Erika Hilton e Donald Trump: Câmara de Curitiba aprova duas moções
Erika Hilton e Donald Trump foram objeto de moções da Câmara de Curitiba nesta terça. (Fotos da sessão: Rodrigo Fonseca/CMC)
Duas votações ocorridas nesta terça-feira (4) puseram em choque alas distintas de vereadores na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), indicando o acaloramento das discussões na recém-iniciada 19ª legislatura. O primeiro debate foi motivado por uma moção de protesto apresentada pelo vereador Bruno Secco (PMB), com a qual ele obteve o repúdio da CMC a um vídeo publicado pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) sobre mudanças na fiscalização via sistema de pagamentos instantâneos (Pix).
Secco convenceu a maioria dos vereadores na sessão plenária de que, ao tentar qualificar como fake news um vídeo do também deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o Pix, Erika Hilton teria “propagado informações falsas e distorcidas”. Ele cita como exemplo “sua declaração sobre o Governo Lula ‘nunca ter defendido a taxação do Pix’, o que é uma informação distorcida, pois a ideia do governo sempre foi monitorar a renda do brasileiro através de transações feitas pelo Pix” (413.00002.2025).A reação veio da Professora Angela (PSOL), que acusou a moção de protesto de distorcer a realidade, pois, na versão da parlamentar, quem teria propagado fake news havia sido Nikolas Ferreira e não Erika Hilton. “Quero que me expliquem quais foram as mentiras dela no vídeo, porque, para mim, ela só desmentiu fake news. Qual é a motivação dessa moção de repúdio se ela não mentiu no vídeo?”, questionou, alegando que, no seu entendimento, a explicação seria transfobia, em razão de Hilton ser uma mulher negra trans. João Bettega (União) contrapôs dizendo que a transfobia é crime e Angela estaria fazendo falsa imputação de crime a Secco.
“O que a Erika Hilton fez naquele vídeo foi mentir e passar pano para o governo. Não teve nada de transfobia. Talvez seja por isso que o meu vídeo, refutando ela, atingiu quase 2 milhões de visualizações, enquanto o vídeo da vereadora do PSOL, me acusando de transfóbico, não bateu nem 10 mil, porque a verdade está do nosso lado e não do lado deles. Nikolas nunca falou que o Pix seria taxado e a Erika Hilton o acusou de mentir, quando não havia mentira nenhuma no vídeo”, disse Guilherme Kilter (Novo).
Giorgia Prates - Mandata Preta (PT) entrou no debate afirmando que “o que merece repúdio é essa tentativa descarada de uma censura embalada em papel timbrado, travestida de moção oficial”. “O vereador [Bruno Secco] nos brinda com uma peça política digna de prêmio de desinformação. Ele quer nos fazer acreditar que uma parlamentar que combate fake news [mentiu], enquanto um notório propagador de desinformação, Nikolas Ferreira, deveria ser exaltado como fonte de verdade”, completou.
Câmara aprovou moção parabenizando Trump pela eleição nos EUA
De autoria do vereador Eder Borges (PL), a segunda discussão acalorada na segunda parte da Ordem do Dia foi a aprovação de uma moção de apoio, parabenizando Donald Trump pela vitória na eleição presidencial dos Estados Unidos da América (EUA).
A discussão tomou proporções maiores por se misturar a opiniões sobre uma fala anterior da vereadora Professora Angela (PSOL) sobre o conflito na Palestina. Na ocasião, ela chamou o Estado de Israel de “assassino” por suas ações militares resultarem na morte de milhares de pessoas na Faixa de Gaza. “Estamos comemorando a eleição de Donald Trump, que veio para trazer paz ao Oriente Médio”, disse Borges.
“Venceu a maioria [nos EUA]. Queremos reforçar os laços históricos de amizade do nosso país com os EUA. Desejamos uma excelente gestão e que ele coloque o mundo nos trilhos”, continuou Eder Borges. Argumentando a favor da moção, João Bettega (União) congratulou Trump por lá, nos EUA, “fazer um combate à agenda radical do movimento LGBT”. Já a Delegada Tathiana Guzella (União) defendeu que Professora Angela, ao se referir a Israel, ampliasse seus estudos, pois “é uma questão ideológica bastante complexa”. “Eu não estudo pela Bíblia, eu estudo pela história. São mais de 20 mil crianças assassinadas em Gaza”, rebateu a vereadora do PSOL.Vanda de Assis (PT) declarou que não apoiaria moção favorável “a um presidente [Trump] que comunga com nazistas” e pediu mais amor próprio ao autor do requerimento. “O que a gente ganha aplaudindo um político que nos despreza? Ele vai mandar investimentos para a cidade? Vai melhorar o transporte público? Vai resolver o problema de moradia? Ou será que a moção de apoio é apenas um grande exercício de bajulação colonial, fruto de uma síndrome de vira-lata institucionalizada? Trump não respeita o Brasil, os brasileiros e nem a democracia”, acrescentou Giorgia Prates - Mandata Preta (PT).
No bloco dos vereadores manifestamente contrários à moção, um argumento recorrente foi o de que, enquanto a Câmara de Curitiba discute os EUA, há questões locais mais urgentes a serem debatidas. Camilla Gonda (PSB) citou os alagamentos decorrentes das últimas chuvas fortes que caíram sobre a capital do Paraná e as filas de especialidade do SUS, como a colonoscopia e a oftalmologia, com dezenas de milhares de pessoas aguardando por atendimento. “Essa discussão [dos EUA] é irrelevante para o nosso trabalho”, afirmou. Para Laís Leão, é uma “grandessíssima perda de tempo, que não tem nada a ver com Curitiba”.
As aprovações das moções não foram unânimes, com cinco votos contrários na primeira, de repúdio ao vídeo da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), e sete contrários a outra, de apoio ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Contudo, como a votação se deu de forma simbólica, onde não há registro no painel eletrônico, não é possível discriminar quais parlamentares estavam em plenário, nem como cada um efetivamente votou. Ambas as discussões foram transmitidas ao vivo pelo canal da CMC no YouTube. O Regimento Interno (RI) da CMC prevê dois tipos de moções, que podem ser usadas pelos vereadores para se posicionarem publicamente acerca de acontecimentos locais, nacionais ou internacionais.
Existe a moção de apoio ou desagravo, por meio da qual a Câmara de Curitiba demonstra solidariedade, e há a moção de protesto, usada para marcar a contrariedade do Legislativo acerca de um tema, de uma instituição ou de uma pessoa, e que, em plenário é, por hábito, chamada de moção de repúdio (ainda que o termo não conste no RI). Em ambos os casos, são apenas proposições legislativas que afirmam o posicionamento do órgão e não podem ser confundidas com ações judiciais de nenhum tipo.
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