"A questão das fake news é a educação", diz consultor em seminário na CMC

por Assessoria Comunicação publicado 06/11/2018 17h00, última modificação 03/11/2021 07h02

“Projetos de lei não são suficientes para brecar essa onda de fake news; até porque a nossa jurisdição, as nossas leis, não se aplicam a esses servidores, a essas empresas como Facebook, Twitter, Whatsapp, que rodam países com condições diferentes da nossa”, afirmou o consultor em segurança digital, Daniel Nascimento, na tarde desta terça-feira (6), no auditório da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Ele participou do seminário “Fake News e Segurança Digital Voltada para a Administração Pública”, promovido pelo vereador Bruno Pessuti (PSD), que defendeu que “as notícias falsas sempre existiram, e hoje, com a facilidade de acesso à informação, têm se multiplicado de maneira exponencial, o que acabou, inclusive, influenciando nas eleições”.

Nascimento, que na adolescência ficou conhecido como o hacker que invadiu servidores da Telemar e deixou o Nordeste sem internet, atualmente tem uma empresa especializada em segurança e soluções digitais. Ele defendeu a educação de estudantes e da sociedade para que confiram as informações antes de repassá-las à frente ou formar suas opiniões. “Tendo isso em vista nós criamos o projeto Fake News nas Escolas, para ensinar a esses jovens que tem que haver a averiguação por parte de jornalistas, porque estas são as pessoas que estudaram e se prepararam para isso.”

José Le Senechal Neto, presidente do Clube do Estudante, informou que a entidade foi protagonista de campanhas de combate à corrupção como o movimento Fora Derosso, em 2011 – quando pediu a investigação dos contratos de publicidade da Câmara de Curitiba. “O Clube do Estudante se tornou um representante de projetos principalmente em escolas e universidades, e este ano as fake news foi nosso tema nas escolas”. Para ele, “muitos jovens compartilham uma informação sem sequer ler por completo. O objetivo desse projeto foi mostrar a importância de checar a informação. Fomos procurados por escolas no país inteiro, nem estávamos preparados para atender a uma demanda tão grande, foi muito gratificante. Todo o nosso material é disponibilizado às escolas.”

Pessuti complementou que as prefeituras poderiam contribuir neste debate não só nas escolas, “mas por canais de educação oficiais [como mídias nos ônibus]”. Para ele, a Câmara também pode continuar promovendo debates sobre o tema. “Podemos propor políticas públicas, dentro dos nossos limites constitucionais, e o programa dentro da prefeitura surgiria através dessas políticas públicas, para que as crianças possam estar prevenidas nas próximas gerações a combater as fake news.”

Gatilho
“Desenvolvemos um algoritmo e fizemos a primeira pesquisa de fake news no Brasil, e identificamos que a geração Z, que são os nascidos a partir de 97, 98, até 2010, são os mais propensos a crer nas fake news por conta de gatilhos emocionais e também por conta do excesso de pessoas que geram hoje opinião. Então você tem um comediante, que não entende de política, não estudou política, não é um jornalista, tecendo opiniões sobre um órgão público ou uma pessoa pública, formando essa opinião nessa geração”. Segundo Nascimento, para a conclusão do estudo foram analisados mais de 23 mil perfis das redes sociais.

Ele lembrou ainda que as notícias falsas existem muito antes da tecnologia, mas por conta deste recurso ficou mais fácil propagá-las. “Eu posso citar Goebles, posso citar o nazismo, eu posso citar tanta coisa, tanta manipulação que já houve.” O que moveria esta propagação seria o gatilho emocional, “a pessoa acredita no que quer, as pessoas não estão mais dispostas a ouvir e a ler”.

Ferramenta de checagem
Neto reforçou o lançamento de uma plataforma chamada Fake News Autentica, que ainda não está aberta ao público e segue em busca de parcerias. “A DNPontocom, com seu conhecimento de tecnologia, elaborou essa plataforma para ter um espaço seguro para verificar se a notícia é verdadeira ou falsa.” Mas lembrou que houve dificuldade de firmar parcerias para montar a plataforma, que no entanto foi o principal debate nas últimas eleições. “As fake news não só impactaram a eleição brasileira, mas no mundo inteiro. A gente não pode ficar esperando alguém resolver o problema. Quem sabe o estado do Paraná saia na frente e venha em apoio, com as prefeituras, para ter um veículo isento.”

Segurança digital
Durante o seminário, também foi falado sobre segurança digital. “Vejo com muita preocupação a questão da segurança no poder público, a facilidade de se invadir os sistemas”, alertou Nascimento. Bruno Pessuti reiterou a necessidade de se trabalhar para proteger os dados públicos. “A segurança  realmente é mínima e estamos trabalhando um financiamento para conseguir implantar em Curitiba uma Muralha Digital para combater crimes, mas isso tudo tem que estar dentro de um ambiente seguro, porque poderia ser utilizado de maneira equivocada”.

Ele propôs a realização de testes dentro do sistema da Câmara para “encontrar brechas e fazer com que seja mais confiável. Fica aqui o compromisso de elaborarmos o hackaton, para verificarmos os dados da Câmara e quem sabe disso tirarmos ideias para protegê-los.” O parlamentar lembrou de sua participação como relator da CPI do Transporte Coletivo, quando constatou que o sistema de bilhetagem do transporte público de Curitiba “nunca havia sido auditado, não há nenhum controle”.

Também participaram do debate com perguntas e informações Gustavo Tacla, do Conselho de Jovens Empresários da Associação Comercial do Paraná, além de representantes de movimentos sociais, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e jornalistas de periódicos de bairro.