Na CMC, pesquisadora da UFPR reforça campanha contra a dengue

por Pedritta Marihá Garcia | Revisão: Vanusa Paiva — publicado 20/04/2022 13h25, última modificação 20/04/2022 13h25
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR detalhou trabalho em que estuda a biologia do Aedes aegytpi, mosquito transmissor da doença.
Na CMC, pesquisadora da UFPR reforça campanha contra a dengue

Kelly Germano, que realiza a pesquisa sobre o mosquito da dengue, esteve na CMC a convite do vereador Hernani (PSB). (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Um dia após a Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa) declarar que o estado enfrenta uma epidemia de dengue, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) debateu a necessidade do combate e enfrentamento à doença. Na Tribuna Livre desta quarta-feira (20), os vereadores e vereadoras da capital conversaram com Kelly de Oliveira Germano, mestranda do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR, que desenvolve uma pesquisa sobre os mosquitos transmissores, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. 

A convite do vereador Hernani (PSB), por meio do requerimento 076.00010.2022, a pesquisadora – que é mentoreada pela pós-doutora em Parasitologia Molecular, bióloga e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Magda Clara Vieira da Costa Ribeiro – detalhou como tem desenvolvido o trabalho “Exigência térmica e sua influência no desenvolvimento de aedes aegypti e aedes albopictus”, focado no estudo da biologia e no comportamento dos mosquitos transmissores do vírus da dengue em diferentes condições de clima. 

A dengue é, informou Kelly de Oliveira Germano, uma das 17 doenças negligenciadas no mundo e que estão listadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Doenças negligenciadas são causadas por agentes infecciosos e são mais comuns em países tropicais, como o Brasil, a África e a Austrália. Outra característica relevante é que essas doenças, assim como a dengue, atingem em sua maioria pessoas de baixa renda, que sofrem com baixos investimentos em saúde e saneamento básicos. 

No caso da dengue, o vírus é transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopitcus. No Brasil, o principal transmissor é o Aedes aegypti. “O outro vetor, de outra espécie, não há comprovação de transmissão por ele no país; somente na Ásia, África, América do Norte e Europa”, afirmou a pesquisadora. Além da dengue, o Aedes aegypti transmite os vírus da chikungunya, febre amarela e zika. 

Segundo Kelly Germano, o objetivo do seu trabalho é determinar a exigência térmica para as fases imaturas (ovo, larva e pupa) e adultas (alado) das duas espécies de mosquito. Para isso, ela realiza a coleta dos ovos dos insetos através de armadilhas colocadas na casa de moradores; estimula a eclosão dos ovos para obter os adultos; e esses alados são submetidos a experimentos de temperaturas baixas e altas, em diferentes fotoperíodos. “A cada dia, diariamente, faço a análise para checar se os ovos eclodiram, quantos eclodiram, se a larva está se desenvolvendo, se as fêmeas estão colocando mais ovos ou menos ovos em determinada temperatura”. 

A distribuição dos insetos é modelada pelo clima, continuou a convidada. “Taxas de reprodução, de transmissão do vírus e da longevidade dos insetos variam conforme as estações do ano e região do país, assim como cada região do mundo”. De acordo com ela, a taxa de incidência de casos também será diferente conforme a influência do clima no desenvolvimento dos mosquitos, “assim como as medidas de controle, para garantir a efetividade do combate à dengue”. 

Ao estudar a biologia do inseto, conseguimos desvendar os mecanismos de sobrevivência desse inseto, como ele sobrevive em temperaturas baixas, se tem algum mecanismo de sobrevivência? Será que em temperaturas altas ele também tem algum mecanismo? Só estudando a biologia é que vamos descobrir isso. É importante saber como esses mosquitos se desenvolvem, se reproduzem. Através de tudo isso, conseguimos fazer medidas de controle efetivas”, complementou. 

Epidemia de dengue
Nesta terça-feira (19), a Sesa declarou situação de epidemia de dengue no Paraná, com a divulgação de boletim epidemiológico que registrou 14.964 novos casos da doença em relação à semana anterior. Uma epidemia ocorre quando há um aumento significativo no número de casos de uma doença em uma região, estado ou cidade, sem atingir níveis globais. 

Até ontem, o estado já soma 80.004 casos notificados – levantamento que considera o período de 1º de agosto de 2021 até agora. “O documento informa ainda que 365 municípios possuem casos notificados, sendo que 287 tiveram confirmações. Em uma semana foi registrado o aumento de 39,86% nos casos confirmados, passando de 16.560 para 23.161, sem registro de novos óbitos”, aponta a Secretaria de Saúde do Paraná.

Conforme a pesquisadora, em todo o país, somente nas 12 primeiras semanas epidemiológicas de 2022 houve um aumento de 71% dos casos, em comparação com o mesmo período de 2021. Até o momento, já foram registrados 233 casos de dengue grave (DG), 2.435 casos de dengue com sinais de alarme (DS) e 70 óbitos. No Paraná, até agora, foram 23 casos de DG, 335 casos de DSA e 5 óbitos. Das 32 notificações de dengue em Curitiba, nenhuma evoluiu para óbito. 

A Câmara de Curitiba aderiu, em fevereiro passado, à campanha “Aqui Mosquito Não Entra”, iniciativa do Sesc Paraná de combate ao mosquito Aedes aegypti. A melhor forma de prevenir da dengue, reforçou a Sesa, é evitar a proliferação do Aedes aegypti, vetor da doença e de outras arboviroses, como a zika e a chikungunya. Para isso, é necessário eliminar os criadouros do mosquito – ou seja, a água parada em locais como vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem manutenção e até mesmo os pequenos recipientes, a exemplo das tampas de garrafas. 

Debate em plenário
Infelizmente a dengue voltou aos noticiários, em nossa cidade e também em nosso estado. […] De agosto de 2021 até agora já são mais de 80 mil casos [registrados] no estado. Essa Tribuna Livre será importante para que nós, legisladores, possamos pensar melhor em políticas públicas para a prevenção desta e de outras doenças em nossa cidade”, destacou Hernani. Propositor da TL de hoje, ele perguntou à Kelly Germano se quem é infectado pelo vírus, pode se manter assintomático. Segundo a pesquisadora, casos de pessoas assintomáticas são raros, mas existem. 

=>> Confira aqui as imagens da Tribuna Livre de hoje.

Além de Hernani, outros 8 parlamentares participaram do debate. Serginho do Posto (União), por exemplo, questionou se atualmente a dengue é mais letal que a malária – doença que também é transmitida pelo Aedes aegypti. “Depende do local. Se falarmos da África, a dengue não é mais letal que a malária”, respondeu a mestranda. Já no caso do Brasil, onde o maior número de casos da malária ocorre na região norte, ela explicou que a letalidade da dengue é superior em todo o país. Para Sidnei Toaldo (Patriota), que indagou sobre a diferença entre as picadas de um mosquito comum e a do Aedes aegypti, ela disse que “não há como distinguir, porque são semelhantes”. 

À vereadora Professora Josete (PT), a convidada reforçou a necessidade de mais investimentos em saneamento básico não só para combater a dengue, mas também outras parasitoses. “O mosquito da dengue preferencialmente coloca seus ovos em água limpa, mas há estudos que comprovam que ele também coloca seus ovos em água suja, no esgoto". Sobre quais seriam as alternativas para controle da doença, pergunta feita por Marcos Vieira (PDT), Kelly Germano elencou a vacina – em desenvolvimento no Brasil e que precisa ser efetiva na prevenção dos 4 sorotipos da dengue – e a redução da população do Aedes aegypti. 

Erradicação do mosquito não é [o assunto] mais falado. Em qualquer congresso voltado para a dengue ou controle do mosquito, não se fala mais em erradicação, mas em redução do mosquito. E a redução se faz ensinando as pessoas a não deixarem a água parada. Pessoas mais velhas têm costume de pegar a água da chuva para lavar o quintal e acabam deixando baldes e bacias descobertos. Elas pensam que isso não tem problema e isso já é um criadouro para que uma fêmea coloque seus ovos”, completou a convidada. Também participaram da discussão, Jornalista Márcio Barros (PSD), Noemia Rocha (MDB), Pastor Marciano Alves (Solidariedade) e Professor Euler (MDB).