Ponte Preta precisa ser recuperada

por Assessoria Comunicação publicado 06/11/2009 17h15, última modificação 28/06/2021 09h07
Preocupado com a depredação da Ponte Preta, no centro de Curitiba, o vereador Jair Cézar (PSDB) promoveu, nesta semana, debate entre profissionais das áreas de engenharia civil, preservação do patrimônio histórico, arquitetura e urbanismo. O evento “A preservação da Ponte Preta na Curitiba Contemporânea” marca uma nova estratégia do parlamentar no enfrentamento dos problemas da região, como a presença de moradores de rua morando embaixo da ponte, os constantes acidentes que ocorrem com veículos altos e a depredação do local, principalmente a pichação e a ferrugem.
“Ainda defendo que a Ponte Preta deva ser alteada em um metro, para melhorar o tráfego de veículos. O que mudou é que agora também passo a defender a revitalização de toda a área, a recuperação da estrutura. Daí, quando pudermos erguê-la, já faremos isso com ela boa”, afirma Jair Cézar. O parlamentar argumenta que a administração municipal poderia realizar no local uma parceria com setores privados, semelhante à realizada no Paço da Liberdade, da praça Generoso Marques, recentemente recuperado.
O parlamentar argumenta que a Ponte Preta pode ser transformada em um novo ponto turístico, com a construção de jardins no seu entorno, servindo para a transposição de pedestres através da rua João Negrão ou como passarela para o Shopping Estação.
Debate
No decorrer das explanações dos convidados presentes, houve interligação entre os assuntos abordados e até uma certa sintonia nas conclusões dos palestrantes. A chefe da Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Estado, Rosina Parchen, falou que a “decisão do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural e Artístico, por diversos motivos, é contra o alteamento da ponte.” Complementou dizendo que essa já é uma postura que persiste há tempos, por parte do Conselho.
O diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná e professor de Engenharia Civil da PUC-PR, Joel Krüger, salientou que, tecnicamente, o alteamento da ponte é possível, porém “deve-se estar atento a quanto se está disposto a pagar”, uma vez que essa obra pode ser feita de diversas formas. “Dependendo de qual tecnologia for empregada, o custo pode variar”, explicou Krüger.
O diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-PR, Carlos Hardt, reafirmou a viabilidade técnica do alteamento da ponte (de 3,6m) e questionou se o aumento de 80 centímetros vai realmente solucionar os problemas com acidentes. Carlos Hardt convidou o professor da PUC-PR e membro do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Cláudio Forte Maiolino, a discorrer sobre questão paisagística.
Cláudio Forte defendeu que “usamos o mesmo discurso que começou no século 19, onde é preciso destruir o patrimônio para construir estradas. O desenvolvimento da cidade é sempre uma desculpa.” Citou diversos exemplos onde o argumento da modernização tirou até a função de locais urbanos, acabando com a preservação da memória, como o próprio Largo da Ordem. “O que nos importa? O valor imaterial ou o progresso?”, questionou Forte.
A representante do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Maria da Graça Santos, exibiu imagens com exemplos europeus e nacionais onde o Patrimônio Histórico convive na paisagem urbana, mesmo gerando certos impasses de acessibilidade.
O diretor do Setor de Tecnologia da UTFPR, Mauro Lacerda Santos Filho, acredita que é preciso pensar em três aspectos: possibilidade de realização da obra/construção, sustentabilidade e manutenção. “Se não quisermos ver a ponte ir abaixo, é importante estarmos atentos à sua manutenção”, explicou Santos Filho, que exibiu, entre outros, o exemplo da ponte Hercílio Luz, localizada em Florianópolis (SC), que perdeu sua função original por falta de manutenção.
O representante do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Ricardo Bindo, pontuou a necessidade em esclarecer de quem é o domínio da Ponte Preta, pois diversos órgãos opinam sobre ela sem uma visão muito precisa a respeito de até onde se cada uma dessas entidades têm propriedade de deliberar a respeito.
Marcos Arndt, representante do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo, defendeu que é preciso pensar a longo prazo. “Sem a valorização, como as gerações futuras vão compreender a importância do local?”, questionou, além de também exibir fotos de viadutos e pontes que foram levantadas.
Encerrando as explanações, o representante do curso de Key Imaguire Junior declarou que a Ponte Preta é uma parte do eixo ferroviário de Curitiba que jamais deveria sofrer grandes intervenções. “O shopping que fica próximo à Ponte Preta é uma agressão ao local histórico”, enfatizou. “Esse caminho seria para as futuras gerações um retrato da época em que a ferrovia trouxe desenvolvimento à cidade”, complementou.