Câmara comemora os 54 anos da Casa do Estudante Luterano

por João Cândido Martins | Revisão: Ricardo Marques — publicado 29/02/2024 16h35, última modificação 29/02/2024 17h05
Celu já abrigou em torno de 2.500 estudantes. Para a pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFPR, as casas de estudantes contribuem para a diminuição da evasão escolar.
Câmara comemora os 54 anos da Casa do Estudante Luterano

Os 54 anos de fundação da Casa do Estudante Luterano (Celu) foram comemorados em sessão solene na Câmara de Curitiba. (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Os 54 anos da Casa do Estudante Luterano (Celu) foram comemorados pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC) em sessão solene realizada na noite desta quarta-feira (28). A iniciativa do evento foi do vereador Bruno Pessuti (Pode). Além dele, a mesa foi composta por: Diogo de Ávila Anunciação, recém-empossado presidente da Celu ; Roberto Godoy, ex-presidente da Celu, cuja gestão se encerrou recentemente; Edson Lao, chefe de gabinete do deputado estadual Luis Corti; Wellington Gerolani, representante da deputada estadual Ana Júlia; Carlos Eduardo da Costa, representante da Igreja Luterana Comunidade do Redentor; e Eumir Tomé, ex-morador e presidente da Associação dos ex-Moradores da Celu. Também esteve presente o vereador Mauro Bobato (Pode).

Assista à homenagem no Canal da Câmara no Youtube.

Veja as fotos do evento no Flickr da Câmara. 

Saudação

Bruno Pessuti iniciou sua saudação declarando que as casas de estudantes fazem parte de sua vida. “Quando meu pai veio de Jardim Alegre para Curitiba, para estudar veterinária na UFPR, residiu na CEU e presidiu a entidade. Foi a primeira função pública que ele exerceu”, disse o vereador referindo-se a seu pai, Orlando Pessuti, ex-governador do Paraná. Pessuti comentou que fez uma visita à Celu e, nessa ocasião, pôde constatar que as casas de estudantes são oportunidades de crescimento que podem gerar futuras lideranças. 

De acordo com o vereador, a Celu foi fundada em 28 de fevereiro de 1970, com o objetivo de proporcionar um ambiente sadio, humano e com condições de estudo para estudantes que precisavam de moradia durante o tempo em que frequentassem os cursos universitários de Curitiba. Ele salientou que, embora seja autogerida, a Celu tem o apoio da Igreja Luterana. “Trata-se de uma entidade filantrópica que atende estudantes sem qualquer distinção de raça, cor, credo religioso ou orientação política, sendo um ambiente propício para o crescimento pessoal e profissional de estudantes provenientes de várias regiões do Brasil e, também, do exterior”, finalizou.

A importância das casas de estudantes no auxílio estudantil

Diogo de Ávila Anunciação, atual presidente da Celu, agradeceu a homenagem que, para ele, contempla todas as casas de estudantes em atividade em Curitiba. “Iniciamos um processo de retomada de contatos entre as casas de estudantes, pois todas sofreram um forte impacto durante a pandemia”, disse. Anunciação também frisou a importância das casas de estudantes no auxílio estudantil e agradeceu o apoio da Associação dos Ex-Moradores da Celu. “Espero que até setembro, no fim da minha gestão, ainda vamos conseguir implantar muitas melhorias na Casa. Tenho muito a aprender com vocês. As pessoas passam, mas a Casa fica. Viva a Celu”, finalizou.

Ex-presidente da Celu, Roberto Godoy relatou que casa tornou possível sua permanência em Curitiba, quando ingressou na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Na Celu senti um aconchego, tive uma identificação, sem tirar o mérito das demais casas de estudantes, mas escolhi morar lá”, contou. Ele disse que teve um grande aprendizado ao ocupar a presidência da Celu e lembrou algumas conquistas da sua gestão, como, por exemplo, a abertura de um canal direto com a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) da UFPR , o que tornou mais célere o atendimento aos estudantes que pleiteiam moradia. 

Para Giocondo Lacerda, estudante de direito na UFPR e morador da Celu, o espaço é um reflexo dos seus moradores, mas também é um fator de mudanças na vida desses moradores. “A Celu evolui para ser uma Casa mais democrática, antiautoritária, antirracista, uma casa que valoriza as diferenças, uma Casa cada vez mais LGBTI, com gays, bissexuais, várias pessoas de muitas orientações sexuais e que são respeitadas e tratadas normalmente”, afirmou. 

O papel das casas de estudantes no combate à evasão escolar

A Celu está fazendo 54 anos, mas eu também estou recebendo presentes maravilhosos aqui”, disse a professora Maria Rita de Assis Cézar, pró-reitora de assuntos estudantis da Universidade Federal do Paraná. “[Os presentes] são essas declarações de afeto pelo trabalho que a gente realiza na pró-reitoria de assuntos estudantis, sob a direção do nosso reitor Marcelo Ricardo Fonseca”. Maria Rita, que é professora na UFPR há 25 anos, disse que, quando chegou a Curitiba, desconhecia as casas de estudantes. “Eu conhecia o modelo utilizado pela Universidade de Campinas (Unicamp), que custeava a construção e a manutenção de moradias estudantis, cujo funcionamento era muito diferente do que vemos na organização das Casas”, disse.

Ela comentou que as universidades passaram por um período difícil, mas essas entidades já recuperaram sua posição simbólica e até seus orçamentos. “O orçamento da Universidade no início de 2023 era a metade do valor do orçamento de 2016. Decidiriam cortar porque alguém disse que seria uma balbúrdia. Mas, passado esse momento e retomada a energia, vamos poder ajudar mais, até do ponto de vista financeiro, no sentido de melhorar as condições dos estudantes”, declarou a professora. Para ela, as casas de estudantes atuam no combate à evasão estudantil. “A evasão é um flagelo. A UFPR tem uma taxa de 13% [de evasão], uma das menores do país (embora seja considerada alta por nós que trabalhamos na entidade). Mas o patamar de evasão médio das universidades brasileiras é de 20%”, apontou a professora.

De acordo com Maria Rita, a história da assistência estudantil se confunde com a histórias da própria universidade. “Essa assistência surgiu no âmbito do apoio aos filhos de uma elite branca que ocupava as vagas. Hoje, quando falamos em cotas para estudantes, trata-se de uma revolução inclusiva, mas as primeiras cotas para estudantes instituídas no Brasil eram voltadas para filhos de privilegiados. Um exemplo foi a chamada ‘Cota do Boi’, destinada aos estudantes filhos de criadores de gado. Essa cota existiu até o começo dos anos 80”. Maria Rita entende que hoje a universidade hoje é mais democrática, sendo aberta a toda a população brasileira. “E vocês, das Casas, fazem esse papel de acolhimento”, concluiu.

A Celu possibilita a realização do sonho de jovens estudantes

Carlos Eduardo da Costa, representante da Igreja Luterana Comunidade do Redentor, localizada no cruzamento entre as ruas Trajano Reis e Carlos Cavalcanti, falou em nome da Igreja. “A viabilização da Celu se deu com o apoio da Igreja Luterana, pois esse é o dever da Igreja. Jesus nos ensinou a servir”. Para ele, a Igreja desempenha um papel importante ao apoiar o sonho de jovens estudantes que não poderiam levar adiante seus estudos desprovidos de condições de moradia em Curitiba.

Para Wellington Gerolani, representante da deputada estadual Ana Júlia, é necessário valorizar as casas de estudantes, por meio de políticas públicas que, na prática, são construídas pelos próprios estudantes. Ele lembrou que a Universidade Federal do Paraná completa 112 anos de existência em 2024. “Causa um estranhamento que a UFPR, primeira universidade criada no Brasil, tenha surgido mais de 400 anos após o descobrimento da Brasil”, observou Gerolani. Ele também comentou que, inicialmente, as universidades eram frequentadas pela elite financeira e, aos poucos, pessoas menos abastadas começaram a ter espaço. “Imagino as dificuldades enfrentadas por quem vinha do interior para estudar, principalmente no que se refere à moradia. Daí a importância de entidades como a Celu, fundada há 54 anos pela Igreja Luterana". 

Edson Alves, representante do deputado estadual Luis Corti, declarou que a Celu sempre foi protagonista na promoção da integração entre as Casas. Ele lembrou da sua atuação como diretor do "Café da manhã da Celu". “Era uma tarefa difícil, inclusive porque envolvia a prestação de contas. Foi um aprendizado”, disse ele. Para Edson, a Celu desempenha um papel de formação de caráter para seus moradores, modelando líderes que, no futuro, vão contribuir de forma eficiente para a sociedade.

Também fizeram uso da palavra: Ana Souza, representando a Casa do Estudante Universitário (CEU); Aime Viana, vice-presidente da Casa do Estudante Nipo-Brasileiro de Curitiba (Cenebrac) e Taissa Kruger, representante do Lar da Acadêmica de Curitiba (LAC).

Premiações

Diogo de Ávila Anunciação, atual presidente da Celu, recebeu a homenagem à entidade. Também foi entregue, pelos estudantes moradores da Celu, o prêmio Richard Wangen à Tia Vanete, funcionária da Celu. Richard Wangen foi o fundador da Casa, em 1970.