce”, disse Leal. O médico comentou sobre o programa Superconsciência, que criou em 2003, pelo qual faz palestras para diversos grupos sobre temas variados, entre eles a compreensão da humanidade. “Já são 8 livros, vídeos e workshops”, comentou.

Marlon Belotti foi aluno de Olavo de Carvalho entre 2001 e 2005. Ele relatou que conheceu Olavo no 1º Programa Paranaense de Desenvolvimento Contemporâneo, realizado na ACP. “Ele chegou carregando uns três livros, carteira de cigarro e começou a falar. Ele disse que depois daquela palestra nossas vidas não seriam mais as mesmas e, de fato, foi um marco em nossas vidas e ele nos ensinou muito sobre quase todas as áreas do conhecimento humano: psicologia, literatura, economia e assim por diante”, contou Marlon.

Para ele, a maior influência que Olavo de Carvalho teve em sua vida foi de natureza espiritual. “Aquele convívio foi uma grande oportunidade de me aproximar de Deus”, disse Belotti. Walmor Grade, que também é ex-aluno de Carvalho, disse que sua vida mudou após conhecer o trabalho e o pensamento do escritor, por meio de seu livro “O imbecil coletivo”. Ao final da celebração, foram projetados vídeos com depoimentos dos filhos de Olavo de Carvalho.