Especialistas apontam caminhos para integrar CMC ao Centro de Curitiba

por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques — publicado 13/11/2025 17h45, última modificação 14/11/2025 08h29
Palestras de Washington Fajardo (BID) e de Carla Choma (Ippuc) destacam o papel da arquitetura, do patrimônio e do espaço público na revitalização do Centro.
Especialistas apontam caminhos para integrar CMC ao Centro de Curitiba

Para a arquiteta Carla Choma, do Ippuc, o novo prédio da CMC deve irradiar efeitos positivos sobre o Centro. (Fotos: Jean Lucredi/CMC)

 

A preparação do concurso nacional de arquitetura da nova sede da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) ganhou ritmo nesta quinta-feira (13), com duas exposições técnicas que ajudaram a traçar os princípios urbanos e as referências estéticas do futuro complexo. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e a arquiteta Carla Choma, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), mostraram como o projeto poderá reorganizar o entorno do Palácio Rio Branco, estimular vitalidade no Centro e dialogar com o patrimônio histórico.

>> As palestras foram transmitidas ao vivo pelo YouTube; veja

Fajardo: arquitetura como motor de vitalidade urbana

Participando online, o arquiteto Washington Fajardo reforçou que a arquitetura de equipamentos públicos tem capacidade de reorganizar territórios inteiros quando é pensada para além da forma, incorporando usos coletivos e fortalecendo o espaço público. Ele mostrou exemplos de cidades que utilizaram edifícios culturais, administrativos e educacionais como catalisadores para reativar regiões degradadas, destacando que o projeto da nova sede da Câmara tem potencial semelhante para Curitiba.

Fajardo argumentou que preservação e inovação não devem ser tratadas como elementos em conflito. Pelo contrário: a combinação entre patrimônio e arquitetura contemporânea pode revelar novas camadas da cidade, criando relações mais ricas entre passado e futuro. Ele citou casos como o do Museu de Arte do Rio (MAR) para exemplificar como soluções contemporâneas podem conviver de forma harmoniosa com edificações históricas, ampliando o valor cultural e urbanístico do entorno.

O urbanista destacou a importância de qualidades que tornam a cidade mais convidativa, como térreos ativos, transparência visual, percursos fluidos e espaços capazes de estimular encontros e permanência. Segundo ele, edifícios institucionais precisam funcionar como peças de integração, não de isolamento. Fajardo reforçou que uma Câmara aberta ao pedestre, com áreas de convivência e relação direta com a rua, contribui para segurança, vitalidade e para o fortalecimento da vida cívica.

Para Fajardo, o concurso público que escolherá o projeto arquitetônico deve incentivar criatividade, soluções sustentáveis e compromisso com a escala humana. Ele afirmou que o processo participativo adotado pela CMC — com oficinas, debates e escuta técnica — é um avanço importante para garantir que o resultado final traduza os valores da cidade: “Quando o projeto nasce do diálogo público e respeita as camadas da cidade, ele se torna um novo marco. E, quando é bem implantado, transforma a dinâmica urbana ao redor”, concluiu.

Choma: história, território e diretrizes para o novo complexo

A arquiteta Carla Choma, do Ippuc, apresentou uma leitura aprofundada da evolução urbana da área onde será implantada a nova sede da Câmara, contextualizando desde a chegada da ferrovia, no século XIX, até as dinâmicas atuais da Barão do Rio Branco. Ela explicou como o tecido histórico, formado por edificações públicas, comércio tradicional e fluxos intensos de pedestres, cria um cenário complexo que requer soluções arquitetônicas sensíveis e integradoras.

Choma detalhou como a região passou por ciclos de adensamento, esvaziamento e reocupação, e como a presença de universidades, escolas, escritórios e espaços culturais pode funcionar como elemento estruturador do novo complexo legislativo. Ao apresentar mapas e imagens históricas, ela ressaltou que o projeto precisa considerar essa diversidade de usos, garantindo que o novo edifício contribua para a continuidade da vida urbana, e não para sua fragmentação.

A arquiteta também exibiu as principais diretrizes do programa Curitiba de Volta ao Centro, que orientará intervenções no entorno imediato, como a ampliação da Praça Eufrásio Correia, o remanejamento das estações-tubo da 7 de Setembro, a requalificação das travessias e a criação de rotas mais seguras para o pedestre. Segundo ela, essas intervenções são fundamentais para permitir que o novo complexo se conecte à malha urbana de forma orgânica, favorecendo circulação, acessibilidade e convivência.

Por fim, Choma defendeu que a nova sede da Câmara seja tratada como uma acupuntura urbana, capaz de irradiar efeitos positivos sobre o Centro. Isso inclui estímulo ao uso misto, ativação de fachadas, valorização do patrimônio histórico e criação de espaços abertos ao público. “O novo complexo não é apenas um prédio. Ele pode ser o ponto que desencadeia transformações positivas, gerando vida, segurança e movimento”, afirmou, reforçando que as contribuições coletadas na oficina serão incorporadas ao relatório técnico que embasará o edital do concurso de arquitetura.